Quando se olha para o placard final a eliminatória e se vê 4-1, fica-se com ideia que esta foi uma eliminatória sem muito para contar. Mas o que aconteceu é, precisamente, o contrário, nomeadamente no jogo de ontem onde o Sporting mostrou claramente que, embora forte, competente, muito provavelmente o osso mais duro de roer que foi dado ao leão nestes sete meses de competição, este conjunto alemão não era barreira intransponível. E esse é, pelo menos para mim, o que deixa maior travo a fel, pois não consigo deixar de pensar que se foi possível mostrar que temos equipa para seguir em frente sem utilizar a equipa na sua máxima força, mais possível seria jogando com os habituais titulares.

Não o fizemos, nem em Alvalade, nem ontem, mas de uma semana para a outra formos, pelos menos, capazes de aprender com os nossos erros e com os erros dos outros. Assim se explica que, ontem, tenhamos sido capazes de sair, uma, duas, três, uma dúzia de vezes da pressão asfixiante, assim se explica que tenhamos tido uma mão cheia de bolas de golo, assim se explica que tenhamos pegado no jogo e colocado o adversário a duvidar de uma eliminatória que parecia resolvida.

Sim, os primeiros 15/20 minutos foram duros. A tal pressão dos alemães, o tal não ter tempo para pensar quando a bola chegava aos pés. Mas se há coisa que um tal de João Mário sabe fazer quando a redonda cola à pantufa, é pensar, e bem, o que fazer com ela. E o virtuoso médio depressa percebeu que o segredo estava em jogar ao segundo toque, quando não fosse ao primeiro, aproveitando a incapacidade dos alemães recuperarem rápido as posições defensivas e o facto de Kramer ser pau para toda a obra na cobertura das suas linhas mais atrasadas. Bruno César seguiu a ordem daquele que era o capitão sem braçadeira e a teia começou a montar-se. Aquilani era o homem invisível, William o gajo que jogava no limite para o bem e para o mal (e dizer que o rapaz fez mais um mau jogo é não perceber um tremoço de futebol). Nesta altura, o grande problema do Sporting… eram dois: Teo não percebia esta dinâmica do jogar à rabia com os alemães e perdia-se em movimento dengosos; Mané percebia a dinâmica toda, mas achava que, perto da baliza, não era preciso rematar.

E a diferença esteve toda aí. Porque o raio do Bellarabi, em contra ataque, resolveu rematar e foi brindado com um golo que tanto podia ser como não ser. A bola que bate no pé do Rui e lhe passa por baixo das pernas, tanto podia passar como sair desviada, mas acaba por entrar porque alguém decidiu… rematar. 1-0, alemães a sorrir, aqueles enormes dois mil Leões na bancada a continuarem a rugir tão alto que só se ouvia a sua voz. E eu, tal como eles, cá ao longe, a dizer a mim mesmo “basta um golo”. Bruno César tinha chutado, Teo e Mané tinham desperdiçado, João Pereira tinha subido e definido a preceito uma bela jogada, colocando a bola no pé de Mané. Novo falhanço, mas, desta vez, João Mário está lá para a recarga. E os alemães tremem. Duvidam de si mesmos.

Tanto duvidam que a segunda parte começa como se dois pugilistas estivessem a estudar-se, como medo de um golpe que os deixe KO. E a propósito de golpes, é impossível não falar a agressão de Wendell a Bruno César. O árbitro não viu, o auxiliar e o quarto árbitro não quiseram ver. O que aconteceria a partir desse vermelho que devia ter sido mostrado, não sei, mas sei que, por esta altura, o Sporting já tinha subido as suas linhas e era ele quem pressionava alto e dominava o jogo. Jesus preparava o lançamento de Ruiz e de Slimani e não havia leverkusiano que ousasse afirmar que a sua equipa continuaria em prova.

Acontece que o tal do Bellarabi foi por ali fora e aproveitou a passividade do nosso meio-campo e da defesa para largar uma bomba cruzada que só parou no fundo da baliza. Lá está, rematou. E, agora, o Sporting passava a ter que marcar dois golos para seguir em frente. Castigo demasiado pesado para o que a equipa vinha fazendo e que, ainda assim, foi capaz de desenhar uma das mais belas jogadas do encontro: Aquilani, Ruiz e João Mário accionaram o carrossel, Jefferson acelerou pela esquerda e cruzou com regra e esquadro para Slimani, mas o redes adversário fez aquilo que poucos redes fazem, saindo à entrada da área para bloquear aquele que parecia ser o golo do empate e que daria nova vida ao Leão.

Não deu e já com um central a fazer de trinco e a fechar o meio-campo, o Bayer foi estancando o futebol leonino e nem a entrada de Gelson foi capaz de arribar um estado de alma que ia ficando cada vez mais descrente. O terceiro golo, mais um grande golo, dá ao placard um colorido que, quando se olha para o resultado final do jogo e da eliminatória, fica-se com ideia que este foi um confronto sem muito para contar. Mas o que aconteceu é, precisamente, o contrário, nomeadamente no jogo de ontem onde o Sporting mostrou claramente que, embora forte, competente, muito provavelmente o osso mais duro de roer que foi dado ao leão nestes sete meses de competição, este conjunto alemão não era barreira intransponível. E esse é, pelo menos para mim, o que deixa maior travo a fel, pois não consigo deixar de pensar que se foi possível mostrar que temos equipa para seguir em frente sem utilizar a equipa na sua máxima força, mais possível seria jogando com os habituais titulares.

p.s. – Que segunda-feira, em Guimarães, se prove que este amargo de boca valeu a pena e que os nossos rapazes chutem à baliza sempre que puderem.