Último lance do jogo. «É agora…», «Tanaka», «temos que marcar agora», «bora lá, caralho…», «tem que ser, não podemos empatar esta merda». Os pensamentos multiplicam-se e coincidem à dimensão das centenas de milhares de mentes leoninas que acompanham o jogo. Há quem já não tenha unhas. Há quem apele ao divino. Há quem esteja mudo. Há quem feche os olhos e faça figas. Eu vou rebobinando o filme do jogo, lamentando não o termos decidido naquele belíssimo arranque de segunda parte.

Olhava para trás e via um jogo adulto. A forma como a equipa abordara o jogo, mostrara que se tinha aprendido com a a derrota em Guimarães: uma pressão alta sem ser exagerada, o pé metido a sério quando assim se exigia, a capacidade de perceber que não se pode sair sempre a jogar, mais ainda a capacidade de perceber que a estratégia pode passar por deixar a bola nos pés do adversário, principalmente quando o adversário só sabe o que fazer-lhe quando tem espaços para os lançamentos nas costas das defesas subidas. Com isso, o Braga acabou por ter duas situações de golo a sério (aquela tentativa de cabeceamento do Éder é tão patética quando ele), paradas por um enorme Rui Patrício, resumindo-se, em grande parte do restante tempo, em biqueiros para a frente. O Sporting, depois de um arranque de partida muito equilibrado, foi-se posicionando, como que preparando aquele tal arranque de segunda parte. Nani teve uma perdida incrível, depois de centro de Carrillo. E aquele lance do peruano, mesmo a fechar os primeiros 45 minutos, em que ninguém acredita que ele vai conseguir chegar à bola e fazê-la percorrer, cheia de mel, toda a pequena área, é como que o prenúncio do que se seguiria.

Curiosamente, até seria o Braga a criar a primeira situação de golo, numa das raras vezes em que os laterais leoninos se deixaram espaço às investidas de um dos extremos. Patrício abafou Pardo e o que se seguiu foi um festival de golos falhados. João Mário, de cabeça, agora em pontapé estiloso e novamente João Mário, em recarga a remate de Montero. Três falhanços de deixar qualquer um de mãos na cabeça. Era o sinal do Sporting mais subido, com o médio a surgir no apoio directo ao avançado. Carrillo, definitivamente capaz de sair da sombra de Nani e de garantir que quando este faz jogos menos conseguidos, como ontem, há quem coloque sal e pimenta no nosso futebol, puxa para dentro e ensaia o remate. A carambola acaba a beijar a base do poste. Outra vez o peruano, linha, meio golo, é tua Montero! Foda-se… O cabeceamento sai forte, mas para o lado onde está o redes (é básico, Fredy, a bola coloca-se no lado contrário ao movimento do adversário).

O Braga não conseguia sair do seu meio-campo, mas o marcador continuava a zeros. E se assim tivesse ficado, não faltaria quem dissesse que tínhamos feito mais uma merda de exibição, que os jogadores eram isto e aquilo, que o treinador tinha rido pouco, que o presidente tinha rido muito e que a época estava arrumada. Bem, arrumada fisicamente ficou a equipa, depois daquele ritmo que durou 20 minutos. A bola devia ter entrado, não entrou e o afrouxar da pressão foi normal. Nani desispirado, Carrillo sem oxigênio para carburar as pernas e a mente, João Mário a perder-se entre linhas, uma equipa irritada consigo mesma no raio do esbanjamento. Mané e Tanaka são chamados, saem Adrien e Montero. «Tanaka vai marcar a passe de Mané», dizem-me. «Tanaka vai marcar, isso é certo», respondo. «A passe de quem?». «A passe de ninguém!»

Dizem que lhe chamamos fé, a essa coisa estranha de acreditar nas coisas mais improváveis. Amparada por um enorme Paulo Oliveira e por um William que soube ser maior do que a forma displicente com que perdeu algumas bolas, a equipa tenta chegar-se à frente, já mais com o coração do que com a cabeça. Pimba! O redes manda um pontapé na boca de Tanaka. Livre. Último lance do jogo. «É agora…», «Tanaka», «temos que marcar agora», «bora lá, caralho…», «tem que ser, não podemos empatar esta merda». Os pensamentos multiplicam-se e coincidem à dimensão das centenas de milhares de mentes leoninas que acompanham o jogo. Há quem já não tenha unhas. Há quem apele ao divino. Há quem esteja mudo. Há quem feche os olhos e faça figas. Há quem afie as facas para as espetar no Leão. Mas esquecera-se do sushiman.

GOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!