A resposta a esta pergunta teve várias respostas ao longo da época. Se no início era um tímido “sim…”, a meio foi um convicto “claro!”, mas desde a derrota no derby passou a ser um esperançado “ainda é possível”. Existiram muitas razões para esta flutuação (sempre positiva) entre a probabilidade e a esperança de estar em Maio no Marquês. Rebobinando a cassete, lembro-me das reticências de muitos quanto ao que valeria a nossa equipa classificada em 3º nas mãos de Jorge Jesus.

Ficou claro nos primeiros jogos que a equipa estava algo diferente, para melhor. Mais concentrada, mais corajosa, com um jogo mais constante, muitas vezes a sufocar o adversário. A vitória na Luz, exibia ao país desportivo a diferença entre os dois (agora sim) candidatos. Os encarnados não superavam aquilo que parecia ser uma rede de equívocos, o Sporting é que parecia o campeão em título, calmo, pragmático e lutador.

O fosso alargou-se entre os rivais de Lisboa e o Porto acompanhava como podia o ritmo do Sporting. Com colinhos de apito, fundamentais, à mistura e uma imprensa cheia de “almofadas anímicas”, Rui Vitória e as hipóteses do Carnide de manter-se na luta pelo título foram sobrevivendo, agarrados a fios de nylon a uma esperança nada fácil de ser sustentada com factos reais.
O Sporting perderia no Funchal 3 pontos que marcariam uma viragem no seu destino. As dúvidas na capacidade da equipa leonina em manter-se eficiente e concentrada surgiriam ao mesmo tempo que crescia a indignação com as ajudas ao rival. E bem fundadas foram, pois o Sporting seria arduamente testado em muitas partidas, tendo apenas deixado 2 pontos caídos na desconcentração (provocada) e no desgaste imposto por tantas injustiças que tiveram como epílogo a recepção ao Tondela.

A chegada do derby era o momento ideal para vincar a supremacia nesta Liga. O Carnide havia perdido os 5 jogos grandes anteriores e estava ainda fresco de uma derrota com o Porto em casa. Tudo parecia anunciar a criação de um fosso de pontos entre o 1º e o 2º, que permitiria a JJ e a todos nós, gerir a Onda Verde no máximo da sua capacidade, no máximo da sua convicção. A equipa mereceu ganhar, mas perdeu. Os deuses não se curvaram perante o nosso talento e decidiram bafejar as sortes de uma equipa encarnada a jogar tão corajosamente como o Arouca. O empate com o Guimarães serviria apenas de complemento a uma narrativa de golos falhados e pontos fulcrais desperdiçados, uma estatística tão verificável como a forma debochada que os árbitros encontraram para disfarçar a incapacidade do Carnide em somar 3 pontos nos jogos do Minho.

O Carnide não perdeu pontos desde então. Nós também não. No Bessa foi na última jogada que se driblou mais uma vez um destino. Há qualquer coisa de improvável na forma como a equipa encarnada tem sobrevivido a tantas encruzilhadas e não deixa de ser igualmente espantoso que encontre sempre uma fuga miraculosa. Ou seja, ranço, do mais puro e benfiquista que pode existir. Mas para lá da vontade da Liga dos Amigos dos Vouchers “reservar” os destinos desta competição, são apenas 2 pontos nos separam, em caso de igualdade teremos vantagem, mas essa colagem estará ao nosso alcance?

Desde há uns meses assistimos aos poderes de adivinhação dos crónicos cronistas em antever perdas de pontos de inevitáveis no estádio do dragão e no municipal de Braga. Talvez os mesmos que davam a derrota dos portistas na Luz como segura, dizem-nos que será aí que JJ e BdC encontrarão a fonte de todos os desaires. Será mesmo assim? Não tem o Sporting apresentado argumentos para disputar os 3 pontos em ambos os jogos? Não terá até, pela necessidade e motivação mais “mecanismos” que lhe possibilitem a vitória que os seus opositores? Ninguém dirá que será fácil, mas impossível não é e a vontade de nos desmobilizar não deveria ter tanto acolhimento nas nossas hostes. Para ser campeão, por vezes tem de se provar esse mérito da forma mais épica possível, da forma mais árdua possível. Vencer esses dois adamastores não é uma proeza improvável, não seria pioneira. Pioneiro e improvável seria a “opinião especializada” conceber tal cenário, pois o conto que se conta esta época nunca verá mais ou aceitará menos do que a glória encarnada.

Se quisermos lutar contra o veneno paralisante deste “fado” cantado, comecem por desmontar sempre que possível e em qualquer situação a tragédia nortenha do Sporting. Não seremos (já não somos há alguns anos) aquele Sporting que perdia jogos antes de entrar em campo.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca