Acordei às 10h para estudar química. Abri o livro e os cadernos mas só pensava no Sporting e nos pintainhos que íamos comer ao jantar. Era uma da tarde quando recebi a notícia que o teste seria adiado por isso fechei os livros e os cadernos, atirei-os para um canto lá de casa e já nem sei onde param.  Às 4, o meu primo veio-me buscar e partimos para Alvalade.

Quando lá chegámos fomos direitinhos ao cantinho da tasca. A tarde começou com duas cervejas e uma visão fantástica: lampiões a levarem cacetadas dos polícias por estarem no sítio errado. Não poderia ter começado melhor. A tarde passou rapidamente, transbordando de Sportinguismo. Encontrei pessoas que não via desde o último almoço da tasca e ainda tivemos tempo de beber um licorzinho de limão delicioso, que o nosso amigo nos trouxe da Madeira. Cantámos e bebemos que nem irlandeses durante a tarde e por volta das 7 preparámo-nos para entrar em Casa. Fomos de via verde e em 5 minutos já estávamos lá em cima a aquecer as vozes.

Às 8, os nossos heróis entram em campo. Foram recebidos com uma das melhores coreografias que já vi ao vivo. As galinhas estavam caladinhas face à brutalidade do Vulcão de Alvalade. Controlámos sempre o jogo mas não conseguimos finalizar. Os lampiões foram dizimados, dentro e fora de campo. Menos posse de bola, menos remates, mais falhas nos passes e vozes desafinadas que não ameaçavam ninguém. Continuámos a dominar até que por fim fizemos um golo, e que golo. Saltámos todos e gritámos. Nunca na minha vida celebrei um golo como aquele do Jefferson ao minuto 87. Corremos para ao pé da grade que nos separava dos porcos miseráveis e atrasadinhos e festejámos que nem loucos. Uma ambiente inacreditável. Mais de 40 mil leões e leoas a gritar a uma só voz: SPOORTINGG!

Depois disso, ouvimos o nosso Speaker a dizer “Tempo de compensação: 4 minutos” e eu pensei para mim mesmo: não aguento 4 minutos… Passaram-se 1 e 2 e 3 e ao 4º, caímos por terra. Sentei-me no sitio onde estava (já nem estava no meu lugar tal era o sofrimento) e do resto não me lembro. Só sei que festejaram aquele golo como era de esperar. Atiraram tochas, cadeiras e petardos contra as bancadas dos nossos adeptos. Queimaram o que conseguiram e causaram o caos e a confusão. Enfim, lampião será sempre lampião. Cheguei a casa frustrado e desanimado mas não derrotado!

Sabia que a nossa equipa tinha entrado em campo com apenas um objetivo: Honrar a mítica verde e branca e vencer, ao contrário do outro clube da segunda circular que não jogou um piço. Lutámos sempre e apesar de não termos sido perfeitos demos sempre o nosso máximo. Vimos “Willians”, Tobias e outros mágicos da nossa formação a brilhar e a dominar um adversário (teoricamente) mais experiente, sem nunca desistir.

É isso que nos distingue daquela raça de merda. Podemos levar 12 dos alemães ou até acabar em 7º na tabela classificativa, mas nunca nos vão ver a atirar a toalha para o chão, a cortar cartões de sócio ou a queimar cachecóis. Somos diferentes. Só baixamos a cabeça para beijar o símbolo que trazemos ao peito e é por isso que acordo todos os dias, orgulhoso de pertencer a este clube, a esta Nação desde 1997. Apesar de um resultado frustrante sabemos que no próximo jogo lá estaremos de novo a gritar por eles, ainda mais fortes porque aquilo que nos une é mais forte que tudo o resto. E finalmente encontrei o meu nome de tasqueiro. Sou o Rochemback, muito prazer!

 

ESCRITO POR Rochemback (aka Nasser)

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]