Ele não dá muito nas vistas, antes pelo contrário. Ele sobe, desce, compensa. Depois, abre um espaço, lança a equipa pelo ataque e faz um passe delicioso. Quando um colega perde a bola, ele recua a toda a velocidade, faz um roleta à Zidane e volta a iniciar o carrossel.

Há uns dias os órgãos oficiais do Sporting chamavam-lhe Ninja e nunca uma alcunha fez tanto sentido. Adrien é isso, um jogador polivalente, com uma noção de jogo altíssima, com uma inteligência bem acima da média e um importante pêndulo no jogo do Sporting. Ele é o nosso maestro, dita o tempo de jogo, dita a ala pela qual atacamos  e é à sua volta que os colegas se vão posicionando em campo. Adrien é o epicentro do jogo leonino e faz tudo isso com uma garra, com uma dedicação e com um brio que cativa o público. As palmas não são suficientes, porque Adrien quase nunca é substituído e quase nunca marca golos. Por isso mesmo, são poucas as vezes que realmente lhe pudemos agradecer por tudo aquilo que nos dá em campo. O mercado, felizmente, ainda não o quis levar e são poucas as vezes que vemos o seu nome associado a um colosso do futebol europeu. Porque Adrien não é exuberante, não é um jogador de pendor ofensivo, ele é a fina linha que equilibra uma equipa, é a diferença entre um futebol esclarecido e um pouco perdido.

Esperamos vê-lo durante muitos e bons anos com o nosso leão ao peito. Mas, se um dia achar que chegou a altura de partir, que carregue o verde e branco no coração e que regresse para terminar a carreira como devia: com a braçadeira no braço. Adrien Silva é isso para nós: um capitão sem braçadeira, um líder em campo e fora dele. É corajoso nas derrotas e ponderado nas vitórias. E como o gostamos de ver saltar, a celebrar sempre da mesma forma, quando o chamam a marcar um penalty (incrível taxa de sucesso para um médio).

Devemos-te uma desculpa, Adrien. Pelos assobios, pelos insultos, pelas vezes que desconfiamos das tuas capacidades. As desilusões já foram tantas que por vezes julgamos rápido demais, assumimos que eras mais um à procura dos milhões e pouco interessado na nossa história. Foste marginalizado, emprestado, assobiado e das tripas fizeste um coração até ao dia em que uma liderança forte e um treinador talentoso viram em ti um importante membro de uma equipa em construção. Devemos isso a Leonardo Jardim, devemos a tua forma actual ao Marco Silva e a ti devemos muito carinho, muita dedicação. És dos poucos que ganhou muita margem para falhar, porque na realidade não sabes jogar mal, só menos bem. Foste um dos mais injustiçados jogadores dos últimos anos, sem direito a disputar um mundial pelo teu país depois de teres sido o melhor médio português naquele ano. Mas não te preocupes Adrien, serás uma peça fundamental da selecção enquanto continuares e honrar a verde e branca da forma que fazes.

Hoje, tinha mesmo dedicar este espaço ao Ninja. Passamos horas a discutir Carrillo ou Mané, Montero ou Slimani, André ou João Mário, Maurício ou Sarr. Existe um motivo pelo qual poucas vezes te discutimos a ti, habituas-te este povo à excelência e não passa pela cabeça de ninguém que possas sair do onze.
Obrigada Adrien Silva, há 12 anos a envergar o Leão Rampante.