Uma das coisas que mais esperei ver melhoradas no mandato de BdC foi a fuga de informação. Passado todo este tempo posso dizer que é ainda a mais grave doença que afecta o departamento de futebol. Antes que alguns dos que estão a ler se apressem a excomungar este post como blasfemo a esta direcção, descontraiam as mandíbulas e leiam um pouco mais. Vão entender que não é “quem tem a culpa” a questão mais importante.

O Sporting sempre foi um clube bastante multifacetado, multiclasses, multicultural e multi tudo o que possam imaginar. É a nossa cena. Ninguém manda calar ninguém, não há sportinguistas de primeira ou segunda, não “devia” existir pretenções de ninguém de saber o que é melhor para o clube que o próximo. Tudo lindo e maravilhoso, só é pena ser tudo treta e graças a isso o debate “dentro de portas” é que é, infelizmente, cada vez mais pobre (ou podre, escolham). No mundo dos tachos, tachinhos, tacho life ou, passe a publicidade, “tacho easy”…existem muitos egos que se empoleiram no Sporting como espaço de afirmação pessoal. Alguns fazem-no por fervor clubístico. Noutros a tentação e o foco não é tão abnegado. Em quase todos persiste um distinto perfume a vaidade. “Eu é que sei o que é o Sporting e o que o clube devia fazer”. À custa da mediatização do futebol na internet e na tv, estes egos são convidados a falar sobre o clube e “parecem” debater o Sporting. Mas é mera ilusão. Miragens em pleno deserto. Não há debate, não há esclarecimento, não há sequer confronto ou construção de ideias. É apenas a análise mais superficial possível da espuma dos temas do dia.

Para estes, como para muitos outros, ter informação é um trunfo. Dá vantagem, dá poder, dá influência e sobretudo abre as portas do espaço mediático. Os media procuram sequiosamente informação, nem sempre para os melhores fins, mas apenas porque querem tê-la primeiro. Se for do Sporting ainda melhor. As “fugas” dos nossos rivais, sei-o eu e sabe muita gente, são menos tentadoras. Há muito poucos jornalistas em Portugal com tomates para fazer publicar uma notícia à revelia do interesse dos nossos clubes rivais. Arrisco em dizê-lo que nas redacções dos 3 jornais desportivos diários não existe sequer um. O Sporting é portanto o que se designa cientificamente como “mato”. Vale tudo e sinceramente não é o tratamento dado ao nosso clube que está errado, é o que é dado aos restantes que se materializa como nocivo. Mas sendo esta a realidade e sendo mais difícil mudar o método do que o meio….o Sporting deveria pegar de caras esta taurina beldade ao invés de permanecer em limbos de tentativas ténues de “blindar” o acesso à informação.

Há paletes de razões para o futebol leonino estar a ser completamente esventrado de informação confidencial. Algumas delas são óbvias e têm como origem a batalha contra instituições e empresários. Outras serão de outros “fornos internos” e sinceramente não é matéria para se mexer assim sem sequer um par de luvas a jeito. Mais do que constatar que os nossos “inimigos” têm de facto interesse em publicar os “segredos” do nosso clube (anulando as vantagens possíveis) o que pode ser mesmo interessante é entender melhor como o conseguem e se existem formas de o evitar. TPC Bruno, TPC.

Fico sempre bastante desiludido com o QI das pessoas que costumam criticar os bloggers ou a malta do facebook por comentarem algo que ainda não é oficial e que se mantém ainda apenas no reino do “boato nos pasquins”. Vem-me sempre à cabeça a imagem de alguém a culpar as formigas por um desabamento de terras. Meus amigos, quando um blogger escreve sobre um boato, a sua mensagem pode ser vista por um público de poucos milhares de pessoas. O mesmo conteúdo tem milhões de page views diários num site desportivo e é partilhado por 100 vezes o número dos leitores do blogger. Não brinquemos, o poder de alcance da informação em Portugal, mantém-se ainda nas mãos dos 3 diários desportivos, onde ainda temos de somar a CMTV associada ao Record, e a AbolaTV. A grande maioria das fugas de informação do Sporting dirigem-se ainda a estes grupos. Por mais que desprezemos e odiemos este facto, temos de o assumir, o Sporting não tem ganho muitas batalhas neste território. Manter os nomes dos reforços no segredo dos deuses é fixe e tal, mas é uma ínfima parte do problema.

Quem coloca/vende/dá a informação do clube aos media? Arrisco, sem margem de muita dúvida, que serão todos. Ou quase. A lista das razões é vasta, o resultado é sempre o mesmo – prejuízo. Uns fazem-no por despeito, por sentido de justiça, por vaidade, com mais ou menos estratégia, com mais ou menos ideia do que o resultado do que contam a outros terá na vida do clube e dos adeptos. Acima de tudo penso ser resultado de uma má convivência com o que significa agir num ou interagir com um departamento profissional de futebol. Mas por amadorismo ou bimbice, a verdade é que um clube como o Sporting, se quer seguir um rumo, projecto ou objectivo sem sobressaltos constantes, tem mesmo de levar esta questão muito a sério. Muito mais do que tem feito até agora, por muito que entenda que muitas “fugas” são propositadas. Ver na imprensa casos como a antipatia entre MS e BdC tratadas em formato de novela não é digno nem é aceitável de uma instituição como Sporting Clube de Portugal.

Que criem níveis de informação, contratos com clausulas de confidencialidade com penalizações milionárias, que purguem as vaidades dos amigos e familiares ou façam questão de romper os laços mais duvidosos entre pessoas do clube e jornalistas. As fontes têm de secar. O Sporting tem de chegar muito em breve a um nível próximo do que deve ser um departamento de futebol à séria. As inimizades começam a ser em número suficiente para entendermos que se vamos para a guerra, teremos de ir preparados e entrar numa batalha naval com submarinos a bombar “as coordenadas de posicionamento” nos altifalantes é capaz de não ser a melhor das ideias. Não é fixe ligar a tv e ouvir um lampião a versar sobre matérias internas do Sporting que não são públicas (ou não devia ser). Digo mais, é totalmente absurdo. As pernas têm de se fechar, a rolha tem ser rolhar, a tampa tem de tapar. E é para ontem.

Caro Bruno, veja lá isso homem. Eu gostava de chegar um dia a uma banca de jornais e “ler” que as fugas são todinhas plantadas por nós. Pois que assim é que está bonito. Pelo menos enquanto o colinho aos rivais se mantiver e enquanto não nascer um par deles a algum jornalista, será uma regra de sobrevivência e não um preciosismo profissional.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca