É uma figura amplamente usada por BdC para justificar alguns erros de planeamento ou casualidades infelizes geradas de forma interna. Na sua forma está correcta, qualquer pessoa em qualquer função comete equívocos, principalmente numa fase inicial. No conteúdo, é desapropriada.

Ponto 1, o Sporting não está em fase de crescimento. Já é um enorme clube, entende-se que BdC o queira maior ainda e essa é uma “vontade” que o torna singular e estupidamente útil para a pacatez e tonhice que se vinha a instalar em sucessivas direcções e, porque não dizê-lo, em muitos sócios e adeptos. Mas a principal meta do Sporting não pode ser engordar para gerar mais receitas. Olhando para a estratégia + sócios = + dinheiro, temos de ter uma enorme fé em que existam por aí espalhados 30 ou 40.000 sócios potenciais para que bata certo o plano. De facto, se BdC o conseguir, especialmente se mantiver todos os actuais sócios pagantes, esse sucesso vai trazer provavelmente o dobro do cash flow actual de bilheteira, o problema é que isso resolverá apenas o dia-a-dia e não a capacidade de investimento a longo prazo.

Não estou a desmerecer na utilidade das campanhas de angariações, elas são vitais para a estabilidade de tesouraria, mas o principal crescimento do Sporting, penso eu, não é o de no de sócios pagantes. É minha convicção desde há vários anos que o objectivo principal do clube deveria ser o aperfeiçoamento do seu modelo desportivo. Cada clube tem a sua “alma” o seu espaço dentro de um território competitivo, o Sporting actual tem pouca margem para ter “dores de crescimento”…ou vai, ou racha, como aliás a esmagadora maioria dos clubes nacionais, incluindo e de forma espectacular as “bombas andantes” dos seus eternos rivais, que bastará uma mudança de direcção (nos 2 sentidos da palavra) para explodir e revelar uma verdadeira “pinhata” de propaganda vazia e, claro, dividas insanáveis e insanas. Mas neste aperfeiçoamento, ou se quiserem, especialização num tipo de clube tem de existir a noção clara que não precisamos de lições de ninguém. Não precisamos dos feudos de despotismo de Pinto da Costa, não nos faz falta a propaganda “coreana” dos boys de Vieira, não nos fará bem algum o dogma do império liberal das “contas do clube” nem a tosca venda nos olhos que “uma grande equipa resolve todos os problemas”.

Do momento em que me ponho a pensar até ao ponto em que escrevo, o Sporting será sempre um clube único e muito mais do que “dores de crescimento”, o clube tem é de sair “do armário” e assumir-se de uma vez por todas numa ideia clara do que é, numa afirmação transparente do que quer dos seus sócios, ou seja, de si próprio. A reinvenção permanente do caminho do clube, a não redescoberta da sua “melhor” identidade faz-nos perder tempo e recursos, adiando aquilo que pode ser um compromisso entre clube-sócios-equipas muito mais eficiente do que temos agora. Já foi fabulosamente pior, mas faltam alguns passos…e era tão importante dá-los em breve.
A via presidencial absolutista, por muito boa vontade de BdC não é uma identidade que seja fácil ao Sporting adoptar. Não o foi com João Rocha (como nos esquecemos de tudo o que foi o seu mandato e de todos os que não o gramavam) e só o será com BdC, se e é mesmo se, o Sporting vencer campeonatos de forma regular. Ora, embora todos gostemos de o imaginar, isso está longe de ser um dado certo, portanto valerá a pena a esta direcção entender se esse modelo não terá, em qualquer parte do mundo os dias contados. Aliás a perda de maioria nas SADs é só uma questão de tempo e a figura do presidente todo-o-poderoso esvaziar-se-á no cumprimento de regras (algumas úteis) e na obediência a projectos que visem o lucro das sociedades. Ganhar deixará de ser um extra, irá ser uma necessidade.

Ninguém entenda que tudo isto é uma critica a esta direcção ou à figura de BdC, ou melhor, é uma critica, mas parto do ponto de vista que também estes podem melhorar e não de que estão irremediavelmente errados. Este conselho directivo tem sido o melhor desde há muitos, muitos, mas mesmo muitos anos, a tentar entender toda esta problemática e a tentar respeitar os seus sócios, desportivamente tem acertado muito mais do que era suposto, mas faltará mais densidade no que imagina querer para o clube daqui a 10 anos. E por mais que dê a volta à cabeça, não imagino esse “plano” ser desenhado por 1, 5, 10 ou 20 pessoas fechadas numa sala. Não. Esse seria mais um dos tantos projectos que já nos colocaram nas costas. Para sair com confiança “do armário”, para que ninguém se sinta “fora do clube”, para que o clube continue a ser sempre nosso…este plano, esta identidade tem de ser criada como qualquer ideia democrática é passada à prática. Os gregos desenharam o modelo há mais de 2.000 anos e, veja-se a curiosidade, ainda funciona. Debate – ideia – debate sobre a ideia – aprovação. E não se pense que isso diminui o brilho ou a assertividade ao mandato de qualquer direcção…muito pelo contrário.
Não sou adepto da democracia por referendo…mas há pactos essenciais…e o futuro do Sporting, desculpem lá, mas é tanto meu como de BdC, como de todos os que estão a ler este post.

Ponto 2, se o crescimento da equipa envolve “dores”, também tem envolvido génio. O jogo de ontem foi um festival (sim, o Maribor ameaçou…sim mais uma vez demos “borlas”…mas, engraçado, ninguém vê destas coisas nos Mónacos e Moreirenses ou Bilbaos ) e há cada vez mais razões para ver os jogos do Sporting. Continuo a acreditar que o Sporting tem jogadores, treinador e direcção para fazer muitas coisas geniais neste e noutros anos. Saiam todos os “guedes” da frente (sim, os árbitros) e veremos como estará o mapa das tabelas daqui por um bom par de meses.

Ponto 3, o FcPorto vai atestar a seriedade da Doyen. Portanto se esta empresa perder a acção em tribunal e for condenada por más práticas…pode-se dizer que por mero reflexo, ou este clube não sabe o que é ser sério ou não dá muita importância a isso. Eu acho que o clube de Pinto da Costa sobre de ambos os problemas…e acho que a Doyen também. Tantas semelhanças…tu queres ver que…(Pai…?!! És tu..??)

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca