Antes do Problema
Dois jogos, duas competições diferentes e duas vitórias.
Há quinze dias, a contar para a última jornada da fase regular, a turma do andebol leonino recebeu e venceu o Xico Andebol, por 27-20, garantindo o 2.º lugar. Esperava-se um resultado mais dilatado, porém o treinador Frederico Santos optou por dar tempo de jogo aos menos utilizados, o que explica a fraca produção ofensiva da equipa. Já no passado sábado, o Sporting deslocou-se ao reduto do São Mamede e garantiu a passagem aos quartos de final da prova rainha (vamos defrontar o ABC), batendo a turma do segundo escalão, por uns categóricos 18-36.
Pelo meio das duas vitórias, há mais uma boa noticia a destacar: O pivot João Antunes está de regresso ao Sporting, após uma decisão precipitada que o levou a terminar a carreira aos 26 anos. É um atleta que sabe o que é vencer troféus pelo Sporting, é forte no plano defensivo e o “pressing” que os seus companheiros de equipa fizeram para que ele voltasse, retrata bem a mais valia do reforço leonino para a fase crucial da época.
Este texto tinha tudo para acabar de forma positiva, quando para trás ficam as vitórias, os reforços importantes e as possíveis conquistas, no entanto, no Sporting, não há semana que não apareça um problema e que não seja um gerador de polémica entre os próprios adeptos.

O Problema
Tudo começa quando, esta semana, num dos jornais desportivos, foi escrito um artigo com o título: “Rui Silva, a caminho do FC Porto”. O texto da jornalista Edite Dias, foi construído com base na suposição e alimentado com alguma imaginação. E mesmo desfasado da realidade, o artigo caiu que nem uma bomba relógio entre os adeptos leoninos. O Rui passou logo a ser o “Moutinho do andebol” e que, caso a notícia fosse verdadeira, deviam-lhe fazer a vida negra até ao final da época.
Confesso que fiquei intrigado. Não com o facto da saída do jogador, até porque essa decisão já foi tomada há mais de um ano, mas sim, por aparecer o nome do FC Porto como o próximo destino. Voltemos um pouco atrás no tempo. Há cerca de dois anos, os húngaros do MKB Vezprem, talvez uma das quatro melhores equipas a nível europeu, chegou a Lisboa com o objectivo de resgatar o Rui Silva e coloca-lo a jogar ao mais alto nível. O número 14 do Sporting, podia dar o salto para a elite do andebol. Podia jogar num dos campeonatos mais competitivos e realizar um dos seus sonhos: O de disputar a Champions League. Mas o nosso Presidente não deixou. Não aceitou os valores, e o negócio, bem como o sonho do jogador, evaporou-se..
(Sobre esta tomada de decisão por parte da direcção, não vou opinar. Sei da mágoa que isso criou no atleta, e por uma questão de respeito, guardo a opinião para mim.) Contudo, e como a vida continua, o jogador continuou a responder dentro de campo, tendo apresentado sempre um profissionalismo irrepreensível, um enorme espírito de entre-ajuda e um andebol de altíssima qualidade, muito fora do normal, sendo claramente perceptível para todos os amantes da modalidade que este atleta é “areia a mais” para o campeonato português. Rui Silva, enquanto jogador do Sporting deu o que podia. Deu golos, assistências, taças e autênticos recitais de andebol – e eu, como adepto, agradeço por todo o empenho e classe enquanto jogou ( e jogar) com o nosso emblema ao peito.
Já a meio desta época, o jogador informou a direcção do Clube que não iria renovar, mas que ainda assim esperava acabar a sua última época em Portugal com mais um título. Resultado desta atitude: Banco de suplentes. Não posso esconder alguma frustração pela decisão do Rui. Mas compreendo-a. A vontade em abrir as portas para o seu futuro desportivo e financeiro, e ao mesmo tempo para o futuro do jogador português, é mais que lógica. Nesta modalidade, e num pais que ainda está a anos luz do poderio competitivo de outros países europeus, é uma sorte o comboio passar uma vez, quanto mais duas! Por tudo isto, e por que se trata-se de um grande jogador que sempre respeitou o clube,  o Sporting não lhe devia cortar as pernas. O Rui é livre de escolher, os seus colegas respeitam e apoiam a decisão, e pese embora a nossa vontade de o ver tantos anos de leão ao peito como o Portela, não podia deixar de desejar, do fundo do coração, todo o seu sucesso desportivo. Mas claro, como eu lhe cheguei a dizer em tom de brincadeira: Nos corruptos é que não!

 

Texto escrito por Verde, logo Existo! (As Redes do Damas)

*às sextas, a bola encolhe. E passa do pé para a mão e do relvado para o pavilhão, dando ao nosso Andebol o destaque que ele merece.