Há coisa de dois dias li este texto e resolvi guardá-lo para destacá-lo num dia onde a leitura tende a ter mais margem. O texto foi escrito por Pedro Miguel Silva, no Bola na Rede, e diz-nos o seguinte:

Cala-te, Sporting! Deixa-te de te armar em Calimero…

Era uma vez um clube que não ganhava um campeonato há mais de uma década e que ia rumo ao abismo financeiro. Um dia, apareceu um Ogre Presidente, muito feio e muito mau, que não se calava… Ele falava, falava, falava e, no meio dos perdigotos que ia mandando, soltava muitas verdades no seu discurso. O clube, que não estava habituado a ter um Ogre Presidente do Povo, ao início estranhou e começou a pedir que o seu líder se calasse, porque lhe faltava alguma habilidade no discurso. Mas o Ogre Presidente não se calou… E começou a fazer coisas… A resolver problemas financeiros, problemas estruturais, dar condições ao clube para evoluir em diferentes modalidades, criar um ambiente e uma vontade de vitória à volta do clube! Mas o Presidente Ogre do Povo não se calava. Fazia questão de meter o dedo na ferida e não se coibia de apontar o dedo a situações menos claras no futebol português.

Ele parecia o D. Quixote a querer lutar contra moinhos de vento… Só que os Moinhos de Vento eram os membros do Clero e da Nobreza que estavam instalados confortavelmente no poder e não o queriam abandonar de forma alguma.

Um dia, para pasmo do Povo, o Presidente Ogre foi ao outro lado da rua e aproveitou os “restos” que os Nobres fartos e ricos não queriam… “Roubou” o (agora) líder fraco do balneário adversário e fez com que milhões de adeptos acreditassem no seu novo Profeta e o seguissem para todo o lado.

Os nobres, furiosos com tal audácia e com tal afronta ao seu poder, não tardaram a planear a sua vingança e a tentar a todo o custo aniquilar o Presidente Ogre do Povo.

Foram roubos de equipas de ciclismo, foram roubos nas arbitragens, foram sumaríssimos que tinham uma dualidade de critérios tremenda, foram expulsões constantes a quem incomoda o sistema, foram árbitros que tomavam uma decisão, mas no dia seguinte vinham retratar-se, foram negócios com outros clubes e outros Ogres Presidentes que recusavam fazer negócios com os leões em prol de amizades com outros membros do poder já instalados.

E eis que, então, o Clero da Nação decide fazer a vingança final e servi-la num prato frio: “roubar” um jogador e a meio da época anunciá-lo como reforço. Seria o dois em um, roubar uma “estrela” e desestabilizar o trabalho realizado até então do Presidente Ogre, fazendo parecer que ele é mentiroso e que não consegue resolver problemas… A questão é que, para existir vingança, essa “vedeta” precisava de ser idolatrada em Alvalade, coisa que não acontece faz tempo. O plano maquiavélico falhou!

E eis que o Clero, frustrado e assustado com o poderio do Presidente Ogre, decide continuar o seu ataque: “Cala-te, Sporting. Deixem-se de se armar em Calimeros!”… Efectivamente o Sporting queixa-se demais. Queixa-se da justiça desportiva, queixa-se da transparência, queixa-se da verdade.

Independentemente das leis em vigor e da realidade do futebol em Portugal, fico contente com esta luta contra Moinhos de Vento. Sim, certos membros da nobreza e do Clero aproveitam-se dela… Sim, o Presidente Ogre devia calar-se e fazer o que os outros fazem; promover a corrupção camuflada, as mentiras e falsidades desportivas… E aí, sim, teríamos o final de todas as histórias de encantar: com tamanhas artimanhas, o Presidente Ogre fez com que a Nação verde-e-branca vivesse feliz para sempre…

Chamem-me o que quiserem, mas… Presidente, não te cales! Nunca, contra tudo e contra todos, com um melhor ou pior discurso, com mais ou menos coração e mais ou menos razão, deixes que o Sporting se cale. Estou farto, farto de que quem já beneficia há tantos anos de um sistema corrupto e desvirtuado e se aproveita de algumas leis já caducas para continuar no poleiro. O nosso problema foi durante anos termos o síndrome do “não somos tão fortes como eles”! Somos! Somos mais fortes que eles… Durante anos nada ganhámos e continuamos de pé! Continuamos mais fortes que nunca e agora, com um Jesus motivador, com mais vontade de ganhar que nunca!

