Não passou despercebida a tarja que, ontem à noite, a Juventude Leonina fez questão de exibir, manifestando apoio e solidariedade a Mustafa, um dos responsáveis pela claque, detido sob a acusação de pertencer a uma rede de crime organizado. E o ponto de vista que, ao longo do dia, me foi passado por mais do que uma pessoa é o de que “esta é uma acção feita em nome da claque e da sua total responsabilidade”. Ora muito bem, como as opiniões valem o que valem, permitam-me deixar a minha.

Nós não podemos indignar-nos quando vemos o nome do cidadão Paulo Pereira Cristóvão associado ao Sporting – o homem é detido como cidadão ou, no máximo, como “escritor” – e, depois, achar normal que se misture o cidadão Mustafá com o líder de claque, Mustafá. Eu percebo, obviamente que sim, que quem lhe é próximo e lhe reconhece dedicação à causa o apoio e assuma estar a seu lado, mas a verdade é que os crimes dos quais é acusado terão sido praticados enquanto cidadão. Ou estamos a assumir que, pelo contrário, foi o líder da claque a cometê-los e que os seus subordinados se revêm nas suas acções? E se, um destes dias, uma das claques resolver manifestar publicamente a sua posição relativamente ao que se passa no Médio Oriente? Pode fazê-lo, porque é em nome próprio? Ou, aí, já envolve o Sporting? Este é o perigo de misturar as águas. Mas há mais.

Se eu quiser entrar em Alvalade com uma tarja, manifestando o meu apoio a uma causa ligada à defesa dos animais, por exemplo, a minha tarja fica à porta. Pergunto eu: e porquê, se estou a fazê-lo em nome próprio? Não terei eu, enquanto associado, o mesmo direito que um associado pertencente a uma claque? Sei o que me vão responder: «epá, mas não podes utilizar um evento desportivo com o nome do Sporting Clube de Portugal, para dar visibilidade a algo de foro pessoal».

Bem, então há aqui qualquer coisa que me escapa. Não me considero nem mais nem menos sócio, adepto, Sportinguista, o que queiram chamar-lhe, do que outro camarada verde e branco. Por isso, também não entendo que me passem a mensagem de que os deveres para com o clube são os mesmos, mas os direitos podem ser diferentes. Essa merda guilhotina-me o espírito às postas. E quando pergunto a mim mesmo “o que pode significar uma tarja?”, as respostas que me ocorrem são tudo menos agradáveis.