Antes de mais, quero deixar claro que este texto não é contra ninguém em particular, embora admita que seja legítimo discutirem o timing. E para resolver já isto, acho que o timing é este. E o facto do timing ser agora e não daqui a uns dias, umas semanas ou uns  meses é responsabilidade exclusiva dos alvos deste post: a equipa de futebol. E começo com uma pergunta: Porque é que ganhamos tanto nas modalidades e  tão pouco no futebol? Despachando já a corrupção reinante no nosso burgo e a incompetência que caracterizou a gestão do nosso futebol num passado recente, há outra coisa que me põe a pensar e que explicarei de seguida.

EXIGÊNCIA. Há falta de cultura de exigência do futebol. E não se trata dos dirigentes exigirem dos jogadores e treinadores, isso sabemos todos que já existe. Felizmente. Questiono-me se a exigência dos jogadores em relação a eles próprios é adequada à exigência que o clube, através dos seus dirigentes, tem para com eles. Porque quando um patrão exige este Mundo e o outro e o funcionário exige de si próprio apenas chegar vivo a casa no final do dia,  alguma coisa não está bem. Ou o patrão exige demais ou o funcionário está acomodado. A pergunta que eu faço é: Será que os jogadores meteram na cabeça, interiorizaram, escreveram nos posters dos seus quartos ou na lista de tarefas do seu smartphone que têm de lutar todos os dias para ser campeões? Será que o segundo lugar no ano passado chegou-lhes?

Como não sou adivinho, não sei. Mas posso dar a minha opinião que, aviso já, não é agradável. Para os jogadores, salvo algumas excepções, jogar no Sporting é apenas um meio de exercerem a sua profissão. Os mais ambiciosos, pensam no salto que querem dar. Os menos ambiciosos, pensam em manter-se no grupo para não descerem um patamar na carreira. O foco está, quase sempre, no “Eu” em vez de no “Nós”. Não me interpretem mal, é da vida deles que estamos a falar, claro que têm de pensar na sua carreira. Mas não é nem nunca será assim que se fazem campeões. Profissionais, sim. Campeões, nunca. E quem está no Sporting não é para ser profissional. É para ser campeão. Ser profissional é (ou devia, né Shika?) ser condição primeira para se envergar o manto sagrado. Muitos acharão injusto, em face daquilo que a equipa fez no ano passado, eu simplesmente acho estranho como é que uma equipa muito melhor do que a do ano passado está a render muito menos do que a sua antecessora. Champions? Talvez. Provavelmente. Será só isso? Eu acho que não.

Quando olho para as modalidades, e ainda há dias vi o Hóquei, pensei: “como é possível que, uma equipa que acabou de ser formada, no seu primeiro ano de trabalho no Sporting, revele um espírito e uma vontade tão grande de ganharem troféus?” E o futsal? Já viram como eles ficam fodidos, não é quando perdem (porque felizmente isso acontece muito pouco) mas quando sofrem um golo? E o andebol? Com uma equipa com menos orçamento, lutámos o ano passado pelo título e ganhámos a Taça. E o atletismo? E todos os outros que passam uma vida inteira a agradecer (com troféus e não com palavras) a oportunidade de trabalharem no Sporting? Para mim, está tudo no COMPROMISSO. É isto que as modalidades têm SEMPRE e o futebol tem umas vezes e não tem noutras.

A verdade é que isto tem uma explicação muito simples e que se resume numa palavra: Dificuldades. O salário não é principesco, casa para jogar não existe, a vida é exactamente igual a de um qualquer trabalhador comum. Não andam em Ferraris nem em Porsches. Vivem num apartamento normal e pagam renda ou prestação ao banco como toda a gente. As dificuldades do melhor jogador são exactamente as mesmas do pior cepo. Partilham uma experiência difícil, um contexto desfavorável e superam-se em cada treino, em cada jogo. É isto que os torna mais fortes. É isto que os faz quererem mais do que os outros. E é isto que, no final do dia, os conduz às vitórias durante o ano e aos títulos no final do mesmo.

Voltando ao futebol, que dificuldades é que eles têm que os façam crescer? Poucas ou nenhumas. A vida corre-lhes bem. Ganham aquilo que querem, exigem aumentos de ordenado depois de meia dúzia de bons jogos, fazem birras quando lhes chamam à atenção. Acham que o seu dever resume-se a entrar no campo, jogar, agradecer aos adeptos e ir para casa. Esquecem-se que, acima de tudo, o seu dever é GANHAR. Sempre. E quando isso não acontece, vender ao preço da sua própria vida, a derrota ou o empate. São apenas 90 min de um dia que tem 24h em que eles têm de pensar desta forma.  Ninguém quer saber de instagrams e fotos de facebook. O que queremos é que essa união se demonstre em campo e se traduza em vitórias. Porque só num dia muito mau é que perderemos um jogo correndo o mesmo ou até mais do que o adversário. E só num dia extraordinariamente bom é que ganharemos se trabalharmos menos do que o oponente. A qualidade ainda faz a diferença. E qualidade não falta neste plantel.

Acho que o futebol precisa de um banho de realidade. Há jogadores que deviam pensar onde estavam há 2 ou 3 anos atrás. Deviam saber que aquilo que ganharam em tão pouco tempo para as suas carreiras representou 0 (zero) troféus para o clube. E, da minha parte vos digo, vou eu próprio aumentar a minha exigência. A mim, o segundo lugar não me chegou. Orgulhou-me na altura, em face das dificuldades, mas hoje não me chega. Temos um plantel com valor para lutar pelo título. Se hoje estamos em oitavo lugar não é por falta de valor, repito, não é por falta de valor. É por falta de compromisso com o clube e com o objectivo definido. Talvez seja a “bubadeira” do ano passado que esteja a dar uma ressaca fodida, talvez algumas expectativas do defeso tenham saído goradas, não sei. O que eu sei é que o presente é que define o futuro e, com este presente, dificilmente conquistaremos títulos e dificilmente farão transferências. Perdem todos. Portanto, agarrem no vosso enorme talento, juntem tudo numa panela, arregacem as mangas e cozinhem lá um troféu para o Sporting. Ou morram a tentar. E nessa altura terão tudo o que quiserem dos sportinguistas. Menos o apoio. Esse terão sempre, incondicionalmente, joguem bem, joguem mal, corram muito ou corram pouco. Porque nós somos assim.

Dêm a vida uns pelos outros dentro de campo. Se os centrais falharem e levarmos um golo, os avançados têm de os ajudar e marcarem outro. Se os avançados falharem um golo, os centrais têm de se esforçar  para não levarmos nenhum. A defesa começa no ataque e o ataque começa na defesa. Concentração máxima. Sempre. Nunca desistam. Já nos puseram a sonhar este ano. Façam-no outra vez, já em Espinho. E a seguir contra o Maribor. E a seguir, na Liga. E quando as forças faltarem, olhem para as bancadas. Pensem no Sportinguista que vive no Porto ou no Algarve e que fez muitos km só para vos apoiar. Pensem naqueles que vivem o estrangeiro e que dariam tudo para estar ali. Pensem no Fábio e em todos aqueles que decidiram continuar a viver em circunstâncias que ninguém merece. E tenham orgulho em vocês próprios. Nós temos.
Não abandonamos os nossos nas horas difíceis mas também não admitimos que nos abandonem. Mas se não começarem a exigir mais de vocês próprios, cá estaremos nós para exigir. Porque se há alguém que acredita em vocês, se calhar até mais do que vocês próprios, esse alguém são os Sportinguistas.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!