Trabalho, muito, é o que espera Jorge Jesus até ter a equipa afinada. Mas se há coisa que o futebol nos vai ensinando, é que esse trabalho flui muito melhor quando envolto em conquistas.

Resulta daí a importância da vitória no torneio de Cape Town, prova que terá permitido ao técnico dissipar algumas dúvidas e, muito provavelmente, ver surgir outras. Os dois golos de Montero, por exemplo, baralham por completo a possibilidade do colombiano não ser titular (para mim não há duvidas de que seria Montero e o Sli e o Teo que se desenrascassem). Tal como a capacidade de Naldo disfarçar a falta de rotina ao lado de Paulo Oliveira, poderão valer o lugar ao brasileiro ao lado daquele que continua a dar lambadas de luva branca na tromba de muito boa gente. Atrás deles, Patrício parece ter atingido o ponto de rebuçado das suas capacidades e começa a época com defesas monumentais e para todos os gostos (se quiserem lançar a Missão Ficar com o Rui Toda a Carreira, eu contribuo).

Mas se o trabalho defensivo carece de aprumo, nomeadamente no que toca às movimentações dos laterais e à capacidade dos centrais jogarem em cima da linha de meio campo, a ausência de William no miolo é uma dor de cabeça. João Mário pareceu com dificuldades em perceber o seu papel num duplo pivot, Ruben Semedo será sempre uma adaptação que nos dará arcaboiço no plano defensivo e um extra em termos de bolas paradas, mas menos elasticidade ofensiva. É aqui que Wallyson entra nas contas. Um senhor jogador, que faz questão de prová-lo sempre que tem oportunidade e que, para mim, teria a responsabilidade de fazer dupla com Adrien neste arranque de temporada.

Depois, os extremos e toda a movimentação ofensiva. Bryan Ruiz acabou de chegar e vem com ritmo de jogo (vamos ver como reagem as pernas lá mais para a frente), para lá de toda a classe, maturidade e centímetros que acrescenta. Mas jogará ele de fora para dentro ou surgirá em apoio directo ao ponta de lança? E que papel está reservado a Gelson, a Carrillo, a Mané? Iuri entra nas contas ou rodará mais um ano antes do regresso definitivo?

As definições começam agora e o jogo de sábado, frente à Roma, permitirá ficar mais perto das pretensões de Jesus. Mas, tal como nas últimas duas épocas, será importante termos paciência e percebermos que dar margem de tempo é fundamental. Para implementar ideias e processos de jogo, claro, mas, não menos importante, para termos oportunidade de deixar um treinador enraizar-se em Alvalade.

Depois da vitória frente ao Castle Palace ou ao Charlton Castle ou ao raio que parta dos fixe and cheers, que se siga a vitória frente à Roma, a conquista da Supertaça e a entrada na Champions. Mesmo que as exibições tenham médio brilho e algumas dúvidas persistam, esse boost de confiança terá um peso incontornável nos meses que se seguirão e que muito nos dirão sobre o que poderá ser esta época para a qual voltamos a partir carregadinhos de boas ilusões.