Presidente, entende-te com o Jesus e trabalha na tua área, que nas quatro linhas ele vai fazer o seu papel. Quem tem esta vontade de ganhar mais cedo ou mais tarde vai estar condenado ao sucesso! Bolas, quero ganhar! Portanto não te cales, não te cales NUNCA! Porque tu e eu p’lo nosso amor somos doentes!

 

Este “não te cales, Presidente!”, fazia todo o sentido e é, também, aquilo que defendo. A questão, parece-me, é a forma como a mensagem é passada. E é aí que entra o Facebook, com um total soltar de amarras institucionais e uma quase total ausência de controlo da linguagem. Estava eu a pensar escrever sobre isso quando sou brindado com um post do Mestre de Cerimónias, no Artista do Dia, e o que posso dizer é que a minha opinião tende a juntar-se à dele. E, acreditem, incomoda-me que esta exposição e este desgaste de imagem contribuam para dar trunfos a quem, bem falante na tv, vai preparando cenários para as próximas eleições.

 

Bruno de Carvalho e o Facebook

Não me incomoda absolutamente nada que Bruno de Carvalho tenha intervenções públicas com tanta frequência. Tem bons motivos para o fazer (hei-de escrever sobre isso em breve) e, regra geral, é eficaz a fazer passar a mensagem que pretende.
Percebo que utilize o Facebook como meio de comunicação privilegiado (bem-vindos a 2016!), e compreendo também que sinta necessidade de, por vezes, atacar de forma ácida aqueles que tentam colocar em causa a sua imagem ou a imagem do clube. Não duvido que é necessário possuir uma determinação tremenda para se aguentar uma campanha negativa ininterrupta como aquela que procura atingir Bruno de Carvalho desde que assumiu o cargo, não só na sua faceta de presidente do clube, mas também enquanto cidadão e homem de família.
No entanto, o estilo que por vezes emprega no seu discurso e nos seus textos é, efetivamente, discutível. Não gosto de ver o presidente do meu clube a insultar ou a fazer insinuações gratuitas a outros indivíduos ou instituições, mesmo que seja como resposta a um ataque dirigido a si ou ao Sporting. Se quer contra-atacar, devia fazê-lo preferencialmente com factos, da forma mais objetiva possível, e mantendo sempre o discurso dentro de certos limites de urbanidade.
Quando Bruno de Carvalho fala ou escreve, fá-lo em nome do clube e, em certa medida, em nome de todos os sportinguistas. Fazê-lo a partir da sua conta pessoal de Facebook não é atenuante, pois não é possível dissociar Bruno de Carvalho do cargo que ocupa. Ao fazer observações vulgares como “finalmente o peru pode ir às galinhas” ou “colocar um limão no traseiro da galinha”, Bruno de Carvalho, a meu ver, perde a razão, para além de alimentar desnecessariamente o ódio ao clube. Não que me incomode o ódio dos rivais, entenda-se. Mas existindo esse ódio, que seja determinado pela frustração dos seus insucessos desportivos, e não por sentirem a sua dignidade atingida por declarações do presidente do Sporting.
Dos muitos sportinguistas com quem tive oportunidade de trocar impressões ao longo dos últimos tempos – de todas as idades e escalões sociais, com os mais diferentes percursos pessoais e profissionais -, sei que a maioria vê em Bruno de Carvalho material para ser o presidente de que o clube necessita para a próxima década – competente, inacreditavelmente determinado, criativo e, tão importante como as qualidades anteriores, com um amor ao clube acima de qualquer suspeita. Tem cometido vários erros, mas estranho seria que não os cometesse – atendendo à sua curta experiência como dirigente num mundo tão complexo como é o do futebol.
A comunicação é um aspeto onde Bruno de Carvalho pode e deve melhorar de imediato. Conforme referi no início deste texto, não coloco em causa a quantidade das intervenções, mas tem que melhorar ao nível da qualidade das mesmas. Bruno de Carvalho será tão melhor presidente quanto melhor for a sua capacidade de ir aprendendo com os erros, à medida que os vai cometendo. E, para isso, é fundamental que revele abertura para ouvir os conselhos daqueles que o rodeiam. É inútil fazer-se acompanhar de uma comitiva de yes-men incapazes de lhe apontar aquilo que tem que ser apontado. Se não souber escolher bem o seu núcleo-duro de conselheiros e se não lhes der ouvidos, então é bem provável que, a longo prazo, o maior inimigo de Bruno de Carvalho seja o próprio Bruno de Carvalho.