Não sou, por natureza, alguém que acredite que todos os campos do nosso futebol estão corrompidos, nem sou daquelas pessoas que atribui um erro de um árbitro à pressão de beneficiar este ou outro clube. Chame-se inocência, ou ingenuidade, não sou capaz de acompanhar um desporto que julgue estar viciado desde a primeira jornada. Considero a arbitragem  uma profissão de risco, em constante esmiuçar e que, tendo em conta todas estas questões, é bem paga a todos os que se atrevem a desempenhar a mesma. Não gosto, nem nunca gostarei, de ouvir em todos os estádios deste país uma onda assobios ao nome do Juiz da partida sem ainda se ter dado, sequer, o apito inicial. É uma questão cultural, que nunca vai mudar, mas que me desagrada profundamente e que nos retira a oportunidade de julgar um profissional pelo seu desempenho em campo. Não me considero injusta nem facciosa a analisar lances do Sporting ou dos seus rivais. O que é penalty é penalty, o que é expulsão é expulsão e o que é fora-de-jogo não deixa de o ser só porque “é muito difícil de ajuizar”.

O Sporting foi beneficiado num lance que ditou a sua última vitória, é a realidade. Mas que não esconde o facto de cinco minutos antes um penalty claro não ter sido assinalado, nem um fora de jogo mal tirado a Teo que o deixaria isolado (apesar dos paineleiros insistirem em dizer que foi falta, quando o fiscal assinala fora-de-jogo, ao menos saibam o que comentam). E, acreditem ou não, incomoda-me ganhar assim porque sei que o primeiro alvo é e será sempre o Presidente Bruno de Carvalho.

O benefício do último jogo também não esconde a vergonha de Coimbra, nem o golo ilegal do Rio Ave. Muito menos o penalty não assinalado no Bessa, que nos colocaria agora a quatro pontos do segundo classificado. É verdade que temos sofrido as consequências de arbitragens distraídas mas, em todas as situações, o Sporting na voz do sue treinador assumiu as despesas do golo sofrido ou dos pontos perdidos, nunca atribuindo exclusivamente a culpa a quem ajuíza a partida. Se um erro não justifica outro a incompetência constante acaba por justificar alguma desconfiança.

Hoje, o Sporting e os seus altos dirigentes são investigados por condutas pouco próprias e os árbitros ameaçam mesmo o boicote a jogos do clube que mais prejudicaram esta época tudo, porque, não podem nem devem ser criticados publicamente. Estou cansada de polémicas entre a arbitragem e o Sporting, mas ainda mais cansada da constante postura de vítima de quem tem, urgentemente, de começar a assumir que pode ser melhor, que deve ser melhor e que deve ouvir propostas que facilitem o seu trabalho.

O erro humano faz parte do jogo, claro que sim. Os jogadores falham golos, os defesas falham cortes os guarda-redes dão frangos. Mas esses são os únicos factores em que a mão humana pode ter interferência constante e que provam que umas equipas são melhores que outras ao longo de mais de trinta jornadas. Não é saudável para o futebol português esta constante falta de responsabilização, este constante desculpar do indesculpável e esta vitimização de uma classe que tem sido protegida apesar dos constantes escândalos em que já se viu envolvida.

Hoje, investiga-se Jorge Jesus pelo que disse, não pelo conteúdo do que disse. É mais importante perceber a pressão que fez sobre o quarto árbitro do que o facto de insinuar que o Benfica beneficiou de arbitragens corrompidas. Mas, o Sporting vai beneficiando da estratégia, dizem eles. Porque somou 3 pontos depois de um erro, porque supostamente foi benificiado na Luz, contra um dos benficas mais ridículos dos últimos anos. Nisto tudo, apenas Lopetegui pode continuar aos gritos com os árbitros, a criticar os erros constantes e até os minutos de compensação, em plena sala de imprensa. Só o Sporting se queixa com razão, só o Sporting quer sorteios, só o Sporting promove as novas tecnologias. Mas também é só o Sporting que merece ver os seus jogos boicotados e atrasados, apesar de querer, mais que defender-se a si, defender os árbitros e disfarçar o seu fraco treino e sua fraca preparação.

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa