Vale a pena recuperarmos a entrevista que Carlos Vieira, responsável pela área financeira, concedeu ao Diário Económico e que teve como título: “A gestão do Sporting é diferente e está no bom caminho”

O empréstimo de 30 milhões surge na mesma altura do que o Porto está a lançar de, pelo menos, 40 milhões de euros. Isso não representa desvantagem em termos de mercado?
Não. Temos dois tipos de investidores: o apaixonado, adepto ou sócio, que adere de forma directa e uma franja muito significativa de investidores particulares, seja qual for a preferência clubística, e os institucionais com interesse nestes produtos. O mercado de obrigações nacional e internacional está pujante por causa das taxas de juro muito baixas. A única queixa que houve foi dos próprios bancos que se vêem na contingência de ter equipas comerciais a vender dois produtos em simultâneo. Mas até é mais sensato, do ponto de vista do investidor, aplicar o seu dinheiro nos dois produtos do que apenas num. Pelo menos para o Sporting, não sinto que tenha havido prejuízo – pode haver é comparação entre as taxas e as diferenças justificam-se por diversos factores: por exemplo, o custo médio de financiamento do Sporting está um pouco abaixo da Porto SAD. Existe decréscimo significativo face à última emissão do Sporting há cerca de três anos e meio e também uma descida no caso da Porto SAD face a Junho do ano passado, a última emissão para o público em geral no País. Estamos a reabrir o mercado com este empréstimo e todo o escrutínio que existiu da CMVM, mas temos prospectos como nunca no plano dos detalhes, incluindo o fair-play financeiro.

Notou muita diferença no comportamento da CMVM após a má experiência com o BES?
Essa pergunta é para eles, mas, entre a base de trabalho do prospecto da SAD portista em Junho e o que nos foi pedido, houve insistência para mais transparência e detalhes. Muita informação foi solicitada por causa do fair-play financeiro. Imagino quais sejam as razões, mas não me compete falar. Os investidores têm informação real e muito detalhada sobre cada colocador das obrigações.

As taxas de juro são baixas [ndr: 6,25% no Sporting e 5% no Porto], mas estão acima do financiamento da República: faz sentido?
Comparando com obrigações do mercado europeu em euros estamos em valores normais para uma emissão que não tem garantias reais associadas. Dava uma conversa muito longa, pois os valores da dívida pública são, de facto, muito baixos. Há liquidez e dinheiro no mercado e está a ser muito escrutinado o local onde deve ser colocado. No nosso caso, face aos pares, face à realidade e ao histórico negativo de resultados financeiros do Sporting, apesar da realidade recente, isso reflecte-se no valor. Havia um pré-acordo com os bancos quando assinámos o financiamento, mas o valor até ficou um pouco abaixo desse, pois o mercado mostrou que havia procura para taxas um pouco mais baixas.

O prospecto diz que o empréstimo se destina ao financiamento da actividade corrente, consolidação de passivo em prazo mais alargado e refinanciamento de operações que estão a vencer, ou seja, operação ‘revolving’ face ao obrigacionista anterior. Esta presença no mercado vale a pena para uma resposta à estratégia e resultados desta direcção?
Nas conversas com a banca, há dois anos, foi sempre entendido que é importante o escrutínio dos reguladores e dos investidores. É certo que estamos cotados em bolsa, mas o ‘free float’ é baixíssimo e, portanto, não é por ali que se avalia. Há do nosso lado e dos nossos parceiros financeiros uma vontade de estar no mercado e também no plano internacional. Este empréstimo era suposto para Novembro, mas, face à crise de Junho, foi entendido que seria importante ter contas mais claras da Sporting SAD. O Porto fez a emissão ainda antes do colapso do BES, nós sentimos que era importante prolongar um pouco mais até ao final do exercício que foi positivo. Os bancos foram apoiantes desta ideia, temos uma dívida de 20 milhões de euros mais juros que foram reembolsados em Novembro do ano passado e grande parte deste empréstimo é para cobrir esse valor, ou seja, dívida de curto prazo que fica a longo prazo. O restante paga a própria operação e satisfaz necessidades de tesouraria como pagamento de dívidas a fornecedores e à banca.

Não prevendo aumento do valor em função da procura até que ponto pode este ser um dado relevante?
Pode no sentido de o mercado perceber e abrir espaço a outras emissões de valor mais baixo.

Como é a relação com a Holdimo no papel de accionista?
Excelente, construtiva e sólida. Têm um membro não executivo na administração e colaboram nas decisões até com Álvaro Sobrinho a apoiar modalidades e formação na Academia.

Quem é o investidor que aplicou os 18 milhões?
Não posso dizer quem é ou são. Houve valores já adiantados e, quando houver o aumento de capital, isso irá saber-se.

Atraso em relatórios de auditoria não dá mensagem errada?
Fizemos um plano optimista e, no ano passado, alterou-se o calendário, pois há realidades mais antigas difíceis de analisar. Exemplo: a parte do imobiliário. Há 300 empreitadas só em relação ao estádio! Esta é “a” auditoria e, para acabar com o assunto, é melhor demorar mais tempo e ter tudo resolvido.

Ponto da situação com Doyen?
Esperamos serenamente pela decisão do tribunal arbitral. A contingência está identificada nos 12 milhões de euros e é um processo com visibilidade, mas sem jurisprudência, considerando nós que houve comportamentos ilícitos.

O Sporting não quer vender jogadores. E não precisa?
Não somos obrigados a vender jogadores. Quando chegámos a situação era calamitosa, fizemos um plano prudente para reduzir custos e aumentar receitas – basta ver a realidade da receita de bilhética. A gestão é muito diferente e está no bom caminho.