Há duas formas de olhar para a derrota da noite passada, em Portimão, que deixa o Sporting dependente de demasiados “ses” para continuar em prova na Taça da Liga: podemos entrar em depressão e vaticinar que estes dois últimos jogos são o princípio do fim; ou podemos mostrar desagrado por uma derrota perfeitamente evitável e onde o que mais incomoda acaba por ser a forma displicente como a equipa se apresentou para esta partida.

Entrar em depressão parece-me um claro exagero. Dizer que é tudo uma merda parece-me um abuso e começar a disparar em todas as direcções parece-me uma estupidez. O Sporting segue em primeiro no campeonato e é dono desse lugar por mérito próprio, tendo já mostrado por diversas vezes estofo suficiente para fazer-nos acreditar na conquista do tão desejado título. A Liga Europa será conversa a seu tempo e na Taça de Portugal perdemos num jogo onde não se pode apontar o dedo ao empenho dos jogadores e onde há dois golos mal anulados ao Sporting em pleno prolongamento. Quanto à Taça da Liga, conforme tive oportunidade de escrever acima, ficou dependente de demasiados ses e, neste momento, serve de arma de arremesso e de expiar de frustrações mesmo por parte daqueles que estão sempre a dizer que é uma prova que não conta.

A verdade é que nenhum de nós, Sportinguistas, gosta de ver o Sporting a perder nem que seja num jogo amigável. E a irritação resultante de um mau resultado aumenta se sentirmos que a equipa não fez tudo o que podia para ganhar o jogo. Foi o que aconteceu ontem e é isso que, desde logo, jogadores, equipa técnica e direcção devem ter em conta: a forma como a equipa entrou em campo frente ao Tondela e a forma como ontem, ao longo de vários minutos, a equipa esteve em campo, é uma falta de respeito para os quase 40 mil que estiveram em Alvalade numa sexta-feira à noite e é uma falta de respeito para os perto de cinco mil que lotaram o recinto portimonense numa noite de terça-feira onde a chuva não deu tréguas. Por muito que a Onda Verde seja algo natural e que, nos bons e nos maus momentos, tenha sempre dito “presente”, é fundamental que quem veste as nossas cores saiba alimentar esse entusiasmo e essa união dos adeptos.

Adeptos que, ontem, viram uma equipa completamente descaracterizada face à verdadeira revolução operada: um guarda-redes que pouco tem jogado; uma defesa que nunca havia jogado junta e com um lateral esquerdo em estreia total, um meio campo inédito e uma dupla de avançados raramente utilizada. Isto ajudará a explicar o pouco fio de jogo existente, pese as tentativas de Aquilani em colocar régua e esquadro na equipa, o empenho de Bruno César raramente acompanhado pelos restantes e a luta de Paulo Oliveira para tentar equilibrar uma defesa que não se articulava. Estes três, a espaços acompanhados por Montero e, mais tarde, pela vontade de Matheus, foram os jogadores que mais procuraram carregar a equipa rumo à vitória.

Mas se o pouco fio de jogo é compreensível, o ter menos vontade do que o adversário já não é. Perder quase todas as bolas divididas, não arrancar para dar linhas de passe, não compensar posições, perder jogadas em tentativas de toques artísticos… não dá. E, mesmo assim, chega-se ao final do jogo e percebe-se que as melhores oportunidades de golo foram do Sporting (os primeiros 20 minutos de ambas as partes oferecem oportunidades mais do que suficientes para ganhar o jogo, com bolas rentes ao poste, outras a embater nos postes e outras desperdiçadas por demasiada cerimónia na hora de rematar) e que esta é mesmo uma derrota por culpa própria. O penalti desperdiçado (com Aquilani, Montero ou João Mário em campo, porque raio marca William o penalti?) e a falta que resulta no segundo golo algarvio (patética, a abordagem ao lance feita por Boeck), acabam por resumir aquilo que foi a noite de ontem. Importam-se de não repetir?