Começo este texto com a convicção que Andre Carrillo não quer nem vai renovar com o Sporting, independentemente dos valores oferecidos. É uma convicção que, naturalmente, pode ser errada. E se assim for, na altura própria, me penitenciarei por isso. Até lá, tudo o que se tem passado só fortalece esta minha convicção.

Antes de mais, vamos aos factos. Que até nem são muitos. São apenas dois:

1) O jogador, à data de hoje, não renovou
2) Augusto Inácio anunciou que o acordo estava alcançado e que dependia “apenas” da assinatura

Ora, se o primeiro facto é facilmente comprovável pela realidade, o segundo depende da credibilidade que atribuímos ao Inácio para acreditarmos ou não nas suas palavras. E eu acredito. Por norma, acredito nas palavras de qualquer membro da direcção do meu clube. Principalmente “desta” direcção que, até à data, ainda não me deu motivos para desconfiar da sua credibilidade seja nas palavras ou nas acções.

E como eu acredito em Inácio, para mim fica claro que o jogador acordou tudo, foi para o Perú e quando voltou a Portugal não cumpriu a palavra dada. E aqui a questão é relativamente simples: Carrillo não foi obrigado a acordar verbalmente a renovação. Ninguém lhe apontou uma arma nem foi torturado para isso. Se queria manter as opções em aberto, não apertava a mão ao Presidente. Se decidiu apertar, fica refém desse gesto e da palavra dada. Apesar de um aperto de mão e da palavra dada valerem tanto como o Kwanza na Europa, entre Homens isso tem de valer alguma coisa. Nem que seja para perceber o tipo de pessoa com quem se está a negociar. Andre Carrillo podia, perfeitamente ter dito ao Presidente: “Fale com o meu empresário!” ou “Não faço nada sem a presença dele!”. Ou até conversar, ouvir a proposta e não se comprometer com nada. E ninguém se chateava. Porém, não foi isso que ele fez. Ele assumiu um compromisso e agora, só lhe resta ser sério, honrando-o ou ser desonesto e não assinar. Foi ele que se colocou nesta situação. Porquê? Porque se calhar convinha-lhe ouvir o Presidente. “Deixa lá, pelo menos, garantir deste lado que o futuro ninguém sabe!” terá sido o seu pensamento. E foi inteligente, eu faria a mesma coisa. Se o meu patrão quer abrir os cordões à bolsa para me manter na empresa, rejeitar ouvir a sua proposta seria uma parvoíce. Nem que seja para negociar com outros interessados. A questão está, apenas, em aceitar essa mesma proposta e indo ao limite de apertar a mão que, pelo menos para mim, ainda é um gesto vinculativo entre Homens.

Como Carrillo, até à data de hoje, não honrou o seu compromisso…chegou a altura da direcção, em primeiro lugar, pensar nas razões. O que faz um jogador acertar tudo para, uns dias depois, não assinar? Para mim, cada vez se torna mais lógico que existe outro clube a negociar com o jogador, provavelmente, até a aliciá-lo e ao seu empresário. Se é um rival ou não nem sequer interessa para o caso e para as decisões que temos de tomar. A questão é: se o Carrillo aceitou uma proposta e não concretizou a assinatura, será lógico pensar que o fará se subirmos (ainda mais) a proposta ou se aumentarmos a comissão do seu empresário? Claro que não! E é por isso que, tal como disse no início deste texto, não é e provavelmente nunca foi uma questão de dinheiro. Pelo menos, dinheiro que o Sporting esteja em condições de oferecer. E se não é uma questão de dinheiro, nem vale a pena continuar as negociações. Tudo o que se está a passar, desde almoços com o treinador e tudo mais não passa de uma tentativa desesperada para continuar a jogar como titular do clube. Carrillo quer chuva na eira e sol no nabal. Continuar a valorizar-se como jogador no Sporting e no final do ano, um pontapé no cú e adiós e hasta siempre! Por isso, aplaudo a decisão de não convocá-lo para o jogo com o Lokomotiv.

Assim sendo, que fique bem clara a minha opinião: Carrillo já devia estar na equipa B. O Sporting não pode estar refém de um jogador. Sobretudo de um jogador que ainda não nos deu grande coisa a ganhar desportivamente e que, pelo andar da carruagem, também não nos vai dar nada a ganhar financeiramente. E isto nem tem nada a ver com a possibilidade de ele ir para um rival. Há muitas, demasiadas, razões para além dessa. Desde a percentagem que temos do seu passe, passando pela loucura que é colocá-lo a ganhar mais do que o Patrício, que já nos deu muita prata a ganhar e é o Capitão, e acabando no exemplo e na mensagem que passamos ao resto do balneário. O que pensará um Slimani, que se mata todo em todos os jogos e que marca golos decisivos em derbys e clássicos? O que pensará o Mané, que fez menos de metade dos jogos que Carrillo fez e marcou quase tantos golos como ele? E o Patrício? Não terá ele direito de querer ganhar mais do que o Carrillo quando foi ele que decidiu a final da Taça? E o Adrien, que tem sido fundamental no meio-campo desde Leonardo Jardim e que está a 2 anos de terminar contrato? Que caralho é que o Carrillo já fez no Sporting para acharmos normal rebentar a escala salarial só para satisfazer as sua pretensões?

Não tenhamos ilusões, é precisamente disto que estamos a falar. De colocar ao Carrillo um estatuto salarial de “Estrela”. É que depois de o fazermos, já não podemos voltar atrás. E, tendo em conta que nenhum clube decente foi capaz de fazer uma proposta de jeito no defeso, após a sua melhor época da carreira e numa altura em que podia contratá-lo por valores mais baixos, tendo em conta a sua situação contratual, só posso concluir que as dúvidas que eu tenho serão as mesmas que um clube médio/alto de Inglaterra, Alemanha ou Espanha tiveram antes de avançarem para o peruano. E, quer queiramos ou não, Carrillo tem, pelo menos, três problemas: o primeiro é a sua consistência durante 90 min. Uma “estrela” tem de ser consistente o jogo todo e não alternar momentos de genialidade com outros de displicência. O segundo é a sua falta de golo e o terceiro é o desaparecimento em jogos grandes, onde realmente se decidem os títulos. Uma “estrela” tem de, como se diz em inglês, “deliver” nos jogos grandes. É isso que todos os craques fazem. Para comprovar isto, deixo-vos 5 exemplos, dos 5 momentos mais decisivos do Sporting nos últimos 3 anos:

1) Jogo em Alvalade contra os fruteiros na época de Jardim que vencemos por 1-0 e que carimbou a entrada directa na Champions. Quem brilhou? William Carvalho. Quem decidiu? Slimani.

2) Jogo no Ladrão para a Taça de Portugal em que ganhámos 2-0. Quem brilhou? Uma vez mais, William Carvalho. Quem decidiu? Nani e Slimani (Carrillo fez uma assistência, não me esqueci)

3) Final da Taça de Portugal, quem brilhou? Rui Patrício. Quem decidiu? Rui Patrício, Slimani e Montero.

4) Conjunto das 2 mãos da eliminatória com o CSKA. Na primeira mão, Carrillo brilhou em foi o melhor em campo com uma assistência e um passe de ruptura que originou o primeiro golo. Na segunda mão, desapareceu.

5) Supertaça, acho que a equipa esteve toda muito bem não fui capaz de distinguir apenas 1 MVP. Mas a existir seria sempre Teófilo Gutiérrez que marcou um golo legal mal anulado e teve intervenção decisiva no golo que contou. Carrillo teve participação nesse golo (mas se a Teo não desviasse, seria um passe para Júlio César)

Por outro lado, imaginem o seguinte cenário: são dirigentes do Sporting e têm cerca de 2M para oferecer de salário por um jogador. Escolhiam o Carrillo de caras? Não valerá a pena oferecer esses valores a alguém que revele tanto talento mas que dê mais garantias, mais consistência? Será o peruano a melhor opção existente no mercado pelos valores que se falam? Não será mais acertado guardar esse dinheiro e apostar no Mané que, atendendo à sua evolução, poderá até ter melhores condições para vir a ser melhor jogador do que Carrillo no futuro? Cada um terá a “sua” solução. Eu tenho a minha e já a expus aqui. Na minha opinião, Carrillo não merece esses valores, não é um jogador que garanta títulos (tipo André Cruz, Jardel,ou João Pinto) e não faz sentido absolutamente nenhum, que estejamos a passar esta frágil imagem por um jogador como ele. Isto não significa que não aprecie o seu futebol, bem pelo contrário! Por mim, obviamente que renovava com ele, mas há limites para tudo. Principalmente para o seu salário e para a sua “indecisão”.

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!