Com o jogo de Vila do Conde terminou um ciclo. Supertaça, Pré-eliminatória da Champions e primeiras 4 jornadas da Liga. Exigente para não dizer mais. O saldo é positivo, mas sem euforias. Ficar fora da Champions é um rude golpe, sobretudo financeiro, daqueles que pode ditar a saída de um bom jogador ou de duas boas promessas. Alguns jogadores devem ter assinado com a ilusão de virem a brilhar na maior prova de clubes do mundo, juntando o provável afastamento de um patrocinador de topo, temos aqui um saldo negativo a contabilizar. Não fui dos que imaginou sangrias no plantel antes do mercado de Verão terminar e não serei dos esperará Janeiro com receios semelhantes.

A janela de Janeiro é um período de “acertos” e terá de ser assim que o Sporting tem de a aproveitar. Sim, vendendo um activo com mercado, mas compensando essa saída com um outro reforço. O saldo pode ser sempre de perda, mas com imaginação (vão existir muitos jogadores à procura de tempo de jogo para conseguir entrar nas suas seleções em época de Europeu) pode ser corrigida o impacto desportivo desse acto.

A SuperTaça foi ganha. Ganha ao Carnide. Mini-crise aprofundada num rival e um capital de motivação excepcional ganhos para proveito próprio.
Na Liga andámos longe da perfeição exibicional, mas muito perto da perfeição pontual. O Paços de Ferreira aproveitou um ponto e nós perdemos dois, numa clara segunda parte em que o estouro físico foi absoluto e incontornável. Mesmo assim foram 4 jogos, com 3 deslocações (!) e um jogo em casa. Seguimos na frente da tabela e na próxima jornada, se fizermos aquilo que se exige (vencer em casa o Nacional), podemos ficar isolados no topo ou em igualdade com o Porto a 4 pontos do Carnide. Este é um cenário que poucos previam, sobretudo os defensores da primazia metafísica do “bicampeão” e os aderentes a uma versão cada vez mais Dream Team da Doyen vestida à porto.

O final deste primeiro ciclo, o Sporting encontra o mesmo passo que os rivais, uma vez que o porto não jogou SuperTaça e nenhum deles disputou a eliminatória da Champions. Este é um factor que a intensamente especulativa imprensa não registou, mas que na minha opinião nivelará daqui para a frente o esforço que os competidores ao título despendem semanalmente. Com uma ligeira diferença, apesar do nível muito elevado do nosso grupo da LE…Lokomotiv e Besiktas são um pouco mais acessíveis que por exemplo Zenit e CSKA ou Galatasary e Fenerbache. Este pequeno diferencial e o estatuto menos intenso (€€€€€) da Liga Europa podem esvaziar menos o balão de energia do plantel nas próximas semanas.

Mas existem 2 planos que convém dar muita importância na avaliação deste momento: os adeptos e, claro, a arbitragem.
A Onda Verde surgiu em Portimão no 1º jogo oficial e não mais abandonou a equipa. Aliás nos jogos em casa os habituais 35.000 subiram significativamente (41.826 frente ao CSKA e 40.639 no jogo com o P.Ferreira). Os adeptos estão com a equipa e com níveis de exigência altos…o que deve agradar sobremaneira a Bruno de Carvalho.
No campo da arbitragem, apesar de nada poder ser considerado fora do normal, os erros têm-se avolumado e os estragos não são mais evidentes…porque a equipa tem sabido e tem-se esforçado para suprir as constantes e graves “punhaladas” na verdade do jogo. A “guerra aberta” com Vitor Pereira e actual “sistema” da arbitragem tem trazido as vinganças esperadas (a escolha do árbitros é um escandalo). Vingança que curiosamente não é exercida sobre o outro “contestatário”. O porto diz exectamente o que nós dizemos, tem feito exactamente o que nós fazemos, mas a coragem de Vitor Pereira e amigos para enfrentar os seus críticos…tem-se ficado por Alvalade.

Olhando para a equipa. A base do ano anterior manteve-se e as saidas de Nani e Cedric foram supridas pela adaptação de Ruiz à linha e por João Pereira. Ambas estão ainda aquém de ser confirmadas como definitivas, até porque Mané e Gelson Martins estão a ganhar minutos e Esgaio está outro jogador desde o Europeu Sub21. A ausência por lesão de William foi mal compensada, primeiro ao falhar a acontratação de Danilo e depois ao eleger Adrien para a função. O agora capitão de equipa faz a posição com alguma competência, mas salta à vista de todos que não nasceu, nem foi educado para ser um 6 de manobra defensiva. Aguarda-se então pelo regresso do dono daquele lugar, o seu successor Bruno Paulista foi enviado para a B (para ganhar ritmo) e já não terá tempo para conquistar o lugar.
Mas se a base do ano anterior se manteve, podemos dizer também que foi melhorada. Naldo, Aquilani e Teo são somas ao que já existia…e se tivermos em atenção o valor destes 3 jogadores, isso é muito importante.

Não poderia deixar de terminar este post, com uma nota sobre Jorge Jesus. Pode-se discutir se o upgrade táctico realmente é tão evidente comparando com Marco Silva, mas há um parâmetro que parece realmente ter melhorado: a concentração da equipa e exigência sobre o papel de cada um dentro da mesma. Isso pode e vai valer muitos pontos no final da época. As nuances mais técnicas estarão ainda por ser completamente assimiladas, mas para já, este Sporting de Jesus se não faz mais dentro de campo é porque não consegue (fisicamente sobretudo) e basta olhar para o rosto dos atletas no final das partidas para tirar todas as conclusões sobre o que se vai fazendo ao longo da semana e depois durante as partidas. Se Marco Silva sabe motivar criando um espírito de equipa com base na solidariedade e confiança mútuas…Jorge Jesus elege a responsabilidade para com o resultado. Uma equipa solidária ganha muitas vezes, uma equipa que se exige a ganhar ganhará muitas mais. A chave será a gestão do stress e a auto-confiança de cada atleta. A selecção natural com JJ é factual, jogam homens e não há espaço para o erro persistente. Os jogadores sabem disso à partida e ou se superam, ou ficam pelo caminho.
Parece-me que a filosofia de JJ estará mais adaptada (e assim foi desenhada) à cabronice do futebol tuga.

Sigam os próximos jogos, um novo ciclo. Siga a Onda Verde. Com ou sem notas artísticas, com ou sem Carrillos, com ou sem a benção dos senhores do apito.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca