Tem corrido por aí uma teoria catastrofista sobre a nossa possível não entrada na fase de grupos da Champions. Primeiro, o mais importante: é muito importante a entrada na Champions. É sempre, seja qual for o clube que disputa essa possibilidade. Seja pelo prestígio de disputar a maior competição europeia de clubes ou pelo encaixe financeiro que proporciona. Ninguém tem dúvidas sobre isto.

A pergunta que eu faço é esta: será que o projecto fica em causa se não conseguirmos? Nem por sombras. A consequência imediata poderá ser a venda de um activo importante e isso, sim, poderia ser um revés. E digo “poderia” porque há um pormenor que os profetas da desgraça, aparentemente, ignoram: o treinador do Sporting chama-se Jorge Jesus. Ou seja, trata-se de um treinador que, não obstante de exigir qualidade nos seus planteis, trabalha os mesmos sob o ponto de vista colectivo. Isto quer dizer que a saída de um activo, por mais importante que seja, será sempre colmatada com a qualidade dos processos que Jesus treina durante a semana. Temos provas disso, seja no seu trabalho no carnide em períodos de autênticas razias ou mesmo na forma como conseguiu, rapidamente, colocar o Sporting a jogar bem e a ganhar sem dois titulares como William e Ewerton. Com Jesus, é o colectivo que faz sobressair o individual em detrimento de um indivíduo que carrega a equipa às costas. Claro que temos jogadores “diferentes” e com importância acrescida no modelo de Jesus, mas isso existe em todo o lado.

Ponho-me aqui a pensar e pergunto aos meus botões: Vender William seria um drama assim tão grande com Adrien a fazer tão bem o seu papel, com Aquilani pronto para entrar e com o miúdo Paulista a aprender? Vender Slimani seria assim tão catastrófico quando temos um avançado com a classe de Montero no banco e que poderia formar um fantástico tandem colombiano com Teo? E mesmo Carrillo, que tem demonstrado toda a sua qualidade, não seria bem substituído por Mané ou Gelson? Na verdade, nunca saberemos. Porém, a língua portuguesa tem tantos vocábulos e tantas expressões que é obrigação de quem tem um microfone na frente, utilizar aquelas que melhor se adequam às situações que comentam. E a palavra “catástrofe” ou a expressão “projecto em causa” parecem-me claramente exageradas.

Se há clube que já deu mais do que provas que é capaz de competir com menos recursos é, precisamente, o Sporting. Não temos feito outra coisa nos últimos dois anos e com resultados meritórios. A única coisa que aumentámos, para já, é a massa salarial global com as contratações de Jesus, Ruiz, Teo e Aquilani. Todas as restantes contratações estão dentro daquilo que temos pago nos últimos dois anos. Por outro lado, já sairam alguns jogadores e outros estarão na calha para sair até o final do mês e que poderão representar uma simples transferência de vencimentos de jogadores que ganhavam muito e produziam pouco para outros que entraram agora e já estão a render. Também é justo dizer que renovámos com alguns jogadores com o natural aumento salarial. E, também tem de ser dito, existe um lucro operacional que permite aumentar a massa salarial sem correr o risco da SAD entrar em prejuízo. Isto, mantendo constantes todas as restantes variáveis. Ora, acontece que as gameboxes atingiram o seu máximo em muitos anos, a venda de merchandising corre a elevado ritmo e as assistências em Alvalade tendem a aumentar. Portanto, creio que não é exagerado dizer que a situação está perfeitamente controlada e que uma possível ausência da Champions em nada beliscaria o projecto mesmo com a venda de um activo importante como, por exemplo, William.

Portanto, convém desmentir essas mensagens proféticas com dados objectivos. E, para já, o Sporting mantém um saldo positivo entre compras e vendas e aumentou os seus custos com pessoal. Mas como fica sempre bem dizer que o Sporting fez um all-in, é preciso ir “sustentando” essa ideia com o falhanço do projecto no caso de não entrarmos na Champions. Ainda assim, conclusões definitivas, só poderemos tirar quando o mercado fechar e todos os dados forem tornados públicos.

Termino este texto da forma que o iniciei. É muito importante entrarmos na Champions. Mas é importante porque é lá que um clube como o nosso tem de estar. Questões financeiras à parte, é a nossa afirmação a nível europeu que está em jogo. Agora, não nos mandem areia para os olhos. Nenhum all-in foi feito, melhor, nem sequer é poker que estamos a jogar. O risco que o Sporting está a correr é calculado e consequente de um doloroso reajustamento feito nos dois anos anteriores. Ou pensavam que o Sporting iria perpetuar o seu downsizing para gáudio dos rivais e das suas máquinas propagandistas?Podem ficar descansados, o Sporting dificilmente comprará um jogador por 20M ou pagará 9M por metade do passe de outro. Felizmente para os sportinguistas, os irresponsáveis já foram corridos de Alvalade. E se há documento que estou em pulgas para consultar são os próximos R&C dos três grandes. Acho que vão haver muitas surpresas. Especialmente sobre o alegado all-in do Sporting, sobre o “apertar o cinto” do carnide e sobre o fantástico encaixe nas vendas dos fruteiros.

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!