“Ah e tal, o Sporting é uma equipa que só sabe marcar golos na segunda parte”. Esta foi a estatística com que fomos brindados antes da recepção ao Penafiel, juntando-se ao facto de falharmos golos em catadupa e termos dificuldades acrescidas quando defrontamos adversários preocupados em não deixar jogar. Ora, aos oito minutos de jogo, já o Sporting tinha contrariado todo esse passado. Adversário encostado às cordas, pressão alta, dois golos que podiam ter sido três, não fosse Nani ainda estar a afinar a mira para o golo que viria a marcar mais tarde.

Cheirava a goleada e as bancadas perspectivavam, finalmente, um jogo tranquilo e capaz de atenuar algumas das feridas abertas nas duas últimas semanas. Nada mais enganador. No espaço de dois minutos, o efeito árvore dos patafúrdios volta a abater-se sobre a equipa: má bola de Adrien, má bola de Slim, imaturidade de Tobias Figueiredo. Vermelho directo para o central, livre directo, a barreira em movimento conjunto de dança contemporânea, golo dos trogloditas. Atenções viradas para o banco, esperando a reacção de Marco Silva, que assume a superioridade qualitativa dos seus jogadores e não mexe. Ou melhor, William passa a ser um falso central, com João Mário (belíssimo jogo, João, sempre em alta rotação!) a descer para auxiliar Adrien nas tarefas defensivas. Eu teria feito o mesmo, confesso, mais não fosse para perceber como as equipas encaixariam nas novas directrizes do jogo.

E o que aconteceu é que o Sporting continuou a mandar no jogo e a estar perto de marcar. Adrien falha uma, dentro da área, depois atira mal no seguimento de um canto estudado e tenta o golaço de calcanhar, pouco depois da meia hora. Depois, Slimani, de cabeça, esbanjando uma oportunidade que nasce de um enxovalho de Nani a um tal de Dani, que devia ter ido tomar banho antes do intervalo, tal a quantidade de faltas que fez. Logo a seguir, outra vez Slimani, respondendo a um cruzamento de Jefferson, mas atirando para fora. Do Penafiel, zero, mesmo com um homem a mais. Mas o efeito árvore dos patafúrdios estava longe de estar terminado e sem saber ler nem escrever, aproveitando um mau corte de Paulo Oliveira, os trogloditas empatam. Inacreditável.

Intervalo, conversas de bancada maldizendo a sorte e a surpresa de ver Ewerton entrar no lugar de Adrien. William, voltava a ocupar o seu espaço natural e a verdade é que foi um verdadeiro monstro na recuperação de bolas e na vontade de empurrar a equipa para a frente. E foi sempre lá na frente que se viu o Sporting ao longo de toda a segunda parte, tentando chegar à baliza das mais variadas formas, com Nani a procurar assumir o jogo e a ser brindado com… assobios (inacreditável). A justiça surgiria à passagem dos 70 minutos, com o entretanto entrado Carrillo a fazer o centro perfeito para a cabeçada de Nani. Grande golo, mais do que merecido e a saber a pouco. Passados dez minutos, contra-ataque perfeito a colocar Jefferson na cara do guarda-redes, mas o brasileiro não consegue colocar um ponto final no encontro. Dani, o tal que nem sabia como ainda estava em campo, acaba por ser expulso por uma bola que bate no ombro e pouco depois nova expulsão para os trogloditas, por obstrução clara a uma arrancada de Carrillo.

Sentia-se que o jogo estava terminado, mas Slimani ainda desperdiçaria mais uma oportunidade na cara do guarda-redes. E o efeito patafúrdios voltaria a tentar fazer-se sentir, com Rui Patrício a resolver, no último minutos, uma carambola que a defesa não soube afastar. Seria castigo demasiado pesado para uma equipa que, por erros próprios, viu uma potencial goleada transformada em mais uma sessão de masoquismo. Seria castigo demasiado para um grupo que, ao contrário do que algumas pessoas gostam de dizer, mostra união e solidariedade face às contrariedades. Pena que existam tantos adeptos incapazes de fazer o mesmo.