Quer dizer, depois da noite de ontem a tentação será dizer que temos mais do que um problema. E já nem falo da sina de perder com equipas russas ou de sermos gozados pelas equipas de arbitragem. Correu mal, mesmo mal, frente a uma equipa de faca nos dentes e a apostar todas as fichas no contra ataque. E a péssima noite terá começado mesmo aí: na incapacidade de estancar as transições adversárias. Porque se é verdade que tivemos cerca de 70% de posse de bola, não é menos verdade que, quando a perdemos, sofremos calafrios (assim, de repente, diria que cada vez que os gajos atacavam, apanhavam-nos com as calças na mão). Será chover no molhado constatar a falta que William faz e o quão diferente todo o nosso processo de jogo será com a sua presença. Mas não deixa de ser questionável a repetição de um cenário que já tinha dado “um ar de sua graça” frente ao Rio Ave: Adrien e Aquilani são uma dupla que, pelo menos a julgar pelo que se viu nestes dois jogos, não funciona, tanto a defender (peso o esforço de Adrien) como a atacar (o que empurra todo o nosso jogo para as alas e nos retira capacidade ofensiva).

Não deixa de ser curioso que, num jogo onde se promoveu uma espécie de revolução na equipa, tenha ficado no banco o jogador que chegou para, precisamente, poder deixar-nos respirar um pouco até William regressar. Se se lançou Gelson (excelente atitude, belíssimos pormenores, mas a precisar de jogar para crescer) e Tobias (quem é que analisou o Lokomotiv e achou que tirar o central mais rápido, Naldo, era boa ideia quando a marcação teria que ser feita a um cavalo selvagem de corrida?), porque raio não se lançou Paulista? Ou mesmo André Martins que, afinal, até apareceu como opção e não fez pior figura que os restantes? E já que falamos de substituições, porque raio é que Teo ficou em campo e se tirou Montero, esse mesmo que até tinha marcado o nosso golo (e que golo) e está mais do que habituado a jogar ao lado de Slimani? Questionável, no mínimo.

E se a todos estes pormenores podemos e devemos juntar outros, como a quantidade de cruzamentos patéticos, os erros infantis que resultaram nos três golos sofridos ou aquela miséria de relvado que se torna confrangedor, há uma questão que me preocupa mais do que todas as outras: a quebra exibicional que a equipa vem apresentando. Das entusiasmantes exibições frente a Roma, Benfica ou CSKA (em casa), passando pelos vendavais ofensivos contra Tondela ou Académica, passámos para uma equipa com muito menos chama e muito menos ideias. Uma equipa que tem a bola, mas que mostra dificuldades em transformar essa posse em várias oportunidades de golo (a melhor terá sido a cabeçada de Paulo Oliveira, ainda na primeira parte, certo?). E que tem vindo a diminuir a intensidade com que entra nas partidas. Sim, é verdade que, ontem, existiram várias mexidas e que isso pode ajudar a explicar a noite desastrada, mas não é menos verdade que os vários indícios aconselham a um olhar atento ao jogo marcado para segunda-feira à noite, frente ao Nacional, em Alvalade.

E esse olhar atento exigirá ser compensado com uma boa resposta, principalmente depois de um discurso do treinador que como que colocou de lado o interesse em jogar as competições europeias. Se as várias lacunas e o facto de estarmos perante uma equipa em formação (por mais que Jesus diga que este plantel é formado por jogadores que rapidamente assimilaram o que ele pretende), aconselhavam a alguma cautela no assumir-nos como candidatos a vencer a Liga Europa mantendo o campeonato como prioridade, a postura que praticamente descartou a primeira e apontou todas as baterias às conquistar internas pede uma resposta cabal frente aos madeirenses.