Muito se tem falado de Comunicação em matéria de clubes grandes esta época. E fala-se normalmente do que não se percebe. A tão referida “estratégia de comunicação” é encarada pelos opinadores e demais jornalistas como um chapéu onde cabe toda e qualquer mensagem noticiosa ou matéria de opinião que advém dos responsáveis do clube, quer por discurso directo, quer como fonte anónima. É um erro.

Se há coisa que os grandes em Portugal não têm é “estratégia de comunicação”. Apesar de terem profissionais que têm algum currículo na matéria, a verdade é que estão tão perto de exibirem uma política definida e linear de comunicar como de serem clubes sem dívidas. Principalmente, a meu ver, porque:

1/ Não há regularidade nem sistematização do conteúdo;
2/ Os “tons” mudam sistematicamente e seguem os altos e baixos dos resultados;
3/ A estratégia para chegar ao “público” conta com demasiado ruído, entre fugas intencionais e leaks involuntários;
4/ Não há solidariedade, por vezes nem sequer alinhamento entre os “agentes” do mesmo clube;
5/ Ninguém ainda viu as vantagens de ter uma linha de Comunicação padronizada e sustentada na identidade do próprio clube.

A era de instituições com RP e Comunicação Interna e Externa inteligentes, cultas e orientadas para objectivos claros e identificáveis…está ainda muito longe dos nossos clubes de futebol. Sinceramente e apesar de andarem por lá muitos e bons profissionais da área…evolui-se muito desde o surgimento das SADs, mas só superficialmente, em termos de cultura empresarial e especialmente comportamental vivemos ainda nos “loucos” anos 80s.

O Porto vive num cofre fechado, transparência zero, uma verdadeira câmara ardente de segredos, pactos de silêncio acrílicos. À volta desta cintura de poder gravita ainda uma 2ª linha de “nobreza” mais operacional mas também menos capaz de “criar” comunicação e ansiosa pelos “ditados” da 1ª. A informação e comunicação no Porto é uma caixa de muitas ressonâncias, plena de eco, que tende a repetir até à exaustão aquilo que o Presidente diz, ou o que a 2ª linha entende que queria dizer.

O Carnide é uma imitação asiática do modelo do Porto. É paradoxalmente uma cópia desactualizada do modelo portista dos tardios 80s e fulgurantes 90s, mas que introduziu alguns conceitos corporate. Resultado…é um transgender comunicacional. Um ditador que distorçe e afunila a comunicação, mas que a deseja moderna e elegante. Uma coisa é bastante óbvia, há dois níveis de comunicação: o primeiro é oficial, é feito pelos responsáveis do clube em viva voz e absolutamente orientado para uma responsabilidade objectiva….ou seja arco-íris, póneis e gatinhos; a segunda é composta por ex-dirigentes, ex-jogadores e paineleiros e o estilo é mais peixeirada, insulto, intoxicação e desinformação. Ninguém se engane, vem tudo do mesmo lado e é tudo muito bem orquestrado. Não deixa de ser é uma enorme salada de fruta, transgender.

O Sporting…pois…por mais que ouça o nosso Presidente falar em objectividade e resultados, eficácia e estratégia na Comunicação do clube, o que vejo mais é a sua própria figura…enorme e constante, tão larga que tapa o sol, a lua, e coloca todos os outros na numa sombra gelada. Esta verdadeira bandeira humana de BdC é tão generosa como absolutamente reactiva, ocasionalmente desfocada, sim…com objectivos definidos, mas quando são tantos e tão abrangentes, a comunicação do clube, ou seja BdC, torna-se um tsunami de 20 metros que varre a costa sistematicamente, que não distingue prioridades, nem reconhece etapas. A linha de comunicação de um clube não pode ser só imediata, atirar em quem deve ser atingido sem se esconder das balas de resposta. Andar de peito feito a exibir coragem pode até vencer os inimigos pelo cansaço e ser fácil de gabar…mas não é minimamente estratégica e neste jogo de xadrez de pequenas conquistas…é a forma mais rápida de ficar sem rumo ou…”estratégia”.
Quero ser o mais honesto possível nesta matéria, adoro o nosso presidente, mas sei que quando passar ao nivel 2 e orientar-se mais por objectivos a médio longo prazo, desprezando a actualidade e a “feira” diária das pequenas escaramuças…irá atingir sucesso com menos desgaste e muito menos “baixas” involuntárias.

Que é dos presidentes mais energéticos, corajosos, argutos e estóicos que já tivemos…é. Mas Bruno de Carvalho, ainda é (e desconfio que o irá ser até ter uns títulos na carteira) um pesadelo anti-estratégia de Comunicação.
Ainda assim, vejo neste Sporting uma capacidade que nenhum dos rivais possui. Até ver é a instituição mais próxima dos adeptos, que lhes dá espaço e que os entende como maior património. O centro são os sócios, não os objectivos feudais dos bolsos da direcção. Isso é um dos maiores objectivos da Comunicação e todas as estratégias para aí devem ser orientadas. Que o sucesso ou a falta dele nunca faça BdC e restante direcção esquecer da frase que os elegeram – “O Sporting somos nós”. Enquanto assim for, o facebook panzer do Presidente e furtividade da caça de Octávio e Inácio serão mais ou menos bem aceites pela maioria dos adeptos.

Agora, por favor, não me falem de política de Comunicação nos grandes clubes, citando o nosso treinador (esse sim nada “nabo” na matéria): “eiss não iziste”.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca