Durante os últimos dias fui convidado várias vezes por vários sportinguistas a rever, no meu caso a ver, um debate especial que teve lugar na SIC Notícias sobre as “polémicas do caso Jesus”. O formato era básico, 2 convidados leoninos, 2 convidados benfas e o moderador do programa do Dia Seguinte. Para lá da tareia de argumentos servida pela ala sportinguista, onde brilhou a visão mordaz e satírica do humorista José Pina, houve um tema que me badalou nos ouvidos, um carrilhão de Mafra de razões que foram abordadas durante o programa mas que por falta de tempo e por intervenção do moderador (que entendeu que se não interviesse os debatentes vermelhos iam ao tapete) rapidamente foi ultrapassada por algo bastante mais trivial.
A questão levantada é simples de entender: a campanha montada para descredibilizar o valor de Jorge Jesus tem por base a personalidade e o comportamento desportivo e não desportivo deste treinador. Ou seja por cada título há um defeito de carácter, por cada jogador vendido há uma deselegância com a estrutura, por cada acto de valor existe um problema de feitio. Ficamos todos a saber que o Jorge era um crápula, que batia nos jogadores e que esbanjava os cofres da Luz em refugo, que cuspia na estrutura toda e insultava todos os coitados dos adversários. Ficamos todos a saber que este verdadeiro bully, desprezado e odiado por todos ainda foi convidado a renovar, uma incoerência do tamanho dos silêncios do Vieira.
No auge da confirmação da transferência do treinador da Luz para Alvalade, a estrutura fez aquilo que na politica norte-americana chama de “campanha-negra”, ou seja, iniciar toda uma transmissão de dados sobre a suposta falta de palavra, uma suposta traição e ingratidão de Jesus para com Vieira. A justificação para tal tomada de atitude é clara como a água. Deixar fugir um treinador bicampeão para o principal rival “parece” uma falha de amadores e durante anos a fio, a estrutura concentrou-se em construir uma imagem de hiperprofissionalíssimo junto dos adeptos de Carnide, a tal ponto o fez que a ruptura com o principal obreiro foi inevitável. Dizem que a principal razão foi a não aposta de Jesus na formação. Eu concluo que além das vitórias, dos apuramentos, das fortunas das transferências e dos troféus, escapava sempre à estrutura o estatuto de maior clube de formação. O ponto de fissura com Jorge Jesus estava encontrado. Vieira e muchachos queriam “roubar” o estatuto do Sporting como melhor formador de atletas, mas para tal eles teriam de entrar nos planteis e inevitavelmente nos onzes do treinador e sabe toda a gente que JJ não é propriamente adepto de ingerências nos seus sistemas de jogo e escolhas de titulares…o treinador entendeu e bem, que o ciclo de “deixar o treinador fazer o seu trabalho sossegado” havia terminado no Benfas. O peso de influência de Mendes também deve ter ajudado. A máquina de cagar 15 milhões estava oleada, mas faltava mais matéria prima. Era preciso garantir a entrada de alguém na orla da equipa A, passível de ser vendido mais tarde. Isso implicaria a complacência de Jesus e provavelmente o mesmo não viu nada que se assemelhasse a um bom candidato a tal posto.
É claro que admitir isto seria impossível por qualquer dos membros da egolândia que compõem a estrutura e vai dai…colocam-se todos os peões nos media a despejar opiniões sobre o estatuto e personalidade do ex-treinador, pouco mais do ecos, pouco melhores que espasmos de “roupa suja” lavados na incapacidade de imputar ao clube de Carnide um erro que outros adeptos mais esclarecidos e honestos classificariam de “histórico”.
A tal campanha-negra foi estruturada, programada e até ajustada ao longo do tempo e embora tenha fracassado totalmente na via desportiva, colou em algumas cabeças a perspetiva de um treinador deselegante, brejeiro, antipático, arrogante e até conflituoso. Todas as notícias publicadas escolhem o melhor ângulo para veicular uma destas facetas do homem chamado Jorge Jesus e não é nada inocente a forma como na passada semana veio a lume uma suposta recusa de JJ em assinar um contrato com o Sporting com clausulas de indemnização. O jornalista em questão escolhido para divulgar isto, Rui Santos, é o mesmo que em tempos foi “encomendado” para montar uma imagem de profissional super dedicado sobre Jorge Jesus e é também o mesmo que serviu de arauto à própria definição da “estrutura” encarnada como um organismo hiperprofissional. Já para não falar, que foi o mesmo que serviu de “atirador” à inutilidade do ex-director do futebol benfas, António Carraça.
Achei ainda mais curioso que quem divulgou a notícia pelas redes sociais tivesse sempre acrescentado que o jornalista é próximo de JJ e que isso conferia ainda mais razoabilidade à sua revelação. Pois que me baralha muito amigos, que um jornalista próximo de um treinador lhe tenha feito este serviço tão mal feito, já que os interesses de Jesus na saída desta informação é zero, é até de vários pontos de vista contrario ao seu interesse.
Torna-se evidente que o Carnide não deseja sucesso ao seu ex-treinador e trabalha arduamente para que o não consiga. Para o ego da estrutura junta-se o útil ao agradável – atrapalha-se um rival retirando-lhe parte substancial do estado de graça do seu novo treinador e vinga-se do mesmo, mais que não sirva para mais tarde afirmar que ao invés de um “erro histórico”, a estrutura foi visionária e optou por uma “saída oportuna”.
Confesso que sempre tive a ideia de JJ como um bom treinador, muito conhecedor, eficiente e que não olha a meios para atingir fins. Não está no futebol para fazer amigos ou para criar clubes de fãs e é até por vezes bastante permissivo na quebra de valores éticos que estão na base do desportivismo. Esse aliás é o ponto que até me provoca mais repulsa. No Carnide isso não teria importância, mas para mim tem. A honra e a lealdade não são questões menores…mas toda esta massa de detalhes, opiniões, achismos, sensibilidades e julgamentos hipócritas causa-me profundo nojo. Estamos a falar de futebol e que alguém venha levantar estandartes de boas maneiras e virtuosismo e apontá-los a um homem que consigo conviveu 6 anos e de forma profundamente proveitosa…atesta bem da categoria moral desta “estrutura”. Espero sinceramente que a nossa “estrutura” leonina saiba que a principal guerra que está a ser travada não é a que opõe os dois clubes, ou sequer os dois treinadores, mas sim a luta pelo respeito, dignidade de carácter e brio profissional de um cidadão chamado Jorge Jesus, que é um activo do clube e onde a sua imagem vale muito dinheiro. É que quem ler, ouvir e ver qualquer um dos encomendados da estrutura a opinar sobre JJ poderá até começar a detectar traços em comum do treinador com Hitler, Pol Pot, Charles Manson ou Gengis Khan e a desejar ardentemente que tão vil personagem se dane no pobre relvado de Alvalade. Esses laivos de “justiça moral” devem ser contrariados e convém que não sejam ex-clubes a narrar o que devemos valorizar ou desvalorizar em Jesus, para lá das tabuetas que lhe espetaram nas últimas semanas.
Ninguém melhor dos que com ele dividem os longos dias de trabalho no Sporting. Essas pessoas e outras que não estejam assalariadas pelos rolos de 15, poderão fazer outras apreciações e méritos humanos do Jorge Jesus e é bom que o façam. Não contem é com jornais ou tv´s generalistas para este, justo, trabalho. O Nuno Luz tem regime de exclusividade e mesmo já tendo engraxado as “botas” de meio mundo no futebol português (e mesmo sendo apreciado pelo treinador do Sporting) não consta que o deixem narrar uma peça que venha a expor a mão que lhe segura a trela. E como ele são tantos que mais vale nisto como uma “coisa” de, para e entre leões.
*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca
26 Agosto, 2015 at 17:54
Acabou! ganhámos por 1 a o e estamos a 2 ptos da liderança.