Olhas para trás e o misto de emoções ainda te percorre as veias. Há gritos de golo que nos roubam a voz, há lágrimas de felicidade e de frustração, há unhas roídas, há mãos na cabeça, há a cabeça a latejar ao ritmo do coração. Há Leões espalhados, um pouco por todo o mundo, procurando acompanhar em simultâneo o que vamos fazendo em mais modalidades do que as transmissões e os computadores conseguem transmitir. É essa a grandeza do Sporting.

E a tarde não podia ter começado melhor, com a equipa de futsal a abordar o primeiro jogo da meia-final com uma enorme exibição. Nomeadamente na primeira parte, ficou bem vincado o porquê de sermos nós a carregar o escudo de campeão e de, há bem pouco tempo, termos caído de pé na UEFA futsal Cup. Ao intervalo, o Braga podia agradecer aos deuses dos pavilhões não estar com quatro ou cinco no saco e a toada de desperdício, que, afinal, tem sido uma das imagens de marca desta época, manteve-se no segundo tempo. O golo bracarense lançou incerteza no marcador e transformou o que podia ter sido uma vitória gorda numa vitória sofrida. Ainda assim, uma vitória justíssima e um importante passo para garantir o acesso à final da prova onde devemos apostar todas as fichas (acreditando neste jogadores, antes de sonharmos com os reforços sonantes que vão sendo anunciados).

Entretanto, já a nossa equipa de hóquei defrontava a Oliveirense. Primeira parte complicada, com Girão a ser decisivo para não irmos a perder para o intervalo. O descanso ajudou a colocar as ideias e o coração no lugar, um golo meio às três pancadas foi a injecção de confiança que faltava. A partir desse momento, o Sporting tomou conta do jogo e patinou sobre a descrença adversária rumo a uma final que será mais um enorme desafio de superação! Frente ao campeão benfica, será necessário sermos perfeitos e, incontornavelmente, pensarmos em tudo o que de bom já fomos capazes de fazer em vez de perdermos tempo a pensar no mau jogo que fizemos no último dérbi.

A propósito de último, Nani marcou o nosso último golo no campeonato nacional de futebol. Vitória clara em Vila do Conde, que não foi por números mais esclarecedores porque o redes adversário esteve em tarde inspirada e porque nós, como foi apanágio ao longo de toda a época, desperdiçámos diversas oportunidades de golo. Uma palavra, obviamente, para a estreia de Wallyson, mas, também, para o bom jogo de André Martis e de Jonathan, bem como para o facto de ter sido possível aumentar o ritmo competitivo a jogadores como Slimani ou Ewerton. Agora é dar as mãos e tudo fazer para conquistarmos a final da Taça.

E final era o que se jogava no pavilhão do fcp. Já com os ecos das vitórias no futebol de praia e no basquetebol, pela mão das nossas jovens leoas, os corações batiam mais forte no jogo que podia devolver-nos um título que nos foge há demasiado tempo. Pressão enorme e um jogo aparentemente perdido a quase transformar-se numa remontada épica. O golo de Fábio Magalhães, em cima da buzina, a levar a partida para o primeiro de três prolongamentos, é um dos momentos do ano, capaz de deixar em estado de sítio os sentimentos do adepto mais racional. Depois das críticas à suposta incapacidade do nosso treinador saber motivar os jogadores, o que fica destes três jogos é uma imagem de esforço, dedicação e devoção que merecia a glória. Mesmo perdendo três das suas principais figuras ao longo da partida, esta equipa soube ser gigante e deixar a certeza (pelo menos a mim), que só não acorda campeã porque dois jogadores adversários fizeram a diferença. Costumamos aceitar quando isso acontece no futebol, não custa aceitá-lo noutra modalidade.

Faltava, efectivamente, outra modalidade. O futsal, agora em juniores, sagrava-se bicampeão, vencendo de forma inequívoca um dérbi que até começou com o benfica na frente. Grande jogo dos putos, ainda que abafado pelo andebol, numa clara mensagem de que estamos a trabalhar bem o futuro de uma modalidade onde temos sido imperiais.

Olhas para trás e o misto de emoções ainda te percorre as veias. Há gritos de golo que nos roubam a voz, há lágrimas de felicidade e de frustração, há unhas roídas, há mãos na cabeça, há a cabeça a latejar ao ritmo do coração. Há Leões espalhados, um pouco por todo o mundo, procurando acompanhar em simultâneo o que vamos fazendo em mais modalidades do que as transmissões e os computadores conseguem transmitir. É essa a grandeza do Sporting. Porque o Sporting não se resume ao futebol, como tentaram fazer-nos acreditar em anos demasiado próximo para serem esquecidos. Acabaram-se com modalidades que sonhamos verem regressar, construiu-se um estádio que atirou as modalidades para um qualquer canto sem morada certa, diminuindo radicalmente o apoio e uma ligação que sempre foi umbilical.

Este regresso das modalidades, este frenesim que de nós se apodera quando a camisola verde e branca luta por vitória extra futebol, é uma das maiores vitórias que o Sporting podia conquistar. Agora sim, aos poucos, podemos dizer que o Sporting Clube de Portugal está de volta. Um Sporting eclético que permite que crianças pequenas colem o Rampante ao coração a ver o hóquei, o andebol, o futsal, o basquetebol ou qualquer outra modalidade que os entusiasme tanto quanto o futebol! Foi isto que quase deixámos que nos roubassem e que jamais podemos deixar que volte a acontecer! As modalidades são a porta de entrada para que sejamos cada vez mais e mais Sportinguistas. Dos apaixonados, claro! Daqueles que vão lá estar, seja onde for que o Sporting vá jogar! Daqueles que sofrem à distância e dos que estão a trabalhar de ouvidos nos rugidos! Daqueles que prescindem de outros pequenos prazeres para poderem ser sócios e, mensalmente, contribuírem para este crescimento! Nunca nos esqueçamos de que este Sporting eclético depende de nós! Nunca nos esqueçamos que as vitórias no futuro pavilhão dependem de nós! E nunca nos esqueçamos de tardes como a de ontem! Tardes onde guerrinhas pessoais e odiozinhos de estimação são postos de lado. Tardes onde sofremos, todos, por algo que deve unir-nos e não afastar-nos! Ontem, mesmo sem o pleno de vitórias, foi um dia que explica o que é o Sporting. Não te esqueças disso.