A Tasca é frequentada essencialmente por homens, homens com grandes valores leoninos, mas quase todos do sexo masculino. E como tal, decidi esta semana dar-lhe uma perspectiva mais feminina sobre como é viver o Sporting desde tenra idade.

Quando somos pequenas, os pais e familiares oferecem-nos bonecas, malas e roupas cor de rosa. Querem que gostemos de séries com muita cantoria e de ler a “Bravo” enquanto comentamos o quão bonitos são os membros da mais recente “boys-band”. E, na verdade, o que a maioria das pessoas não compreende é que todas essas características são compatíveis com uma fervorosa adepta de futebol. Crescer ao som dos jogos do Sporting, com um cachecol à porta do quarto e escolher um jogador leonino para poder participar nas futeboladas com os primos (que teimavam em nunca escolher-me para a equipa e me pediam para ser árbitra) foi por isso uma constante na minha vida.

O amor pelo clube foi aumentando depois dos títulos e de decorar de trás para a frente as listas do plantel do Sporting, que vinham nas cadernetas de cromos. Ainda assim, os presentes continuavam a ser bonecas e não as meias verdes e brancas que tanto pedia. O pai e mãe cedo perceberam a minha paixão, depois de chamar Schmeichel à tartaruga lá de casa. Com o animal divertia-me durante horas, a atirar-lhe pequenas bolas de papel, que ele defendia sempre, claro. Depois, as férias desportivas no Estádio de Alvalade, onde durante 15 dias conhecíamos os atletas de todas as modalidade e onde João Vieira Pinto me entregou uma camisola preta, o alternativo do ano de campeões.

A devoção e a fixação pelo Leão só tinham tendência a aumentar. Mas as amigas, mais interessadas noutros assuntos, achavam estranho este meu conhecimento. Não compreendiam muito bem porque discutia os melhores jogadores com os rapazes, pois nem os conheciam. Ainda hoje, do outro lado de um café, existe sempre um olhar que estranha uma voz mais fina a discutir as tácticas e virtudes de Marco Silva. Ainda hoje se viram caras para confirmar se é mesmo uma mulher a discutir (às vezes a sério) futebol com um lampião.

As idas ao estádio, os equipamentos, as tristezas imensas e as alegrias curtas, tudo isso fez parte do meu humor diário e de grande parte da minha vida, mesmo sabendo que a maioria das mulheres não ligaria a este tipo de questões. Por arrasto veio o interesse genuíno pelo futebol, a curiosidade por conhecer os reforços, os outros clubes e os gigantes europeus. Tudo, sempre, com o Sporting como pano de fundo.

Hoje, quem me conhece sabe que existem poucas coisas na vida que mais me apaixonem do que o meu clube. Quem me conhece sabe da minha presença em Alvalade, das conversas sobre bola e uma bela cerveja nas roulottes. É com imenso gozo que vejo cada vez mais grupos de raparigas a entrar juntas dentro de Alvalade, a cantar as músicas e a tirar fotografias como se de uma autêntica “girls night out” se tratasse. Gostaria de ter tido essa companhia em muitas das vezes que me apeteceu saltar de casa e correr até ao estádio, simplesmente porque a equipa precisava mesmo desse apoio.

É também com muita alegria que vejo cada vez mais homens a aceitar a opinião feminina, como é o caso da Tasca, compreendendo que o Sporting é tão grande, que não tem espaço para o preconceito e para comentários que em nada ajudam o debate. E julgo que estamos todos de acordo nesta questão: não existem mulheres mais bonitas e inteligentes, do que as que carregam o Leão Rampante no peito.

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa