Estamos todos num barco. Existem ramos para todos e a embarcação segue tão pesada que precisa que, pelo menos, 75% tenham mesmo de remar. O problema é que mais de 25% não concordam com o rumo a seguir. Desta percentagem, uns desconfiam da competência do capitão, outros querem mudar de capitão para seu próprio benefício e existem ainda os que gostam de ser contra todos os capitães. Mas este quarto de “embarcados” não se manifesta publicamente para que todos oiçam as suas razões. Trocam murmúrios e espalham rumores em pequenos grupos, partilham suspiros. Sempre que podem não remam, fingem, dormem, hibernam, fazem tudo para não jogar mãos ao trabalho.

O barco move-se, a custo, mas move-se. Quando o tempo e as correntes ajudam todos remam felizes e ninguém parece duvidar que se chegará ao destino, mas chegando a tempestade, saltam as conspirações, as profecias de desgraça, os lamentos sobre a maldição que se reflete na dita e desdita loucura do capitão. Não deixa de ser paradoxo que é na pior altura, no cenário mais adverso, em que mais deviam remar para manter o rumo e evitar a deriva, que menos o fazem…preferindo afiar o gume da língua e polir o lustro à arte de demover outros de remar também.

O objetivo final nunca foi, nem nunca será definir um novo rumo, um novo capitão ou sequer tomar o barco por motim. Não há objetivo. Mas há desdém, arrogância, hedonismo e elitismo suficientes para alimentar um exército inesgotável de razões para “queimar em lume brando” a crença e optimismo no rumo traçado. Para mais a sua “missão” está bem facilitada, este navio navega há anos sem ver terra firme e qualquer prova de rumo certo se questiona nas primeiras nuvens cinzentas. A confiança de estar no bom caminho é acusada de miragem e engodo. A tenacidade com que se maneja o remo é seguidismo rural. Confunde-se barco com capitão e rumo com destino. A bússola ainda indica o norte, mas ouvem-se trovões no horizonte.

A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar
Sun Tzu

Este barco chama-se Sporting.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca