O caminho feito pelo FC Porto, primeiro, e pelo Benfica, a cópia, tem sido um caminho trilhado, essencialmente, pelo excesso. Não pelo excesso de mística, como muitas vezes querem fazer crer, mas sim pelo excesso de jogadores que estão assentes nos seus quadros. Nunca poderemos negar que foram capazes de grandes vendas e tornaram-se competitivos. Mas, estranhamente, as dívidas acumulam-se e os cortes nos salários também. Tudo isto porque, como já referi, as receitas feitas em grandes vendas nunca conseguiram cobrir os custos de pessoal ao longo de anos e anos de compras deitadas à rua.

O modelo está a falir, parece-me óbvio. Comprar cerca de 25 jogadores por época, alguns mesmo muito jovens, para depois colocar a rodar nos clubes mais baixos de Espanha, ou na Bélgica ou nos pontos estratégicos em Portugal, é algo que só poderá ser feito em clubes que têm um massa social enorme. Como somos um país pequeno, extremamente pequeno, isso não é possível (nem mesmo com os tais 6 milhões de adeptos). Com estratégia descobriram muitos craques como Di Maria, James, Falcao, Hulk, Cardozo, etc. Mas pelo caminho quantos Licás, Josués, Balboas e Makukulas ficaram? Dezenas, sem exagero.

Por isso mesmo, recuso a ideia de que o Sporting possa entrar nesta fórmula como forma de atingir o sucesso desportivo. Recuso, por completo, a cultura de excesso no nosso clube. As vindas para os quadros leoninos, seja com que idade forem, terão sempre de ser com perspectiva de chegar à equipa principal ou ser útil como alternativa no momento. E, por isso, a vinda de jogadores na perspectiva “vamos ver o que isto dá, o rapaz até foi barato” é para mim uma completa aberração.

Essa foi uma das poucas questões que critiquei nesta Direcção e no planeamento da época. Muitas compras foram feitas apenas pelo preço, não pela qualidade, (essencialmente na equipa B) e com isso poderíamos ter estagnado outros jogadores. Não falo de Gauld, nem de Rabia, por exemplo, mas falo de Enoh ou Gazela, que têm qualidade sim, mas para a Liga 2 ou alguns clubes da Primeira Liga. Devemos comprar os mais baratos disponíveis, concordo, desde que seja reconhecido um potencial tremendo, que não cabe ser avaliado pelo adepto  mas sim pelo corpo técnico.

Nesse sentido, e esta é a conclusão principal do texto, é com agrado que leio notícias que dão conta do aproveitamento de muitos dos jogadores que já se encontram nos nossos quadros. Apenas na última semana, Wallyson, Rubio, Iuri, Esgaio, Matheus Pereira, Gauld e Labyad foram apontados ao plantel de 2015/16 e não será de estranhar que assim seja. Temos talento jovem disponível ao nível de muitos dos melhores clubes europeus, é um facto. Não fará sentido que se vede o acesso à equipa principal sem, primeiro, tentar tirar o máximo rendimento desportivo de cada um dos nossos talentosos atletas.

Muitos, como Rubio e Labyad, vêm de uma anterior Direcção que lhes garantiu ordenados de luxo. Ao nível de um autêntico craque de um clube médio europeu. Cabe ao Sporting tentar que esses contratos sejam reduzidos, alinhados com os restantes jogadores do plantel, e perceber que apenas potencializando os seus activos poderá reerguer-se como foco importante do desporto rei. Segundo Bruno de Carvalho, a questão de Labyad está completamente resolvida. Fico contente, essencialmente porque ainda me lembro  da enorme felicidade com que fiquei quando assinou. Não acredito que Marco Silva o dispense, pelo que deveremos ter um marroquino em Alvalade. Rubio está a renegociar o seu vencimento e quer ficar ao serviço do Sporting, não poderia ser melhor. Fica a faltar Viola, por exemplo, que já mostrou talento para ser opção a 10, numa ala ou como segundo avançado. Julgo que não passará desta época que a situação fica resolvida. Para o bem ou para o mal. Quanto a todos os outros, temos acompanhado o seu progresso ano após anos e não nos cabe a nós ter medo da “inexperiência” se esse não for um receio da estrutura do Sporting. A nós cabe-nos apreciar o futebol genuíno e o talento que vão emprestar aos relvados portugueses.

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa