Na semana em que finalmente se perdeu a vergonha contra o Sporting, um dos argumentos utilizados para ‘justificar’ o choque entre Bruno de Carvalho e Marco Silva foi o dos reforços. Que ‘foram impostos por Bruno de Carvalho contra a indicação e vontade do treinador’, que ‘o conflito em parte era por o Marco Silva não colocar a jogar os reforços do Presidente’ e blá blá blá. Naturalmente este argumento espalhou-se como fogo em mato seco e o lixo da comunicação social e dos comentadores, os residentes e os que se foram encontrar debaixo de pedras ou desenterrar dos seus jazigos, aos quais se juntaram inúmeros sportinguistas, uns por maus fígados, outros por boa-fé e credulidade, tratou de criar aqui uma verdade absoluta.
Tal como a maioria dos sócios e adeptos, desconheço em absoluto as razões dos aparentes problemas entre o treinador e a direcção e até admito, por não ter nada que me diga o contrário, que possam estar total ou parcialmente relacionados com a utilização de jogadores. A minha questão é: Então e nos outros clubes? Que utilização dá o treinador aos reforços que lhe chegaram às mãos, sejam eles por pedido expresso ou por imposição da estrutura? Há uma diferença tão grande do Sporting em relação aos restantes clubes, em particular em relação aos seus rivais directos, que mereça um aproveitamento vergonhoso deste argumento como arma de arremesso contra o Presidente do Sporting? Que ‘a direcção gastou demasiado dinheiro em jogadores que não servem para o plantel principal’, que ‘o Sporting contratou em quantidade e não em qualidade’, que ‘se contratou demasiado para a equipa B e se está tirar espaço aos jogadores da formação’.
Decidi por isso comparar as contratações e a utilização dada aos reforços dos 3 grandes, contratados apenas esta temporada, para ver se tanta crítica ao Sporting, em relação aos seus rivais, se justifica. Antes, algumas notas:
– A análise abaixo reporta-se a 31 de Dezembro de 2014, é puramente factual e não faz qualquer juízo sobre o potencial dos jogadores ou pretensas expectativas do clube em relação à sua contratação.
– Está propositadamente incluída a contratação de jogadores que jogaram esta época pelas equipas B. Já que esta tem sido uma das críticas ao Sporting, o termo de comparação justifica-se.
– A fonte para o valor das transferências é o site transfermkt.pt. Para esta análise não é relevante a percentagem de passe adquirida, se a contratação se deu a título de empréstimo ou definitivo ou a capacidade financeira do clube.
– A fonte sobre os jogadores contratados e tempo de jogo é o site zerozero.pt. O tempo de jogo refere-se apenas a jogos oficiais.
– Qualquer erro que exista na recolha dos dados não é intencional e agradeço as vossas correcções.
O Sporting gastou cerca de 14,6 M € em 13 jogadores. Estes jogadores jogaram um total de 6,287 minutos em todas as competições, num total de 24 jogos oficiais até 31 de Dezembro de 2014, perfazendo uma média de 524 minutos por jogador. Destes jogadores, 4 (ou seja, 30% dos contratados) jogaram mais de metade dos minutos de jogo (Jonathan, Paulo Oliveira, naby-Sarr e Nani), 3 jogadores não jogaram nenhum minuto pela equipa A e 7 tiveram pelo menos 1 minuto de utilização pela equipa B. Os jogadores que jogaram menos de metade dos minutos de jogo da equipa A custaram ao cerca de 9,2 M € (63% do total gasto).
O benfica gastou cerca de 47,5 M € em 18 jogadores. Estes jogadores jogaram um total de 8,367 minutos em todas as competições, num total de 25 jogos oficiais até 31 de Dezembro de 2014, perfazendo uma média de 465 minutos por jogador. Destes jogadores, 2 (ou seja, 11% dos contratados) jogaram mais de metade dos minutos de jogo (Talisca e Júlio César), 6 jogadores não jogaram nenhum minuto pela equipa A e só 3 tiveram pelo menos 1 minuto de utilização pela equipa B. No entanto, 4 jogadores foram emprestados ou vendidos antes de terem qualquer minuto de utilização oficial pelo clube. Os jogadores que jogaram menos de metade dos minutos de jogo da equipa A custaram ao cerca de 40 M € (85% do total gasto).
O porto gastou cerca de 45 M € em 21 jogadores. Estes jogadores jogaram um total de 8,367 minutos em todas as competições, num total de 24 jogos oficiais até 31 de Dezembro de 2014, perfazendo uma média de 484 minutos por jogador. Destes jogadores, 4 (ou seja, 19% dos contratados) jogaram mais de metade dos minutos de jogo (Casemiro, Oliver Torres, Brahimi e Martins Indi), 9 jogadores não jogaram nenhum minuto pela equipa A e 8 tiveram pelo menos 1 minuto de utilização pela equipa B. Um jogador foi emprestado antes de ter qualquer minuto de utilização oficial pelo clube. Os jogadores que jogaram menos de metade dos minutos de jogo da equipa A custaram ao cerca de 29,7 M € (65% do total gasto).
Algumas conclusões:
– Sem surpresa, o Sporting foi o clube que menos contratou e que menos gastou em reforços.
– No entanto, o Sporting foi, até ao momento, o que maior utilização média deu aos seus reforços na equipa A e o que maior número de reforços estreou na equipa A. Ou seja, o que maior aproveitamento teve dos seus reforços.
– O benfica gastou cerca de 40 M € em jogadores que não jogaram sequer metade do tempo oficial de jogo, teve 3 jogadores que foram contratados e emprestados sem jogarem sequer um minuto em jogos oficiais. Menção honrosa para Djavan que foi comprado e logo vendido (a um preço inferior ao de compra).
– Nove dos jogadores do Porto foram contratados ou já jogaram pela equipa B, 8 do Sporting e apenas 3 do Benfica. Os reforços do benfica que não foram emprestados ou vendidos limitam-se ao plantel principal sem grande flutuação com a equipa B. No entanto, o Benfica tem o menor tempo de utilização dos reforços, o que significa que pouco jogam, sejam na equipa A ou na equipa B.
Questionarem a política de contratação ou a utilização de reforços do Sporting e não o fazer para porto e benfica é mais uma filhadaputice intencional, que mostra a falta de isenção desta gente que anda na comunicação social. Independentemente de nós, sportinguistas, podermos ou não questionar essa política e podermos ou não estar satisfeitos, a comunicação social não nos pode criticar enquanto branqueia o que se passa nos outros lados: O Bruno de Carvalho contrata jogadores à revelia do treinador mas é o Jesus que não os põe a jogar. O Bruno de Carvalho é criticado por gastar 2,7 M € no Ryan Gauld para a B, mas o Victor Andrade e o Dawidowicz custaram 5 M € juntos e o Otávio custou 7 M € sozinho sem nunca terem jogado um minuto nas equipas principais. O Slavchev é um erro de casting, mas Benito, Bebé, Pizzi ou Victor Andrade, todos mais caros, estão a aprender com o mestre da táctica. E tenho curiosidade em saber o que nos aconteceria se andássemos a contratar gajos por vários milhões de euros (ou a custo zero, tanto dá) para os dispensar no mesmo ano sem nunca chegarem sequer a jogar um jogo oficial ou se os vendêssemos algumas semanas depois de os contratarmos, perdendo centenas de milhares de euro, ou se gastássemos 11 milhões em 60% do passe de um gajo que não joga e quando joga é uma nódoa.
O que mais me surpreende mesmo é acusarem-nos de teorias da conspiração quando falamos de ataques da comunicação social e que este discurso acabe por colar em alguns sportinguistas. Puta cos pariu! Por mim, podem questionar-nos à vontade mas não nos questionem só a nós.
TEXTO ESCRITO POR FÉRENC MESZAROS
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]
1 Janeiro, 2015 at 14:02
Para que não se tente iludir e abusar da boa fé dos leitores, gostaria apenas de fazer uns breves reparos.
Relativamente ao tempo de jogo por reforço do Sporting Clube de Portugal, o valor apresentado (524) corresponde a 12 jogadores e não aos 13 que de facto foram contratados.
Por outro lado, esta é uma análise tendenciosa. Apesar de não saber o que se passa com os outros dois clubes a que se faz comparação, sei o que se passa com o meu. Desta forma, permita-me usar alguns dados disponibilizados por si para clarificar o seguinte:
1) Se não fosse o jogo para a Taça da Liga, a maioria dos reforços não teria qualquer minuto jogado pela equipa A.
2) Sendo esta a política adoptada para os jogos desta competição, é tendencioso fazer-se uma análise com base em todos os jogos oficiais. Esta foi uma exceção à regra e não constituí, por isso, o verificado ao longo da época.
3) Admita-se que, e sendo o jogo contra o Vitória de Guimarães (recorde-se a derrota para o campeonato), Marco Silva apresentaria uma equipa mais perto da titular.
Destas premissas resulta que o tempo médio por jogador passaria a 442 minutos, bem abaixo dos nossos rivais que, se bem me recordo, não realizaram nenhum jogo oficial apenas com reforços. E continue-se com as restantes conclusões que o comentário já vai longo.
Quis somente demonstrar que a crítica pode ser feita, deve ser feita e – acima de tudo – é bem feita.
As outras conclusões não interessam neste comentário. Apenas que se tirem as devidas ilações.
Bom Ano.
2 Janeiro, 2015 at 22:36
grande trabalho de pesquisa!
pertinente informação, para demonstrar a diferença de tratamento que a CS dá ao SCP e aos outros clubes!
impressionante… o carnide tem no banco (ou nem convoca) quase tanto como o nosso orçamento total…