Ando para escrever este texto há muito tempo, mas simplesmente ainda não tinha surgido a semana ideal para o fazer. No entanto, depois do Cherba ter colocado ontem mais um exemplo de glorificação do Benfica, bem patente na vergonhosa (mais uma) capa do Record, não pude deixar de me debruçar sobre os problemas evidentes e sobre as virtudes provadas da nossa formação.

Antes demais, tenho de esclarecer que não tenho qualquer conhecimento privilegiado. Acompanho os nossos jovens porque me começaram a aparecer na imensa base de dados do FM. Depois de os fazer estrelas no mundo virtual, tenho mais é de os acompanhar no mundo real. Vamos a isso então.
Corria época de 2011/2012 (a mais triste da nossa história) quando, ao comando de Vercauteren e Jesualdo Ferreira, sobem à equipa principal Tiago Ilori, Zezinho, Eric, Bruma e Betinho (apenas com uns minutos somados). Estes jovens faziam parte de uma das melhores fornalhas da Academia e ocuparam, durante largos meses, o primeiro lugar da Segunda Liga. Foram uma espécie de luz ao fundo do túnel para todos os sportinguistas, que viram futuro naquelas pérolas.

Na altura tive a oportunidade de escrever, não neste mas noutro tasco: os sportinguistas podem esquecer campeonatos de juniores e juvenis nos próximos anos. E porquê? A partir de o momento em que se interrompeu a formação de tantos jogadores promissores, criámos uma bola de neve que se viria a prolongar muitos anos. Para colmatar a ausência dos melhores da equipa B, teve de se chamar parte do plantel de juniores, que tiveram a ajuda de um ou outro juvenis e por aí adiante. Isso nota-se em jogadores com Chaby e Iuri, por exemplo, que estão naquela geração intermédia e ainda não conseguiram dar o salto competitivo que todos nós desejamos. Notou-se em Betinho, de quem ainda muito esperamos mas que não consegue impor o seu futebol.

O facto de dependermos, de uma momento para o outro, de tantos jogadores da formação, fez com que toda a estrutura abanasse. Não tínhamos preparado um abanão tão grande, até porque foi a crise mais profunda do clube. Este é o real motivo pelo qual tivemos de suprimir algumas lacunas nos juniores com jogadores de fora. Puxar mais um juvenil ou dois, seria continuar uma roda viva que tinha de ser estancada urgentemente.

Não nos pudemos iludir, vamos levar cerca de cinco anos até que tudo volte à ordem normal. As gerações precisam de renovar, os jovens têm de ser tornar jogadores feitos e só aí a triagem voltará a ser feita com clareza. Por muito que nos custe, esta é a triste realidade com que teremos de viver. Os nossos mais novos muito dificilmente se tornarão campeões do seu escalão, porque a qualidade foi dispersa, foi embora ou saltou muitos degraus de uma vez. Mas isso, por si só, não desculpabiliza a estrutura pelos acontecimentos dos últimos tempos.

Parece claro que, na Era Bruno de Carvalho, a gestão da equipa B deixou de ser uma continuação da formação mas sim uma assunção de que se trata de futebol profissional e ponto final. E, por isso mesmo, a equipa B tem sido gerida como se de uma equipa de reservas se tratasse. Para a nova gestão, ali é um espaço para competir mas, mais que isso, rodar o extenso plantel, fazer com que certos jogadores ganhem ritmo e fazer crescer um ou outro craque. Na altura em que Samba (esse mesmo) foi comprado, não existiam opções válidas para além de Rúben Semedo e Nuno Reis. E a verdade é que nenhum destes dois teve a devida oportunidade na equipa principal. Mas comprar Samba foi comprar um jogador barato e pensar “se for bom, excelente, se for mau, adeus”. E esse modelo de pensamento tem deixado aquela equipa numa roda livre de entra e sai, com pouco futebol e muito pouco aproveitamento na equipa principal.

Casos como Ryan Guald e Sacko, julgo eu, são completamente diferentes. A estrutura tem fé que se tornem a curto prazo opções válidas para Marco Silva e que sejam capazes de assumir as rédeas quando as primeiras linhas da equipa tiveram ido embora. Neste lote encontramos também Tobias, Guilherme Oliveira, Chaby, Iuri, Podence e uns nunca vão invalidar outros, porque o ideal será que cresçam todos em conjunto. Mas o que nos faz confusão a todos é ver que os nossos meninos crescem numa equipa completamente fragmentada, sem um caminho traçado que rime com sucesso. Os jogadores que chegam podem fazer parte do sucesso do clube, claro que sim, mas que nunca se atrase uma pérola nossa por isso. Sacko e Gauld sim, Enoh, Samba e Gazela não. Isso é um simples jogo de raspadinha em que esperamos ter a sorte toda e raramente funciona. Comprar para a equipa B, apenas grandes promessas que ainda têm algumas arestas por limar.

Por fim, é com lamento que vejo jogadores como Betinho, Nuno Reis e Esgaio (especialmente estes três) completamente afastados do clube que os formou, quando já provaram mais que uma vez que sentem como poucos aquela camisola e têm qualidade. Ainda vamos muito a tempo, mas não podemos cometer erros do passado e deixar fugir bons jogadores, com amor a este clube, por um negocio momentâneo. Limpar a equipa B, já em Janeiro, para trazer a necessária estabilidade e apostar a sério na integração no futebol profissional das nossas pérolas. Eles já lá estão todos, mas merecem melhor trabalho.

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa