Tu queres mesmo vir com o pai? Olha que eu vou estar a trabalhar e vai ser complicado conseguires ver o jogo…
Não faz mal, pai. Quero ir contigo!

Decisões. As decisões tomam-se e fazem-nos crescer. E o quanto terá crescido o Sporting, ontem, só o futuro o dirá. Mas que hoje o dia amanhece com o sentimento de que algo realmente importante aconteceu, isso é inegável. Não foi fácil, obviamente que não, saber que não poderia estar no Jamor. Tinha a certeza da nossa vitória, não de forma tão sofrida, é verdade, mas o que a turma de Alvalade havia feito ao longo da época chegava para que eu acreditasse que esta Taça não nos fugia.

Estás a levar os cachecóis? Para quê, pai?
Para usarmos depois do trabalho, quando o Sporting ganhar a Taça.

Não é fácil acompanhar um jogo à distância, entre relatos, fogachos na net, opiniões de terceiros. Usa-se o que se tem à mão e percebe-se, cedo, o filme do jogo (que se comprova mais tarde, com toda a calma, puxando a programação atrás e recuperando todos aqueles minutos sem nervos): há uma equipa que quer pegar no jogo, há outra que só sabe jogar no erro do adversário. E há outra, a de arbitragem, que cedo mostra ao que vem quando Nani leva uma porrada de Pardo e o amarelo fica no bolso (percebeu-se que, ao falar em seis milhões, o presidente do braga estava a pedir colinho). O mesmo Nani mostra que quer que este seja o seu jogo e dispara a primeira bomba em direcção à baliza.

A cena sucede-se mais duas vezes, nos primeiros vinte minutos. Uma porrada em William, tralálá, uma porrada em Nani, esta que daria direito a segundo amarelo e consequente expulsão. Pelo meio, quem é expulso é Cédric, aos 15 minutos de jogo. Penalti claro, sim, numa carga de ombro mal feita, mas expulsão muito discutível tendo em conta o posicionamento dos jogadores no momento da falta. A equipa tenta reagir, mas passados dez minutos leva novo duro golpe, ficando a perder 0-2 numa jogada que estava completamente controlada (alguém diga ao Miguel Lopes para cortar aquela cena patética a que chama cabelo). Braga a jogar totalmente como quer, fechadinho lá atrás, Sporting a ter que ir buscar forças a um mundo assombrado onde vagueiam derrotas recentes.

Não está fácil, mas estes cabrões não jogam nada. Temos que marcar um golo…

O pensamento  cavalga ao sabor do correr do relógio, massacra o espírito e desafia crenças. Ainda por cima o Sporting entra mal na segunda parte e a equipa parece perder a confiança em si mesma. Adrien corre por ele e por todos, Slimani acompanha-o qual guerreiro louco, Mané já é defesa direito e Montero já está lá dentro. O redes de nome esquisito tira o golo a Slimani em cima da linha, Oliveira e Ewerton seguram como podem lá atrás. Faltam 15 minutos.

Pai, quanto está?
Estamos a perder 2-0…
Pai…
Calma…

Montero vê o redes negar-lhe o golo, mas Slimani vira artista improvável. Recebe, ameaça, simula, puxa, remata colocado com aquela pouca força a que se chama a força do jeito. Golooooooooooooooooooo! Os que perderam a esperança voltam a acreditar, os que já iam na mata bem podiam pedir para cagar (vergonha nessa tromba!). Faltam seis minutos, mas raios ma partam se o árbitro não dá pelo menos mais cinco. Há tempo, porra! Somos melhores do que eles, com menos um ou com menos quatro! Patrício mergulha outra vez, segura, despacha. Lá atrás já não entra nada! Acreditem que eu continuo a acreditar! Oliveira, longa, Fredy… Gargantas que explodem, lágrimas, sorrisos, abraços a quem se vê sempre e a quem nunca se viu. Sporting, qual undertaker, com menos um, mas com toda a força psicológica que acompanha um momento destes!

Já está 2-2, amor!
Estamos a ganhar a Taça!
(as crianças sabem tudo)

Trinta minutos e mais do mesmo: uma equipa a querer jogar, outra a querer esperar (sério que ainda há quem imagine o palerma do Conceição como nosso treinador? Levou a semana a chorar a arbitragem, foi levado ao colo, nunca quis assumir o jogo e ainda justificou a derrota com as substituições forçadas. Palhaço…). O golo naquele remate cruzado de Nani. Devia ter sido, por nós e por ele, mas não foi. E não foi, conta a história, para que quem se riu com trocadinhos de uma cerveja de merda tivesse que fazer uma vénia ao Rui. Lesionado, grande defesa a fechar o prolongamento e confiança redobrada para os penaltis.

Pai, vamos pró café! Rápido!
(lá vamos nós)
Dá-me colo!
(e dou)
Vamos ganhar, pai?
Vamos!
E depois posso ir à frente e apitar muito?
Podes!

Marca Alan. (Porra, Rui, espera mais um pouco antes de te atirares, esta era tua). Adrien. Este não falha. Pimba, ao ângulo! André Pinto… Vai Patrícioooooooo! Defende! Nani. Bora, boraaa, goloooo! Éder. Este cabeçudo vai falhar! Tomaaaaaaaaa! Slim! Goloo! Falta um, falta só um! Salvador… já está! Já está! E outra vez há gargantas que explodem, lágrimas, sorrisos, abraços a quem se vê sempre e a quem nunca se viu. É nossa e tão merecida por tudo o que passámos ao longo desta época! Por várias demonstrações de carácter e porque desse carácter faz parte o não querer ganhar de qualquer forma.

Pai, sabes porque é que eu chorei quando te abracei? Porque estava muito feliz!

Soltam-se buzinas, a caminho de Alvalade. Espera-se entre o frio e o sono. Injecta-se Sportinguismo na alma dos mais pequenos, sob os sorrisos dos maiores. A Taça está em casa, mas a festa dura menos do que o esperado.

Estes estúpidos estragaram a festa! Nem pude ouvir o Patrício a falar!
Deixa, amanhã o pai põe o jogo outra vez e vês o Patrício a receber a Taça.
Está bem…
Estás feliz?
Estou! Pai posso adormecer e depois levas-me ao colo?
Claro, já passou muito da hora de dormires.
E posso levar a minha camisola para a escola?
Já te disse que sim…
Mas a quem tem o símbolo!
Sim.
Yes!

 

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