Este é o sentimento que me invade desde o dia em que Bruno de Carvalho anunciou Jorge Jesus como treinador da equipa principal de futebol. Muitos sportinguistas vão dizer logo: “Eh lá! Calminha aí! Pezinhos no chão!”. Mas não quero saber, vou voar bem alto porque é isso que me apetece fazer. E como ninguém me vai oferecer um para-quedas, se isto der merda sou só eu que me aleijo. Por outro lado, acho que precisamos todos de uma injecção de entusiasmo e de esperança que a simples contratação de Jesus devia ter gerado mas que, infelizmente por causa dos “notáveis” do costume, foi rapidamente substituída por uma tentativa de divisão que a mim me dá asco. Mas vá, voltemos ao céu que cá em cima é que se está bem…

Apesar do meu sentimento ser de euforia, há uma base racional que o sustenta. Afinal, contratámos o melhor treinador cá do burgo. E isto é algo que temos todos de interiorizar. A menos que o Carnide vá buscar o Mourinho e os Fruteiros o Guardiola (ou outros do mesmo calibre) acho que podemos dar como garantido que na época 2015/16 o melhor treinador vai mesmo vestir de verde e branco. Mas voltemos à vaca fria, à base racional para o Grande Sporting estar de volta. Antes de mais, conseguimos surripiar um bicampeão nacional ao nosso maior rival e só isso já é sintomático. Depois, criámos as condições financeiras para uma operação deste calibre. E, claro, tirando as questões sentimentais do mister, tornámo-nos competitivos e atractivos o suficiente para que um dos melhores treinadores europeus aceitasse assinar pelo Sporting. Isto prova que o Sporting está diferente. E está diferente porquê?

Em termos financeiros, fizemos aquilo que tinhamos de fazer e passámos dois anos a apertar o cinto para sair do estado comatoso em que nos encontrávamos. Mas a grande surpresa foi em termos desportivos. Posso estar enganado mas o Sporting deve ser caso raro de um clube que reduz orçamentos e consegue melhorar em termos desportivos. Em período de contenção atingimos um segundo lugar e conquistámos uma Taça de Portugal, o que originou um considerável aumento de receitas. Tudo isto combinado, ou seja, a folga originada pela redução de custos operacionais somada ao aumento das receitas permitiu-nos chegar a um resultado líquido de 22M. Ora, isto é algo que é preciso valorizar porque é extremamente difícil, num mundo competitivo como é o futebol, conseguir conciliar diminuição de orçamento com aumento de receitas. E foi precisamente isto que nos permitiu chegar ao ponto em que estamos hoje. E que ponto é esse? É um ponto em que podemos aumentar o nosso investimento, seja através de recursos próprios ou com recurso a investimento externo fruto da atractividade que a nossa SAD passou a ter para os investidores. Não tenho dúvidas nenhumas que se existirem por aí investidores sérios que queiram meter guita numa SAD de um clube português, olhará para o Sporting como a opção menos arriscada e com maior capacidade de valorização. Deixámos de ser os crónicos tesos e agora podemos olhar para o futuro com confiança e caminhar sem medos para sermos apenas O Crónico. E só por isto, sai um Stromp para o Carlos Vieira. Por isso, quando alguém vos perguntar de onde vem o dinheiro para pagar ao Jesus, apresentem todos os R&C desde que esta direcção tomou posse. E se isso não chegar, digam que roubámos um banco. Porque não vai fazer diferença. Faz parte da narrativa dos rivais e da sua máquina propagandista promover a imagem de um Sporting anémico, sem dinheiro e em permanente contenção. E é essa constante subestimação da nossa capacidade financeira e desportiva que nos vai permitindo não só avançar para operações aparentemente utópicas como a contratação de Jorge Jesus mas também ultrapassá-los pela direita seja em termos de classificação (ano de Jardim) ou de conquista de troféus (ano de Marco Silva). Sim, Bufas. É mesmo para ti.

Em termos desportivos, já expliquei acima, contratámos o melhor cá do burgo. Mas não é só isso. Contratámos alguém com provas dadas em matéria de valorização de jogadores. Neste momento, mais do que contratar grandes reforços, está na altura de tirar o máximo daquilo que temos. Jogadores como William, Adrien, João Mário, Carrillo, Mané, Montero ou Slimani são valores seguros do nosso futebol mas ainda não são jogadores regulares. Uns renderam muito com Jardim e baixaram com Marco Silva, outros o contrário e alguns mantiveram a bitola. Parece-me claro que todos eles ainda estão por revelar e/ou confirmar todo o potencial que os sportinguistas lhes reconhecem e, mais importante, subir um patamar em relação ao rendimento que já demonstraram. E é aqui que entra Jorge Jesus. A forma de trabalhar do Mestre da Táctica coloca os jogadores a render de forma progressiva e, mais importante, a manterem o nível quando chegam ao “ponto de rebuçado”, algo que nem Jardim nem Marco Silva foram capazes de fazer nestes últimos dois anos. Jesus é um romântico do futebol mas completamente orientado para os resultados. E o que é que isto quer dizer? Quer dizer que gosta que as suas equipas pratiquem um futebol atractivo e entusiasmante mas não abdica um milímetro do rigor táctico para o conseguir. Muito mais teria para dizer sobre a competência táctica do mister mas com Jesus, o melhor é mesmo vermos com os nossos próprios olhos quando a bola começar a rolar. E podem ter a certeza que a partir do minuto em que o árbitro apitar, Jesus envida todos os seus esforços para chegar à vitória seja pela pressão constante que coloca lá para dentro seja pela forma como influencia quem está à sua volta. Não tenho dúvidas nenhumas que passados dois anos desde que foi eleito, Bruno de Carvalho finalmente contratou o treinador que sempre quis. Pela competência, pela exigência, pela frontalidade, por ser politicamente incorrecto e, claro, por ser Sportinguista. E é por isso que esta dupla tem tudo para iniciar uma era de domínio no futebol português. Uma espécie de Bufas e Pedroto em versão honesta.

Em termos de marketing, não tenho dúvidas que a venda de gameboxes vai disparar, o estádio vai encher e as conferências de imprensa serão um grande aliciante. A imagem de Jesus vende muito e, consequentemente, o Sporting beneficiará com isso. Cada baile na imprensa, cada pastilha que lhe salte da boca, cada gesto mais expansivo que faça e, porque não, cada pontapé que der na gramática será vista em todo o lado seja através de cliques no youtube ou simplesmente em directo na tv. Esta contratação fez aumentar a notoriedade da marca Sporting e isso será decisivo na negociação de patrocínios e até no valor dos direitos televisivos. Foi tudo isto que comprámos e que fazem os 3, 4 ou 5M/ano parecerem uma ninharia ou, sendo mais rigoroso, um risco perfeitamente calculado.

Claro que tudo isto foi feito com um objectivo. E esse objectivo é, a curto prazo, ser campeão nacional e, a médio prazo, confirmar o título deste texto. Todos os sportinguistas estão ávidos de conquistas e eu, que infelizmente não era vivo na altura do Crónico, anseio por esse momento. Claro que o futebol mudou muito, que existem outros factores menos puros para o sucesso e que temos dois rivais que querem o mesmo que nós. Mas o mais difícil já conseguimos. Pela primeira vez na minha vida de sportinguista, não consigo esconder a minha emoção por, finalmente, ter o melhor presidente em quem votei e por ele me ter dado o melhor treinador que eu já vi entrar em Alvalade. O Crónico está de volta e mais ambicioso do que nunca!

Termino este texto com um repto. Este Sporting é para os duros e não compactua com falsos moralismos, falsas éticas ou falsos valores apregoados por pessoas que servem os rivais ou servem-se a si próprios. Este Sporting defende os seus interesses até às últimas instâncias e só respeita quem O respeita e utiliza todas as armas legais, repito, legais para fazer valer os seus interesses. Foi assim no caso Bruma, foi assim no caso Moutinho, vai ser assim com o ex-treinador, vai ser assim com a Doyen e vai ser assim com a Somague. E será assim com todos aqueles que se meterem no nosso caminho com o objectivo de nos prejudicar. A ética, os princípios e os valores estão guardados para quem nos respeita. Quem não o faz pode esperar um ataque feroz seja ele feito nos tribunais, nos jornais, numa conferência de imprensa ou em qualquer outro cenário que sirva a estratégia do clube. Admito que seja um choque para todos aqueles que se habituaram a um clube simpático, menosprezado por todos, pouco ambicioso ou pouco exigente. Mas não podemos olhar para trás. Mais do que nunca, este novo ciclo precisa do espírito Fight & Resist que encarnámos desde que Bruno de Carvalho tomou posse. Resta-nos fazer uma reflexão séria sobre se é isso que queremos. Eu já a fiz. Eu quero O Crónico de volta!

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!