Olá, Luís. Começo esta missiva da mesma forma como a vou acabar: agradecendo-te. Eu, sócio do Sporting Clube de Portugal, estou profundamente grato por várias coisas que proporcionaste ao nosso clube. A começar, pelo teu fantástico talento. Sou um felizardo por ter tido a possibilidade de te ver jogar pelo Sporting em dois periodos diferentes da tua carreira. Depois, porque, num mundo onde o dinheiro fala mais alto e onde os sentimentos são relegados para segundo plano, teres escolhido o Sporting para relançar a carreira é de valor. Também foste tu (e eu não me esqueço) o único jogador que saiu acima do valor da cláusula de rescisão. E o melhor do mundo (a seguir a ti, claro) também nasceu cá…

Portanto, e para que fique claro, nem era preciso voltares ao Sporting para seres o jogador da nossa formação a quem mais tenho a agradecer. Trouxeste sucesso desportivo, com a conquista das Taças de Portugal e Supertaças (faltou o título) e trouxeste mais-valias financeiras, que tanta falta fazem ao clube. Mas, ainda por cima, tu voltaste! Quando nada nem ninguém o fazia prever, quando estavas num ponto onde podias escolher o clube que quisesses e numa altura em que o clube mais precisou de um craque como tu para continuar a dar passos importantes na recuperação de auto-estima. Obrigado, Nani. Do fundo do coração. E, repito, para mim, o grande rosto da melhor formação do Mundo é mesmo um rapaz chamado Luís. Não aquele que tem nome de fruto que apodrece rápido,  mas o Carlos Almeida da Cunha.

A ideia de te fazer uma homenagem surgiu logo quando assinaste. Mas preferi esperar um momento grande para passá-la para o papel. Podia ter escolhido os 2 golos com o Maribor, o golo no Dragão ou o golo contra o Gil Vicente. Pois bem, não escolhi nenhum deles. Escolho o momento em que mostraste ao Mundo que és Humano. Que sentes as coisas, que não és um robot e, sim, também choras. E vê lá tu, Luís….choras como nós, os comuns mortais! Sem vergonha de nada, em prantos descomunais e a deitar ranho pelo nariz. Apesar desse momento já ter passado, manter-se-à para sempre na minha memória. Um momento onde o artista e o humano deram as mãos numa demonstração única de emoção, ao som da alegria delirante dos sportinguistas.

Ora, se as pessoas por vezes esquecem o teu lado humano, é porque tu também não facilitas. Quem te manda fazeres 5 cuecas por jogo? Quem te manda seres mal-criado e abusar dos outros? Porra, meteste meia equipa do Maribor a varrer chão! E isso só está ao alcance de génios como tu. Eu sei que tu sabes disto e que assumes sem medo o papel de líder. Portanto, se não te importares, vou continuar a cobrar muito de ti porque também sei que tu és dos poucos capazes de “pagar”. E já que falamos em cobrança, aconselho-te, igualmente, a começar a cobrar uma choruda comissão aos nefrólogos portugueses pelos inúmeros transplantes renais que tens causado a todos os adversários que se metem à tua frente. Ah! E toma atenção ao Varandas! Já reparei que o gajo anda sempre com uma arca congeladora a recolher os rins que ficam caídos no relvado no final de cada jogo. O que depois ele faz com eles, ultrapassa-me. Mas cheira-me que te está a querer passar a perna…

E como a vida não é só coisas boas, tenho de te dizer que estava à espera de mais nos jogos decisivos que fizemos recentemente. As razões da tua quebra de forma, só a ti dizem respeito. Não sei se foi a lesão, o desgaste que acumulaste a jogar duas vezes por semana ou algo do foro psicológico. E se foi algo extra-futebol, faço votos que tudo se resolva pelo melhor. Deste sôcio que te admira, podes esperar a tal cobrança. Mas também podes esperar apoio e compreensão quando estás menos bem.

E agora, vou entrar num tema sensível. Os assobios. Em primeiro lugar, quero dizer-te que esses inergúmenos são uma minoria. Uma minoria que, provavelmente, anda frustrada com as agruras da vida e depois acabam por descarregar em ti. Segundo, eu vejo esses assobios como um sinal da tua superior e incontestável classe. Nunca vi ninguém a assobiar o Farnerud, porque aos troncos não se assobia, racha-se com um machado. E terceiro, quem realmente te aprecia (e somos muitos!) acaba sempre por abafar esses assobios com os aplausos e cânticos que tu mereces. Esses sim, são a maioria, como tu tiveste a oportunidade de testemunhar contra o Penafiel. Portanto, Luís…manda-os foder. Pode ser que eles sigam esse conselho e usem o assobio para engatar umas gajas, mandar uns pirafos e depois voltar a Alvalade felizes da vida, frustrações resolvidas e prontos para ver um jogo do Sporting tal como ele deve ser visto: apoiando de forma incessante ou, pelo menos, de matraca fechada.

Eu compreendo-te. A ti e às tuas temporizações. Se este jogo a que chamamos futebol dependesse apenas de quem só passa e chuta, os Nanis não custavam 25M nem eram campeões europeus pelo ManUtd. E, acrescento, este desporto seria um tédio. Faltaria sempre a parte artística do jogo, aquela parte onde tu és rei. Por isso, Luís…temporiza lá à vontade! Da minha parte, ou seja, de alguém que já teve a sua quota parte de cuecas recebidas em peladinhas com os amigos, receberás sempre um “Eishhhhhh!”, um “Foda-se!” ou uma gargalhada sonora quando metes gajos a varrer chão, à procura dos rins ou às aranhas para perceber em que filme é que se meteu. É que marcar golos e ganhar jogos é muito bonito mas uma rata bem feita ainda me consegue levar ao céu! Literal e figurativamente…

Olhando para o futuro próximo, faço-te um último pedido especial:  precisamos que lideres a equipa para conquistar a Taça de Portugal. Queremos muito que a tua passagem pelo Sporting se traduza em conquista de troféus. E tu, certamente, também quererás juntar mais um ao teu já rico palmarés. Contamos todos contigo, Luís! E, mais uma vez, obrigado!

PS: Tinha mais um pedido a fazer-te. Mas, se calhar, seria abusar da tua boa vontade. Mas já que pedir não paga imposto, aqui vai: quando decidires o clube no qual vais prosseguir a tua carreira, lembra-te que Alvalade é a tua Casa. Lembra-te que aqui todos te adoramos. Lembra-te que aqui terás o reconhecimento que mereces. Lembra-te de quem te ama incondicionalmente. E só essa lembrança, para mim, chegará. Mesmo que optes por outros clubes como, provavelmente, acontecerá…

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!