Há 3 anos por esta altura o Sporting – mais coisa menos coisa – estava a um ponto da linha de água. Godinho Lopes negociava um PER e havia jogadores a serem obrigatoriamente postos à venda para se pagarem ordenados. Antes disso, outro presidente – conduziu os destinos do clube numa sucessão de decisões desportivas falhadas.

Nada que tenha surpreendido alguns que desde cedo o preveriam, quando numa conferência de imprensa se despede o treinador Paulo Bento apresentando outro, mas deixando a ressalva que os sportinguistas iriam sentir a falta do primeiro. “E muito.” Uma forma de gerir no mínimo peculiar em que um supostamente valia mais do que a SAD (neste caso, clube). Acontece que bastou à direcção de Bruno de Carvalho (BDC) a escolha de dois treinadores diferentes (Leonardo Jardim e Marco Silva) nos primeiros dois anos para igualar e melhorar consequentemente os resultados do “insubstituível”. Com um orçamento e uma equipa equivalentes – a par de um futebol que não fazia adormecer quem ia a alvalade.

Mas se BDC herdou um clube falido com uma massa adepta resignada e conformada – também conheceu uma empresa sem qualquer tipo de cultura vitoriosa ou expansão e plano de engrandecimento da marca – que se tornava cada vez mais irrelevante, sobretudo quando comparada com o que havia sido nalgum tempo anterior.

Foi com um programa que prometia remar contra estas vicissitudes que se apresentou a eleições, perdendo primeiro (?) e ganhando depois, ficando o clube adiado durante dois penosos e quase fatais – anos. Logo no seguimento da reestruturação financeira que permitiu a sobrevivência, começou-se a acentuar uma mudança de mentalidade transposta para jogadores e assente numa contenção orçamental em toda a linha. Passados dois anos brilhantes, a desconfiança na experiência do outrora candidato, deu lugar a uma confiança pública que permitiu a contratação de Jesus e a subida de patamar do clube que alguns preconizavam com ela.

Surpreendentemente (ou não) este caminho – cuja realidade hoje permite aos jornalistas desportivos equiparar nas suas análises o Sporting ao Porto e Benfica – nunca foi tido em conta. No lugar dele e a mando de outros, procuraram sempre enaltecer a postura belicista e os excessos de linguagem.

Nas últimas semanas e conhecida a decisão preliminar prevista e transmitida aos sócios do Sporting, assistimos a um festejo público em prol de uma Doyen cujas operações são questionadas em várias frentes internacionalmente. Constatamos o ressurgimento de uma suposta crise na formação, para o enaltecimento de outra. Quando ao que parece, o líder do campeonato tem uma média de sete portugueses no seu onze e dois extremos com menos de 20 anos nos suplentes/titulares mais utilizados. Por onde aliás, dificilmente não passará o futuro da selecção. Consta também que lidera o campeonato de juniores por muitos pontos. Mas se o “super agente” em causa e proveito próprio diz o que diz, e até no Dubai se fabrica a mentira vezes sem conta, talvez se consiga também- fabricar outra verdade.

Tal como se procurou fabricar durante muitos dias o “extraordinário” contrato do Benfica (resultando na forma de uma cerimónia balofa) com a Nós, que afinal não é bem assim, e que uma vez conhecido o do vizinho da segunda circular, já levou o presidente das águias em menos de um mês a dizer, que se iria rever o do Benfica quanto antes. Assim se confirma o que sempre previ: o mérito de boa gestão com a premiação na negociação coube também aqui ao Sporting, que proporcionalmente – sobretudo quando constatado onde estava há três anos e o número de adeptos de um e outro – faz um contrato muito melhor.

Naturalmente BDC cometeu e cometerá erros. É importante que haja sentido crítico em alvalade para o futuro. Sempre. Mas é na sua ambição que reside a impossibilidade de um regresso ao estado apático, conduzido ao descalabro de ontem, personificado na direcção de Godinho Lopes. E por mais que uma imprensa desportiva “dependente” procure desvalorizar, foi tudo o que BDC e a sua direcção incutiram no Sporting em dois anos – com a sorte e engenho de um muito maior número de boas decisões do que más – que permitiu colocar o clube no lugar em que se encontra hoje com a contratação de Jesus.

Doa a quem doer esta é a história que não só deve, mas merece ser contada. Esta é a história de alguém que reergue um clube num tempo e em tempos que ninguém esperava. Os próximos capítulos vêem já a seguir…

texto assinado por Gonçalo R. Telles e publicado no jornal i