Confesso que foi difícil não me emocionar perante o estado de comoção de Nani depois de marcar aquele que será o melhor golo deste campeonato. De tal forma ainda hoje penso na forma aliviada como cai no relvado, no grito de Miguel Lopes ao seu ouvido e no estado puro com que se mostrou à nossa massa associativa.

É muito raro que o adepto tenha acesso ao lado humano dos jogadores que estão em campo, ao contrário do treinador ou dos dirigentes. O jogador com mais ou menos críticas faz o seu trabalho, semana após semana, e só o ouvimos de seis em seis meses quando é chamado à flash. Mesmo aí não vemos bem uma pessoa, vemos um monte de clichés a serem disparados em dois minutos, com frases tão típicas como “fizemos uma grande partida” ou “agora há que levantar a cabeça”. O Rui Patrício diz-nos mais da sua personalidade entre dois postes, com uma braçadeira, do que em qualquer entrevista que dê, mas isso também não é ele como pessoa.

Por isto mesmo, qualquer adepto da bancada está numa posição privilegiada em relação  aos onze jogadores que estão em campo. É claro que eles ganham muito mais do que qualquer um de nós, têm acesso a melhores casas e carros. Também é verdade que lá para os 35 está feita a reforma e pronto. Mas as críticas que lhes chegam de qualquer bancada, os assobios e os comentários incendiários nunca poderão ser respondidos por nenhum jogador, nem mesmo nas suas contas pessoais.

Na mesma semana levámos duas provas de sportinguismo incríveis. A primeira vem de William, a segunda de Nani. Tudo isto numa altura em que o Sporting acumula resultados negativos e parece estar à beira de lutar apenas pela Taça de Portugal. Mas é assim que seres humanos que não conhecemos, com quem nunca falámos, mas que conseguimos admirar e odiar na mesma intensidade, nos mostram o seu verdadeiro carácter.

A forma comovida e quase derrotada com que Nani celebra o seu golo é quase um reflexo de um plantel de jogadores que luta todas as semanas, que tem acumulado azares atrás de azares, que tem sido vítima de alguma imaturidade e de alguma incompetência. É o reflexo de uma equipa jovem, que a certa altura não percebeu bem o que podia fazer para melhorar e por isso perdeu. Mas também é o grito que mostra que ainda estamos vivos, ainda existem coisas que podemos conquistar, nem que seja o orgulho e a paz entre os adeptos.

Depois de Nani chorar, decidi que vou ver o jogo frente ao Wolfsburgo, e espero que aí se emocione três vezes.

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa