Por muito que as imagens da Gala, muitas delas a dobrar de bonitas, ao ponto de eu achar que já tinha bebido além da conta, sejam mais frescas, o que continua a vir-me à memória é a expressão de Jorge Jesus aquando da sua apresentação. Perante mais de cinco mil pessoas – que o MaisFutebol transforma, pateticamente, em algumas centenas – Jorge Jesus pareceu-me genuinamente feliz. E face a um passado recente onde presidentes mentiam com o sorriso, face a um passado recente onde o bem estar eram vãs palavras atraiçoadas por trocas de galhardetes em manchetes de jornal encomendadas, esse pormenor roubou toda a minha atenção.

Do turbilhão sentimental provocado pelo vídeo de boas vindas ao sorriso de puto batido, passando pelo semblante mais carregado e consciente do peso da escolha que fez, na altura em que se dirigiu aos adeptos, Jorge Jesus pareceu-me plenamente comprometido com este clube. Com o nosso clube. E por mais que uma conta bem recheada nos faça sorrir, por mais que sentir-se a estrela do momento alimente um ego que está longe de ser comedido, tenho para mim que o comprometimento das pessoas com aquilo que fazem, é fundamental. Foi isso que me cativou e continua a cativar em Bruno de Carvalho, pese alguns exageros que não encaixam na minha personalidade, mas que tento compreender à luz da necessidade de ir buscar o rei da selva ao buraco a qual tinha sido confinado. É isso que me cativa em jogadores como Adrien ou Benedito, é isso que me faz bater pala a Slimani quando o vejo em campo, é isso que nos fez e faz passar tardes e noites a seguir o hóquei ou o andebol. Esse comprometimento, será, também, o que pulverizará os anticorpos que, naturalmente, possa sentir em relação a Jorge Jesus.

O que se me apresentou, ontem, começou a fazer esse trabalho. Se alguém duvidasse do porquê de ter escolhido o Sporting, o técnico deixou bem expresso que estava feliz por ali estar e que percebia a dimensão da tarefa que o espera. Acordar o Leão adormecido é o que todos queremos, embora, ao fim de dois anos de trabalho desta direcção, eu até ache que o que precisamos é de fazê-lo espreguiçar-se. Nós estamos acordados, sacudimos a juba, mas ainda não fizemos o stretching em que o corpo do bicho vai atrás, esticando as patas dianteiras , e se projecta para a frente num rugido que ecoa pela selva. É assim que eu encaro esta época: a época do rugido! A contratação de Jorge Jesus, o regresso de Manuel Fernandes e Octávio Machado (homens que conhecem perfeitamente o nosso futebol e ajudarão a blindar o grupo de trabalho) e a chegada de jogadores tarimbados e de inegável qualidade para as modalidades, mostram que é esse objectivo. Não será um vai ou racha, mas anda lá perto. Porque está na hora de deixar de fazer cócegas ou arranhões ligeiros de cada vez que atiramos uma patada. Precisamos, mas precisamos mesmo, de começar a rasgar carne de cada vez que o fizermos.

Agora, e já que gostamos tanto de dizer que “o Sporting Somos Nós”, é bom que metamos de uma vez por todas na cabeça que para conseguirmos dar essas patadas e deixar no chão os adversários que nos surgem, temos que caminhar todos juntos. Essa foi a frase chave da apresentação: caminhar + todos + juntos + perceber + que o Sporting é o mais importante. Simples. Bastaram dois minutos para passar a mensagem que será a base de tudo o que desejamos. É escrever isto, diariamente, num caderninho de duas linhas, para se ir entranhando melhor. Todos juntos. Pelo Sporting. Celebrando como loucos nas vitórias, fincando os pés e não recuando face às adversidades (que existirão, pese o crescente formigueiro na barriga perante a ideia de estarmos a trabalhar a sério para regressar às grandes conquistas). Se é para cerrar fileiras, já cá estou. E quando olhar para o lado, quero ver-te. A ti e a todos os Sportinguistas. Ou quase. Para que essa coisa que de caminharmos juntos se transforme, de uma vez por todas, num exército de Leões que rasgam quem lhes aparece pela frente e não quem avança a seu lado.

apresentacaojesus