O ponto mais importante. Os adeptos. Parece mentira mas o Sporting é um clube e um clube é os seus adeptos, fãs, apoiantes, o que lhe queiram chamar. Uma empresa tem trabalhadores, um exército tem soldados e uma clube tem…adeptos. Há uns génios que acham que o que decide o sucesso é a malta que dirige e opera o clube…mas vezes sem conta falham na “inteligentia” como o Hitler que virou o rabo aos Russos. “Its the fans…stupid” diria eu usando uma subversão do punch line que pôs o Clinton a virar charutos e charutadas na Casa Branca.
Se o adeptos estão felizes, o clube está saudável, os estádios enchem, as equipas parecem Dream Teams, os treinadores parecem génios da táctica, os dirigentes parecem fazer saltar elefantes de nenúfar em nenúfar em óperas de bailado visionárias e proféticas.

A fé inabalável na vitória é a força que alimenta um clube. Pelo menos um grande. É o seu pão, o seu vinho, a sua queca, o seu “bob”…sem este estado de alma não há equipas, treinadores ou dirigentes em estado de…graça.
Não vale a pena investir milhões em super-equipas competitivas e ter um estádio com cadeiras vazias e/ou com “guerrilheiros” do assobio. Um bom filme será consagrado se for visto por poucas pessoas? Um bom bacalhau-à-brás servirá para alguma coisa se ficar dentro do tacho? Uma garrafa de um excelente vinho não será apenas um objecto inerte se não existir alguém que passe meses a idealizar o momento da sua abertura?
Muitas equipas já tiveram grandes plantéis e não se tornaram “grandes” por isso. Que o diga o Rubin Kazan ou o AS Mónaco. Falta-lhes em “massa adepta” o que lhes sobrou e sobra em “pasta” para lavar. Muito poucos clubes têm a capacidade de ter um estádio com 50.000 pessoas a ver um jogo de futebol. O Sporting é um deles. E no entanto isso acontece ou anda próximo de acontecer apenas 2 ou 3 vezes por ano.
Não há “Crónico” também por isto.

Já estivemos pior, podemos atingir melhor. E a forma mais óbvia de o fazer é criar múltiplas correntes de gajos chatos “comá putaça” que não larguem os amigos, colegas de trabalho e familiares mordendo-lhes o juízo e, se for preciso, os calcanhares para porem os presuntos em Alvalade.
E há tantos e bons argumentos este ano para o fazer. Um bom treinador com um dialecto próprio, que dá um espectáculo à parte na linha. Um director desportivo que pode a qualquer momento passar-se e entrar dentro de campo para dar uns salmonetes num jogador ou mandar um árbitro afagar um falo. Uma equipa cheia de vedetas e futuras grandes vedetas. “Badboys”, “pistoleros”, loirinhos e morenões, altos e espadaúdos para as “minas”. Uma legião feminina de fãs do Boateng com micro-calcões e decotes proibidos a esticar o rabo para as selfies para lavar a vista dos homes. Até já existe um mega cocktail de boas-vindas nas roulotes (a sério aquilo está a tornar-se quase tão bom como a bola). O que se quer mais?

Querem que os vão buscar a casa numa limousine? Querem um resultado garantido de pelo menos 3-0? Querem croquetes e lambrusco ao intervalo servido servidos por intravenal enquanto leêm Proust ou o Le Courrier International ? Querem um escudo invisível gravitacional que evite qualquer contacto físico com os outros enjoadinhos e que crie uma atmosfera ambiente de 23.765º repleta de uma aroma permanente a rosas do Kilimanjaro, que reduza os decibéis dos petardos para os níveis médios das normas da UE? O que é que querem?

Ressuscitar o “Crónico” depende e muito de encontrar, processar e aumentar os números do sportinguismo. Se é a equipa que melhora e chama mais gente…então parece que estamos nesse caminho. Mas eu duvido. Os cerca de 35 mil habituais dificilmente serão um número expansível se alguém não chamar alguém. Por isso toca a correr a lista de números no smartphone e garantir que pelo menos um caramelo pomos no estádio à nossa conta. Se muitos de nós tivermos sucesso nesta intenção, a cada jogo, o estádio terá muitas mais gargantas a gritar, decibéis sagrados no estímulo ao empenho da equipa e à desmotivação da intrépida lata para errar dos árbitros. Isto, meus caros amigos, isto é que gera um “Crónico”.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca