A sombra não é um corpo. Não tem fisicalidade. Não tem cheiro, nem temperatura. Para ser visível precisa de um objecto. Para ter dimensão ou mover-se precisa que o objecto também se mova. A sombra depende de tudo o que o objecto é e faz para poder existir, para poder ser sombra.

Desde sempre a sombra tem uma conotação negativa. Está associada à dissimulação, a actos velados, à mentira e à sonegação de intenções. O contexto de preguiça, passividade ou subalternidade está ligado a “estar na sombra” ou “viver na sombra”. Seja qual for o ângulo, devemos evitar “as sombras”, os “assombramentos” ou as situações mais “sombrias” da vida.

Já todos entendemos que se está a desenhar uma “sombra” nas costas do mandato de Bruno de Carvalho. E não refiro oposição. Oposição não é um conceito “sombrio”, mas sim de confronto aberto. Oposição significa que existe algo contra qualquer coisa, para “fazer” oposição é preciso existir, ter corpo e mover-se, ter cheiro e voz. A “sombra” que falo não se pode chamar oposição, isso seria elogiar a cobardia de quem só fará “oposição” se isso lhe der jeito, se o adversário estiver fragilizado e se o gang parecer maior que o opositor já declarado.

Estas sombras não falam, mas espalham cartazes e panfletos. Não agem, mas jantam. Não se apresentam, mas são mencionados na imprensa. Porquê? Não estão convictos das suas ideias? Não estão convictos dos malefícios da presidência da BdC? Não estão convictos que o Sporting merece a sua voz de “oposição”? Não consigo responder a estas perguntas, ainda não falo “sombrês” e só me ocorre ainda mais uma questão, para mim determinante: Se nos mandam “acordar” para um Sporting em perigo, não seria porreiro conhecermos de onde vem o aviso para podermos todos aferir se é fidedigno? É que se um vegetariano me disser que devo evitar aquele talho específico ou se um muçulmano me aconselhar a não entrar naquela igreja específica…digamos que desconfiarei das boas intenções do “avisante”.

As sombras não falam, mas se ouvirem, escutem-me. Não é assim que ajudarão o clube, não é assim que vencerão eleições ou sequer conseguirão posicionar-se para tal. Enquanto não se definirem como independentes de murmúrios, de panfletos e outras acções anónimas, não serão mais que sombras deste presidente, não serão mais que letras mortas impressas em papel ou cartão. A cada notícia de jornal ou jantar cavam um fosso entre um possível debate de ideias e a vontade de o escutar. Saiam da sombra se são sportinguistas, falem, apresentem-se, digam o que são e ao que se propõem, larguem as manobras de “procurar de um nome forte” ou “escutar os sportinguistas”…quem é leão a sério não se escondeu para ter de ser procurado nem precisa de iniciar nenhum processo de escuta porque o faz tão naturalmente como respira. Saiam da sombra!

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca