Corria o ano de 2010. João Moutinho acabava de ser transferido para o Porto, culminando uma peça de teatro de terceira categoria com argumento de Pinto da Costa e contando com um protagonista de muito baixo nível. Nessa altura fui fraco e achei que já era demais. Deixei de ser sócio do Sporting Clube de Portugal e enviei uma carta aos dirigentes a exprimir o meu desagrado pela subalternização do clube.

Em 2011 e embora não podendo votar, acompanhei com um misto de curiosidade e receio pelo populismo que a sua candidatura parecia assumir, o aparecimento de Bruno de Carvalho. Ganhou o outro candidato também que não me parecia má opção, Godinho Lopes, até porque apostava num treinador que me parecia promissor (Domingos) e aparentemente pretendia reunir sportinguistas de várias tendências. Mas a noite eleitoral deixou-me um travo amargo de desconfiança : então a lista de Bruno de Carvalho para a Assembleia geral ganhara e na lista para presidente saíra derrotado ? Isto fazia sentido ? Não fazia. Alguns meses depois comecei a perceber, como quase todos nós, que andávamos sem rei nem roque e que íamos no mau caminho. Mas o pior estava para vir… na segunda época, rapidamente deixámos de ser candidatos ao título, fomos descendo na classificação, chegando a estar perto da linha de água e o abismo estava ali mesmo ao virar da esquina. O pior dos nossos pesadelos parecia possível. Rezei para que aquela miserável Direção fosse afastada. Até que o presidente da Assembleia geral convocou eleições que finalmente viriam a colocar Bruno de Carvalho na presidência… e se já na primeira vez,  estava muito expectante de que poderia ser o presidente de que precisávamos, agora sabia que era a última esperança que nos restava. E que meses iniciais terríveis que ele teve! O jogador mais promissor – Bruma – a querer sair a custo zero … manobrado por empresários sem escrúpulos, a banca inicialmente a ser inflexível e a parecer que não iria permitir o reerguer do Sporting, a necessidade de arranjar novo treinador e uma equipa competitiva neste contexto extremamente negativo, entre outros assuntos por resolver. A verdade é que não se saiu nada mal como todos sabemos. Devolveu-nos a esperança. 
Faz hoje cerca de um ano que descobri a Tasca. Já nem sei como cá vim parar. Estava-se num momento crítico , talvez o mais difícil desta Direção até à data. O nosso treinador de então, Marco Silva,  estava em rota de colisão com o presidente,  tendo ocorrido a intervenção de José Eduardo que na altura não ajudou a serenar os ânimos. O título no campeonato parecia uma miragem pela desvantagem pontual que já tínhamos e pela irregularidade que revelávamos quer nos resultados, quer nas exibições. Colocava-se tudo em causa, até a Direção, que na época anterior nos arrancara da beira do precipício. Por cá fui ficando,  comentando, lendo os excelentes textos e comentários que iam surgindo. Percebendo que existiam muitos como eu com quem partilhava opiniões, sofrimento e alegrias. Acabou a época com um misto de sofrimento e glória com a vitória na Taça de Portugal.

O treinador saiu, porque os conflitos eram insanáveis e fomos buscar o melhor treinador disponível mas que pouco tempo antes parecia inalcançável. E fizemo-lo exatamente à custa do Benfica que ficou atordoado com este nosso golpe (e que ainda não recuperou do choque). Conseguimos em todo este percurso, conservar os nossos melhores jogadores. Conquistámos a Supertaça, fomos afastados da fase de grupos da Champions depois de arbitragens vergonhosas, derrotámos o Benfica na Luz por 3-0 e não satisfeitos com isso, voltámos a repetir a dose algumas semanas depois, vencendo pela terceira vez na mesma época o nosso grande rival e afastando-o da Taça. Estivemos grande parte deste terço inicial do campeonato, na liderança da classificação.

Até que… há cerca de uma semana e depois de novo sorteio desfavorável (mais um…) tivemos de ir jogar a Braga para a Taça de Portugal. Num jogo muito bem disputado, fomos afastados, sendo novamente prejudicados pela arbitragem. Alguns dias depois, fomos à Madeira e sofremos a primeira derrota do campeonato, em que o nosso adversário marcou o seu único golo no primeiro ataque que fez à nossa baliza. Não fizemos uma grande exibição, mas construímos oportunidades suficientes para vencer. Ainda assim, perdemos…  E depois veio a sentença do caso Doyen que, tal como se esperava, nos foi desfavorável.

Então tudo se pareceu desmoronar. Começámos a pensar que estava tudo perdido. O escasso ponto a que estávamos do primeiro lugar parece que se transformou numa desvantagem inatingível. O facto de irmos receber o Porto, com um treinador que gosta de inventar e que apesar de uma fortuna gasta em jogadores, ainda não assinou uma exibição convincente e que há apenas poucas semanas parecia ir ser despedido depois de uma postura cobarde contra um periclitante Chelsea, parece aos sportinguistas um dos doze trabalhos de Hércules. E a forma como o presidente passa o tempo e as horas a que sai de uma discoteca, passa a ser um tópico fundamental de discussão para o futuro do clube. Os rivais exultam. A oposição interna clama por Assembleias Gerais e provavelmente nesta sequência, por eleições antecipadas. Esquece-se tudo o que foi feito de positivo e tudo o que correu menos bem atinge uma dimensão estratosférica.

Mas queremos mesmo ir por aí quando temos a nossa MAIOR OPORTUNIDADE EM ANOS DE PODERMOS SER CAMPEÕES? Queremos derrotar-nos a nós mesmos ou preferimos dar toda a força ao nosso clube? Este presidente tem defeitos e tem cometido erros? Obviamente que sim. Mas é com ele que temos a nossa maior chance de conseguir o que pretendemos e merecemos. Para isso, será melhor guardarmos as facas e sacarmos das bandeiras e dos cachecóis. E começa já (a sério, porque ainda há a Taça da Carica de permeio) com o jogo contra os fruteiros dia 2 de Janeiro. Porque como coloquei no título… é isso que realmente importa. Dar força ao melhor clube do mundo e ajudar a coloca-lo no primeiro lugar, onde sempre deve estar. Tudo o resto e nesta altura, é dar força a quem queremos derrotar.

Saudações leoninas e Boas Festas

 

ESCRITO POR Leoníssimo

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]