109 anos de vida, sem artimanhas cronológicas. São muitos anos ou, se preferirem, mais de um século de histórias para contar. Tantas, que se pudesse pedir uns quantos desejos, um deles seria entrar numa máquina do tempo verde e branca e viver tantos e tantos momentos que me chegam relatados por outras vozes. É uma data especial, como são todos os dias 1 de Julho para quem se apaixonou pelo emblema do Leão Rampante. E sendo uma data especial, faz todo o sentido sacudir, definitivamente, tudo o que me incomodou ao longo das últimas semanas.

Confesso-vos que não é fácil respirar fundo e seguir em frente, de cada vez que entramos numa espiral de ofensas gratuitas. E à medida que cresce o número de comentários desse género, aumenta, também, o meu sentimento de desilusão. Longe de mim, obviamente, querer que a Tasca seja um retiro para meninos bem comportados. O próprio nome indicia, aliás, que existe a constante possibilidade de se soltarem impropérios ou de voarem canecas de cerveja sempre que as opiniões não sejam exactamente iguais. Mas quando as ofensas passam a ser uma constante ou quando as opiniões divergentes das da maioria são rapidamente etiquetadas de “lampião” ou “traidor” (a lista continua, numa sequência de nomes deprimente), isso significa que o papel mais importante da Tasca está a perder-se.

O que me guia nesta longa jornada, que começou num Cacifo e se mudou para uma Tasca, é algo que, parecendo simples, representa o maior desafio de todos: promover a união alimentando o Sportinguismo. É essa responsabilidade que me fez e faz continuar. É essa responsabilidade que cresce, à medida que este belíssimo monstro verde e branco se espalha pelos quatro cantos do mundo (mais de três milhões de visitas em ano e meio falam por si). É o assumir dessa responsabilidade que se sente traído, quando vejo pessoas que estão do mesmo lado e partilham uma mesma paixão, insultarem-se de toda a forma e feitio.

Tenho a certeza, que ao fim de alguns anos de convivência, conseguimos perceber quem está com o Sporting e quem está contra o Sporting. E esta é uma casa de pessoas que estão com o Sporting! Que vivem o Sporting! Que partilham sorrisos, que partilham lágrimas, que replicam gritos de golos, que replicam palavrões. Que, quando vão ao estádio, ao pavilhão ou a qualquer outro local onde as nossas cores lutam pela vitória, se abraçam como se se conhecessem desde sempre! E foram esses abraços que, no espaço de três dias, se transformaram em ofensas. Aquela felicidade sentida com a conquista da Taça de Portugal, deu lugar à criação de trincheiras onde quem se tinha abraçado passou a ser inimigo. Há justificação para isto? Não, não há, mesmo que me digam que nestas coisas da paixão uma pessoa às vezes faz e diz coisas que não devia. E, já agora, alguma vez vos passou pela cabeça que o nick que ofendem pode ser alguém que já abraçaram a festejar um golo do Sporting?

É disto que precisamos: de nunca nos esquecermos dos abraços! São estes abraços, tantos e tantos dados a desconhecidos, que ajudam a explicar como este clube chega aos 109 anos cheio de pujança e com uma história que a todos nos orgulha. São estes abraços que nos fazem continuar a acreditar, mesmo quando sentimos bater no fundo. São estes abraços que alimentam o nosso Sporting e nos permitem resistir a quem nos quer mal. Basta olhar para o folclore, preparado por um jornal e por um canal televisivo para o dia em que regressamos ao trabalho e em que apresentamos um treinador que, até há bem pouco tempo, era o maior, para percebermos como tudo isto funciona. Basta olhar para a forma como se tentou desvirtuar as votações que conduziram ao sorteio dos árbitros, numa medida defendida e encabeçada pelo Sporting. Basta ver como se fazem entrevistas a jogadores como Wilson Eduardo e se lhe pergunta o que acha do futuro face a um treinador que não aposta na formação (agora é que isso importa, claro). Basta ver como uma justa causa passa a ser algo normal quando ocorre na cidade dos arcebispos. Basta ver como, infelizmente, ex-dirigentes e alguns paineleiros de serviço vão minando o trabalho que é feito. Basta ver como uma eurodeputada resolve pedir à CMVM que nos investigue. Basta ver como se ignora as palavras do empresário de um tal Jackson Martinez. Basta ver como lá por fora aplaudem a nossa luta contra os fundos e cá dentro nos apontam o dedo por fazê-lo. Basta ver como se bajulou um jogador ao serviço da selecção e como, ao contrário da imprensa estrangeira, se continua a ignorar o que fazemos por este país em termos desportivos. Basta…

A lista continuaria, mas prefiro utilizar a palavra “basta” para escrever um “basta de tomarmos por inimigos quem luta ao nosso lado!”
Somos inteligentes o suficiente para fazê-lo. Somos inteligentes o suficiente para respeitar opiniões diferentes e para perceber se quem as manifesta o faz com segundas intenções! Somos inteligentes o suficiente para guardarmos as nossas forças para enfrentam os verdadeiros perigos! Sejamos capazes de perceber que isso é fundamental para o Sporting Clube de Portugal. Neste dia de festa, em que desejamos muitos anos de vida a esta paixão, sejamos capazes de dar-lhe a prenda que ela mais precisa: um abraço. Ou melhor, o abraço. Aquele que nos une em defesa da camisola verde e branca e que garante que nem daqui por outros 109 anos terão sido capazes de calar o nosso rugido!

SPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTING!