Todos os clubes têm uma identidade. Nessa massa etérea cabe uma infinita quantidade de merda que não interessa para nada na maioria do tempo. Mas mesmo assim é ela que nos diferencia. Dentro deste verdadeiro armazém de coisas a que nunca ninguém deu nome, vivem algumas ideias a que Jorge Jesus se vai ter de, forçosamente ou não, habituar. Ninguém, muito menos eu, duvida do Sportinguismo do futuro treinador, mas eu aposto o meu Royal Flush em como está um pouco enferrujado. Uma carreira de Estrela da Amadora, Belenenses, Braga ou Carnide é capaz de arruinar o “sentido de leão” a qualquer um e gostava de imaginar que entra pela 10A já renovado e com os tiques de “real futebolique” realinhados.
Habituei-me a olhar para JJ como adversário e estava tão bem encaixado nessa gaveta que fiquei aturdido quando me caiu a ficha “fuck…o gajo vem mesmo?!” Mas refeito do ligeiro enfarte nos neurónios…concluí que o problema era somente meu. JJ é treinador e o meu clube precisa de um. Tem currículo para isso e domina como ninguém as pequenas-grandes rasteiras do futebolinho tuga. Já sabe o que é trabalhar num grande clube e ter a responsabilidade de vencer. Mas…raios me partam…fico sempre com a sensação que neste “casamento” há qualquer coisa que não combina entre os noivos. O “match” não cheira a perfeito, Os nomes de ambos não reluzem quando impressos no convite. E o que falta? Podia andar aqui há volta do arbusto mais umas quantas linhas, mas poupo-me a essa circunvalação…o que falta é a “noiva” explicar ao que vem.
Todo o processo de saída contratual do Carnide e entrada no Sporting tem sido optimamente desenhado a nível político e horrivelmente arquitectado em termos de comunicação. Tão mal, que as únicas palavras sobre o porquê de JJ ter aceite o convite do Sporting foram proferidas por…BdC. Amadorismo puro.
O futebol é acima de tudo e antes de mais nada Paixão. Essa propriedade pode muitas vezes parecer impossível de gerir, mas não é. A chegada de JJ a Alvalade teve zero de efeito emocional até agora. Sim, todos temos sido capazes de enaltecer o efeito desportivo, as mais valias financeiras esperadas…o blá blá racional de sempre. Mas quantos de nós já manifestaram algum tipo de entusiasmo dirigido directamente à figura do “Poeta da Reboleira”? Sinceramente, acho que o Sporting tem dado sucessivos tiros no pé em termos de comunicação com os sócios. Não estou a referir-me à informação institucional…essa tem sido atempada e cuidada. Mas onde pára o “Sporting é Nosso”? Não cabia na outra mão enquanto dávamos uma palmadinha nas costas do futuro treinador? Quem é que parou para pensar no que podia ter sido feito para aproximar a imagem de um treinador que acaba de sair de uma estadia de 6 épocas aos comandos do nosso maior rival? Jesus é uma pessoa que desejam que gostemos e idolatremos ou meramente um troféu de caça para colocar na parede?
Além do mais era mais que obrigatório ter feito este esforço de aproximação afectiva. O anterior treinador nunca chegou a perder o “estado de graça” e por motivos óbvios passou em dois ou três dias de um gajo que estava à espera de uma reunião para preparar a época….para um bandido terrorista sem espaço no clube. Nem todos seguem as tricas a par e passo, nem todos entenderam as razões da conflitualidade escondida entre clube e treinador. Não seria parte de um “Como despedir um treinador que os adeptos gostam > for dummies” a regra de pensar nas melhores formas de criar uma ligação forte com o substituto? Sou só eu que acha que a rapaziada em Alvalade pensou que só o facto de trazer o treinador do rival chegaria? Não há um vestidinho especial? Não há bolinhos? Não há um agradozito? Nada…Jesus vai cair no Lumiar, sem lavar sequer as mãos. Sem sequer limpar os sapatos no tapete.
Desenganem-se os que acham que tenho qualquer coisa contra o JJ. À parte das piadas, sempre o achei competente no treino. Nas outras vertentes roça o nível patético (respeito pelos adversários, respeito pelos colegas de equipa, respeito pelo fairplay…às vezes até respeito pelos jogadores e adeptos)…mas a verdade é que sabe ganhar jogos e sabe como não perdê-los. Isso é 80% do que se espera de um treinador. Acho até que tem uma valente oportunidade de nos provar que tudo isto são preconceitos gerados por invejas internas na sua passagem por Carnide e que em Alvalade irá morar um Jesus ressuscitado. O meu desagrado cai decididamente sobre os que governam e pensam o nosso clube. A falta de tacto e consideração destes detalhes, leva até ao ponto de ser marcado uma recepção em pleno relvado num dia de semana, às 18h00…sem sequer colocar uma linha de texto (ou uma página inteira de “fuga” ao Expresso) sobre o que espera a alminha que se deslocar a Alvalade depois de esfarrapar uma desculpa no patrão e atravessar a cidade na hora de ponta.
Espero que a moldura humana não seja equivalente à arte e empenho demonstrado em que JJ e os Sportinguistas comecem com o pé direito, pois se assim for, haverá mais gente no relvado do que nas bancadas.
Ouvi e li que muito do que estou a criticar se deve à impossibilidade do novo treinador se poder referir ao Sporting como patrono actual (dando a sugerir que está a quebrar o contrato que o ligou até ontem ao Carnide) mas caraças…está tudo com os copos?! Mas desde quando é que alguém está impedido de falar no seu futuro? O medo dos atributos linguísticos de Jesus é assim tão grande que a troca de tempos verbais nos ponha com uma “noiva” que não nos tenta agradar? Que não possa dizer sequer um mísero “Estou contente por ir para o Sporting”?
Mas ok, pode ser que a hashtag salve isto. Pode ser que amanhã o estádio encha. Pode até ser que alguém com responsabilidades no clube leia este texto. Alguém que saiba o que significa dizer “bem-vindo” no dialecto leonino a uma outra pessoa.
*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca
2 Julho, 2015 at 14:56
O autor deste texto viu a apresentação? Já está menos infeliz? Foda-se, o sportinguista é o adepto mais esquisito que existe. Nunca está nada bem, se não é do cú é das calças.
3 Julho, 2015 at 17:47
Não gosto desta euforia excessiva. E porquê? Porque são esses estados de alma que geram as maiores frustrações e instabilidade à mínima contrariedade.
Jesus, sendo um grande treinador, não pode fazer milagres. Há um conjunto de circunstâncias que o colocam numa situação de desvantagem em relação aos rivais:
1.O Porto, apesar de ter sido o maior flop da época, manteve a equipa técnica e está a apostar fortíssimo na constituição do plantel com a ajuda dos fundos. O Benfica vê-se que está desesperadamente a tentar vender alguns jogadores, mas já vai em 10 contratações e parece que tem umas “bombas” para apresentar
2-Jesus vai perder bastante tempo a analisar os jogadores ao seu dispor e já se viu que o Sporting tem dificuldades para enfrentar o mercado, quer para se defender dos ataques quer para assegurar contratações que façam a diferença. A recusa em não recorrer aos fundos ou lá o quer que seja,a médio prazo parece a melhor estratégia mas no curto prazo coloca-nos numa situação de desvantagem evidente.
3- Jesus não vai ter o plantel fechado tão depressa como gostaria porque os nossos jogadores vão atrair muitos “predadores” e as aquisições também estão dependentes dessa eventual movimentação
4-É provável que mais de metade do plantel final não faça a pré-época que é importantíssima, como se viu com o WC este ano.
5- O domínio da arbitragem pelos rivais, apesar do sorteio que os limita um pouco, não resolve tudo porque na sua maioria são lampiões ferrenhos e agora mais assanhados que nunca…
6- A fanfarra pimba dos mídia já está a tocar e já ” anunciou” o filão a explorar a instabilizar: a previsível guerra de egos de BC, JJ e OM.
7- Não poderá haver sucesso se não houver estabilidade. E ela tem que ser assegurada pelo Presidente.O perfil do nosso grande Presidente deixa-me reticente quanto à concretização desse objectivo. Deixa passar a ideia de um voluntarismo excessivo na gestão das pressões que se exercem sobre uma equipa de futebol. Até aqui ainda havia o Inácio para meter um pouco de gelo para acalmar a coisa. Agora temos um trio de características idênticas a quem se pede serenidade nos momentos difíceis. Todos evoluímos, é certo, com o acumular de experiência mas não ao ponto de irmos contra a nossa natureza.
Oxalá tudo corra bem mas moderemos as expectativas para encaixar, se necessário, algumas contrariedades pontuais que possam acontecer.