gelsonSe há algo de bom que o caso Carrillo nos trouxe é a oportunidade de vermos o seu substituto ter mais tempo de jogo. E para já, o substituto do peruano chama-se Gelson Martins.

O cabo-verdiano é um talento puro, como tantos que formamos na nossa Academia. Um jovem que precisa de ser trabalhado para atingir o nível que todos esperamos que vai atingir. A grande questão é se ele está preparado para ser titular de uma equipa que quer ser campeã. Tem de estar. Se lhe reconhecemos um grande talento e se ele demonstra vontade de aprender, não faz sentido colocarmos dúvidas sobre a sua “preparação”. Uma coisa é ele ser decisivo hoje a ponto de substituir o Carrillo com o mesmo rendimento do peruano e isso já sabemos que vai levar o seu tempo. Outra coisa é acharmos que ele não está preparado, que vai tremer ou vai errar mais vezes que o expectável. Não é o caso. Gelson é daqueles jogadores que não têm medo de nada e que dificilmente alteram seu estilo de jogo se as coisas não lhe sairem bem. Essa é a marca de água dos craques. Por outro lado, a percentagem de sucesso das suas acções individuais demonstram que é difícil para qualquer defesa parar o nosso menino. O que lhe falta é ter o discernimento para conseguir dar a sequência ideal para as jogadas que produz. O seu instinto dir-lhe-à sempre para ir driblando tudo e todos até descobrir o caminho para uma assistência ou para um golo. E faz todo o sentido fomentar e alimentar esse instinto. Porém, se ele não quiser que lhe colem rapidamente o rótulo de jogador inconsequente ou pouco objectivo, terá de ir descobrindo, em cada jogada, outro tipo de soluções que lhe são contra natura como soltar de primeira, jogar a 1/2 toques, respeitar as movimentações dos companheiros, por aí fora. E já levou uma espécie de “aviso” do treinador que disse que ainda lhe falta aprender a jogar com os companheiros. É e será sempre esse o desafio dos grandes dribladores como é o Gelson e como era Quaresma, Ronaldo ou Nani.

Nem tudo são “arestas para limar”. Gelson Martins já é um jogador muito evoluído noutros aspectos do jogo como a intensidade e o trabalho sem bola. E isso é sempre um bom ponto de partida para se passar de “jovem talento” a “profissional de futebol”. Mesmo que ele não atinja todo o potencial que promete, será sempre um jogador competitivo e terá sempre uma boa carreira. Mas o que nós queremos é que ele demonstre que pode ser o digno sucessor dos monstros que referi acima. Talento para isso, tem. Humildade, também parece ter. Vamos ver como será a sua ambição e a sua capacidade de aprendizagem.

Os primeiros sinais deixam-nos com água na boca. Mesmo não tendo sido directamente decisivo em nenhum jogo já deixou antever que colocará a cabeça em água a qualquer lateral da nossa Liga. Já esteve perto de marcar por duas vezes, em dois lances onde a finalização sai rente ao poste (um deles após pormenor delicioso). Já ajudou a dar 3 pontos ao sofrer o penalty em Aveiro e já fez um par de cruzamentos para golo não concretizados pelos companheiros. Nada mau para quem acabou de ser promovido.

Há outro dado que indica que Gelson é um miúdo que aprende rápido e que está sempre disponível. Na equipa B já jogou tanto nas alas como no centro e até já foi lateral direito! Só alguém com um entendimento superior do jogo é que lhe é dada a confiança de desempenhar funções tão diferentes entre si. Ainda estou para perceber qual será o lugar onde poderá render mais, se na esquerda, na direita ou no meio. Neste momento e tendo em conta as necessidades da equipa, é na direita que vai começar formando com Ricardo Esgaio uma ala direita made in Sporting. Vai ser interessante perceber como se vai conjugar a inteligência de Esgaio com a velocidade e imprevisibilidade de Gelson. Acho que temos aqui uma combinação que tem tudo para resultar.

Uma última palavra agradecimento para Jorge Jesus que é o “padrinho” desta aposta. Seria muito fácil fazer outra opção. O Mestre viu o rapaz, acreditou nele e agora, por força das circunstâncias, é o titular. Que seja o início de mais uma bela história. Tem a palavra Gelson Martins, a nossa pérola africana.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!