Muita foi a polémica causada pelas declarações de BdC sobre o orçamento para a próxima época, mas simplesmente não existe mistério nenhum. O dinheiro é algo que ou existe ou não existe. O Sporting sofreu com a ineficácia (por culpa própria e de outros) e ficou aquém do mínimo que seria o apuramento directo para a Liga dos Campeões. Por si só esse facto leva a duas dificuldades imediatas: a não contabilização da verba destinada aos apurados directamente para a fase de grupos e a perda de possíveis patrocinadores que vissem na certeza de uma visibilidade europeia um bom negócio para a notoriedade da sua empresa ou produto.

Isto é contornável? Sim e não. Desportivamente o Sporting poderá sempre garantir o apuramento depois de play-off e atingir o prémio financeiro que benfica e porto têm já garantido. O problema é que esse sucesso só chegará a uma semana do fecho do mercado e por muito que imaginemos negócios “à condição”, a verdade é que os bons jogadores e os bons negócios não esperam por clube algum. Quanto aos patrocinadores, sobretudo o principal que ocupa lugar previligiado na camisola, a questão pode ser contornada por um contrato condicionado: x milhões com Champions, y sem a mesma. Já existem muitas marcas a sponsorização por objectivos e esta modalidade seria apenas mais uma variante no contrato.

A mais recente e “inovadora” ideia de publicidade nas camisolas “a vulso” é puramente desastrosa. As marcas valorizam o ownership de um compromisso de regularidade num espaço e o sponsorship está para a rotatividade como as mudanças no onze estão para a consolidação de processos tácticos colectivos…not even close as a good ideia. Mais, duvido que a soma de “vendas” pontuais do espaço referido chegue sequer a 60% de um contrato razoável realizado nos moldes tradicionais. Aqui como em muitos outros obstáculos, ao Sporting exige-se criatividade, mas se calhar convém privilegiar a criatividade como processo objectivo e com metas definidas e não apenas uma busca pela “roda quadrada”. Apesar de poder significar uma perda da percentagem total da receita, talvez seja fundamental dividir a procura com uma consultora mundial. 75% de 10 milhões será sempre mais do que 100% de 3 milhões.

O tempo urge. A semanas do fecho das competições da época, as global brands estão ou já comprometidas ou perto disso. A produção dos equipamento estará a atravessar as ultimas fases de planificação e não existirão interessados por aí aos pontapés, loucos por patrocinar o 3º lugar português que só saberá em Agosto se irá pertencer à maior e mais mediática competição internacional de clubes. Nada é impossível, mas penso que estejamos já a ultrapassar a fase das ideias peregrinas. É hora de colocar as A-Teams a trabalhar em soluções de high corporate. O Sporting não pode viver sobre o paradigma de tudo solucionar sem parcerias, até porque nem todo o know-how vem de estar concentrado em corpos sociais ou quadros da SAD com poucas dezenas de pessoas.

Não tenho dúvidas que se eu como adepto consigo ver opções e caminho a percorrer, outros com a verdadeira responsabilidade de o fazer, saberão fazê-lo muito mais e melhor. Vai dar trabalho, vai dar muito trabalho e algumas concessões, mas fortalecer o orçamento da próxima época não é apenas uma feliz ocorrência, é o primeiro passo para resgatar o clube de mais um ano de secundarização na luta pelo titulo. É que o talento custa muito dinheiro, o tal que se vai desviando cada vez mais do futebol, à medida que aparecerem hooligans a cometer as alarvidades do costume e a ostentar camisolas com o patrocínio bem explicito. Seja como for, esta é a hora dos coelhos da cartola, e já que estamos a falar de marcas e identidades…por favor, metam lá os calções pretos…nem que sejam patrocinados pela Black&Decker.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca!