O Athletic Club de Bilbao, clube basco com 118 anos é um dos clubes históricos do país vizinho, situado no País Basco região autónoma do reino de Espanha, com pretensões a independência. Os bascos são um povo orgulhoso de fortes tradições nacionalistas, com uma língua própria o Euskara. Os seus clubes de futebol mais importantes, como é o caso do Athletic Club, impõem geralmente restrições a jogadores oriundos de outras paragens. No caso do Athletic Club só são admitidos atletas do País Basco (no seu termo mais lato)“Euskal Herria”.

Como consta dos termos do clube: “El Athletic Club está radicado en Bilbao, provincia de Bizkaia (País Vasco). Nuestra filosofía deportiva se rige por el principio que determina que pueden jugar en sus filas los jugadores que se han hecho en la propia cantera y los formados en clubes de Euskal Herria, que engloba a las siguientes demarcaciones territoriales: Bizkaia, Gipuzkoa, Araba, Nafarroa, Lapurdi, Zuberoa y Nafarroa Behera, así como, por supuesto, los jugadores y jugadoras que hayan nacido en alguna de ellas.”

Traduzindo: “O Athletic Club está sedeado em Bilbau, província de Biscaia (País Basco). A nossa filosofia desportiva rege-se pelo princípio que determina que podem jogar nas suas fileiras os jogadores formados na própria “cantera” e os formados em clubes de Euskal Herria, que engloba o seguinte espaço territorial: Biscaia; Guipúscoa; Álava; Navarra; Lapurdi (Labourd); Zuberoa(Soule) e Baixa Navarra (os três últimos pertencentes ao País Basco Francês), assim como os jogadores e jogadoras que tenham nascido em qualquer destes territórios”.

O estádio do Athletic Club é o San Mamés, Inaugurado em 2013, com 53.000 lugares (no final de 2014-2015), é conhecido como a Catedral e é um centro impressionante da vida de Bilbao, esgota normalmente, está situado no centro da cidade perto do conhecido museu Guggenheim de Bilbau e em dia de jogo a vida desta cidade transforma-se, numa autêntica romaria, com as ruas cheias e as tascas de tapas a abarrotar. O Athletic Club tem 44.400 sócios e tem como símbolo um Leão. O país Basco Incluindo Navarra e o Pais Basco Francês tem cerca de 3.200.000 habitantes.

Se conseguiram ler até aqui, perguntarão agora, pois e o que é que isto tudo tem a ver com o Sporting? O Athletic Club não é um clube considerado grande de Espanha, embora histórico, não está sediado na capital do país, O que é que um sportinguista pode aprender aqui? Tem muito a ver. Para lá do símbolo Leão, começando por aquilo que muitos de nós defendemos, o futuro está na aposta em jogadores formados na Academia do Sporting ou portugueses nascidos ou não em Portugal. Aqui há algum tempo referi num comentário que o Sporting era hoje o único clube grande com capacidade para poder apresentar uma equipa competitiva, apenas constituída por jogadores portugueses, luso-descendentes ou criados em Portugal.

Para muita gente que tem receio na aposta de jovens formados na nossa “cantera”, porque a nossa base de recrutamento é pequena, quando somos um clube nacional e temos 10.500.000 habitantes com uma boa aptidão para o futebol, que dizer de um clube como o basco que aposta somente na sua população?

Outra coisa onde temos muito a aprender é com a “afición”. 44.000 sócios, 53.000 lugares e estádio sempre cheio? O que é que nos falta? Não andámos demasiados anos a fugir dos espectadores com jogos à sexta-feira, ao domingo à noite e até à segunda-feira? Dos poucos jogos que temos tido aos domingos à tarde, dá gosto ver famílias inteiras a irem à bola, pai, mãe e filhos pequenos e maiores. Estaremos a deixar a televisão matar o futebol e o nosso Clube?

Também nos falta o ambiente à volta do estádio. Para lá das roulottes faltam sítios onde se possa discutir o jogo à sombra de umas imperiais e duns petiscos, que são as nossas tapas. Esperemos que o pavilhão venha também a contribuir para um melhor envolvimento dos sócios na vivência do clube. Eu que sou de Torres Vedras e venho a Lisboa propositadamente para ver os jogos, tenho na maior parte dos dias de sair a correr para não chegar demasiado tarde a casa. Com jogos mais cedo e coordenados com as atividades do pavilhão poderemos mudar esta situação e até acredito que se for um pouco estimulada, pode haver um aumento da vida comercial à volta do complexo desportivo, trazendo uma movida de Sportinguismo hoje inexistente.

Quando leio por aqui, a entrada do jogador defesa X e do avançado Y, estrangeiros muitas vezes sem formação futebolística ao nível da nossa, pergunto-me, não será altura de apostarmos ainda mais na nossa formação, tomando como exemplo o clube Basco, sem proibições de estrangeiros, mas com uma aposta clara no que é nosso, aportando como mais-valia o aumento do amor pelo nosso grande Clube? Em momentos de crise em que se torna difícil ter grandes orçamentos, é no capital humano que se deve apostar e quem melhor que o Sporting Clube de Portugal para esta tarefa?

Formador por vocação e necessidade, tem hoje uma grande marca que deve ser explorada a nível internacional,” fabricante” de bolas de ouro. Mas de nada serve formar bons jogadores, dar-lhes as oportunidades que outros não dão, se estes não forem aproveitados na equipa principal durante tempo suficiente para o clube tirar partido dessas mais-valias, ora isso só pode acontecer no dia em que o jogador formado em Alcochete souber que se valoriza mais, profissionalmente e pessoalmente se jogar no clube durante esse tempo ou mesmo estabelecendo como meta na sua carreira jogar no clube até ao fim.

É neste sentido que a comparação com o Athletic Club faz sentido, o sentimento de pertença, a um clube, a um País, faz a diferença em relação a outros clubes onde isso não existe, pode e deve ser o elemento diferenciador que serve de cola aglutinadora a jogadores que queiram fazer uma carreira sólida e não se sintam apenas como mercenários que trabalham com quem lhes der mais, não olhando sequer à cor da camisola.

Este sentimento de pertença, que poderemos chamar mística, amor à camisola ou amor ao clube, é um conceito aparentemente ultrapassado, num tempo onde o dinheiro é o único rei e senhor, onde a ganância e o lucro fácil, tomaram de assalto os valores que antes pareciam sólidos. Mas existe se o soubermos acarinhar e dermos como contrapartida alguma segurança, a segurança de que não virão outros jogadores, por vezes com menos mérito ou qualidade, ocupar lugares para os quais existe a honesta esperança de vir a ser de quem recebeu os ensinamentos e valores do clube, só porque representam lucros fáceis e comissões mais ou menos lícitas.

ESCRITO POR Leorodri

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]</strong>