“Se não fosse o Patrício a safar-nos…”
«Oh… se o Slimani tivesse marcado aqueles golos feitos, tinhas resolvido logo o jogo!»

Estamos perante duas formas de olhar o jogo de ontem, que recoloca o Sporting novamente no Jamor, dando-lhe a possibilidade de acrescentar mais uma Taça de Portugal ao seu historial. E face a essas duas formas de analisar o que se passou, dei por mim a imaginar as crónicas que seriam escritas caso, em vez do Sporting, tivesse sido outra equipa a apurar-se para a final. Chamemos-lhe assim: Equipa.

Aposto que, hoje, as capas dos jornais estariam pintadas com as cores da Equipa, acompanhando essas imagens com manchetes empolgadas e empolgantes. Qualquer coisa como “Rumo a mais uma conquista”. Essas mesmas capas serviriam, ainda para garantira renovação de contrato do marcador do golo e transformá-lo, imediatamente, num dos melhores, na sua posição, a jogar em Portugal.

Lá dentro, a crónica não deixaria dúvidas: tinha sido uma vitória do pragmatismo e de uma forma de estar adulta, capaz de gerir os vários momentos do jogo e a vantagem trazida da primeira mão da eliminatória. Aliás, ser-nos-ia dito que apenas por leves instantes ao adversário havia sido dada a leviandade de acreditar noutro desfecho que não a vitória da Equipa. A Equipa tinha entrado em campo segura de si, só perdendo o controlo da partida entre os 10 e os 20 minutos da primeira parte. Nessa fase, o adversário remataria por três vezes à baliza, duas delas de fora da área, aproveitando a má ocupação de espaço pelo meio campo defensivo da Equipa, outra no único lance de futebol corrido em que a defesa da Equipa deu espaço.

A partir desse momento, a Equipa agarrou no jogo. Os três médios encaixaram no adversário e deixaram de dar espaço. A bola começou a chegar com mais perigo aos extremos da equipa, sendo que um deles, um peruano, resolve inventar dois golos no espaço de quatro minutos. Centros fantásticos, a cair no local certo, esbanjados de forma incrível. A Equipa encostava o adversário às cordas e as faltas, muitas delas duras, sucediam-se sem que o árbitro fosse capaz de agir disciplinarmente como se esperava. O golo adivinhava-se e esteve prestes de acontecer quando um dos médios da Equipa, todos saídos de uma fantástica escola de formação, se isolou e falhou o “chapéu” ao guarda-redes (impressionante a entrada, às pernas, feita pelo defesa do adversário, na parte final do lance).

Chegava-se, assim, ao intervalo, com a sensação de filme já visto: tantas oportunidades desperdiçadas e um zero castigador para a ineficácia. A Equipa voltaria disposta a continuar a dominar a partida, mas quase seria traída num canto. Seria a melhor oportunidade de todo o encontro para o adversário, bloqueada por uma tremenda defesa do melhor guarda-redes português. O jogo continuaria meio enrolado e os treinadores começavam a jogar as suas cartadas. O treinador adversário troca avançado por avançado, lançando o habitual titular para tentar aproveitar o desgaste da defesa da Equipa. O treinador da equipa respondia trocando um médio por um extremo/avançado, assumindo um declarado 4-2-3-1 e a vontade de marcar um golo e acabar com quaisquer dúvidas em relação à eliminatória.

Falta meia hora para o final e a partida como que começa a terminar. A Equipa aumenta o ritmo e o adversário recua. Mais uma oportunidade esbanjada pelo argelino por quem meio mundo anda louco por oferecer 30 milhões. Livres, cantos, cantos e livres. O treinador adversário arrisca e não petisca. Ao trocar o médio mais posicional por um mais ofensivo, perde definitivamente os equilíbrios e deixa de conseguir sair a não ser em pontapés longos. O treinador da equipa percebe isso e recoloca três médios em campo, retirando um dos extremos. Para o comum adepto é complicado perceber a saída do agitador de serviço, mas a verdade é que o jogo acaba aí e os último quinze minutos são jogador no meio campo do adversário. Cantos, mais cantos, livres e bolas a rondar que ninguém parece ser capaz de chutar ou encostar. O golo, limpo pois o jogador da Equipa está em fora de jogo posicional e não interfere na jogada, prémio justo para um futebol com pouco brilho, mas inteligente, concentrado e embalado por um público que, sendo pouco, soube ser bom.

Seria esta uma crónica exagerada ou realista? Apalhaçada ou motivadora? Para o adepto que diz “se o Slimani” ou para o adepto que diz “se o Patrício”? Depende da perspectiva. É que do Patrício ao Slimani vão cem metros de distância. E cada um escolhe o ângulo pelo qual analisa o espaço que os medeia.