21 de Setembro de 2012. Depois de um início de época demasiado atribulado, demasiado confuso, já quase sem esperança nem motivação, arrasto-me até casa. A verdadeira casa. Era dia de receber o Basileia na única competição que nos poderia dar alento depois de afastados do título com apenas um mês de campeonato. No relvado uma equipa sem ideias, que falhava tudo o que não podia falhar, que parecia acertar sem querer, que não corria, que não suava e na bancada os suspiros de desespero e as palmas tímidas que acompanhavam os cânticos. Minutos depois de minutos depois de minuto. O frio era tanto que as vozes se calaram. As claques deixaram de se ouvir e as milhares de cadeiras vazias seriam a cada minuto cada vez mais.
Sento-me nas escadas a contemplar aquele 0-0 que não mais se alteraria. Foi ali, naquele momento. Foi aquele o dia mais triste do sportinguismo. Apenas sei que o foi porque o reconheci instantaneamente. “este é o momento mais triste do meu sportinguismo”. Não perdemos nenhum título naquele dia, e as más exibições acabariam por se tornar um hábito naqueles meses. Mas olhar para aquelas pessoas, aquele estádio despido, os miúdos com os seus pais a olhar para todo o espetáculo sem interesse, sem alegria, os do costume encostados contra o vidro da escada, impávidos, sem reacção. Uma apatia que me contagiou e uma tristeza que tornou Alvalade num local feio, cinzento, onde eu simplesmente não queria estar.
Alvalade é a minha casa. E a minha casa quer-se verde, viva e carregada de alegria. Em minha casa sofre-se por cada lance, grita-se por cada golo, aplaude-se a cada corte. Em minha casa encontram-se velhos amigos e conhecem-se novos. Em minha casa o nosso melhor companheiro é o desconhecido que nos abraça quando fazemos o impossível.
A minha casa tem a mística mais incompreensível que já testemunhei. Apaixona o estranho que nos visita, emociona as visitas do costume e emoldura alguns dos momentos da nossa vida. Porque a minha casa alberga um clube inexplicável, que se reinventa sempre que o tem de fazer, que vive da esperança de milhões, que consegue ter a balança completamente desequilibrada entre desilusões e conquistas, mas que continua a cativar, apaixonar e mover todos os que, como eu, enchem a nossa casa.
Que ninguém se cale jamais num 0-0, que a apatia se afaste para sempre e que o Sporting seja sempre o clube que ninguém consegue explicar, com os adeptos loucos que todos os outros querem ser. Todas as memórias que cada um de nós tem bem guardadas, boas ou más, de Alvalade, serão sempre o mais precioso e o que nos torna, afinal, sportinguistas.
Não consigo adivinhar se estaremos em festa me Maio, nem consigo apostar num desfecho para este campeonato digno de Hitchcock, mas sei que Sábado vou até casa, para estar com os meus. E que qual seja o final de tudo isto, estarei lá ano após ano, jogo após jogo, apaixonada pela onda verde, fascinada com a Curva Sul. E sei que provavelmente passarei a minha vida toda a tentar explicar o que é o verdadeiro sentimento da minha casa em erupção.
*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa
8 Abril, 2016 at 10:12
21 de Setembro de 2012.
Mais impressionante do que aquilo que mudou em 3 anos e meio, é a forma como alguns sportinguistas se dizem atualmente descontentes com o rumo do Clube.
É que, caramba, foi tudo há tão pouco tempo…
8 Abril, 2016 at 10:24
Extraordinário!
Parabéns Maria!
8 Abril, 2016 at 10:25
Ontem a ver a CM … Assisti ao primeiro episódio de uma longa série “muito obrigado Pinto da Costa”
A cena de arrancar o TM da mão da jornalista, atirando o ao chao, ao mesmo tempo que a chamava de puta para baixo e lhe tirava fotografias ameaçando que as iria passar na entrevista do Porto canal dessa noite…. É épica!
Melhor, só ele (pinto da costa) a mentir durante essa entrevista, dizendo que “só às 8 da noite lhe tinham informado das expulsões no seu quintal”, que tinham ocurrido às 3:30 da madrugada e o “jornalista” com ar de vendido ali a lavar a imagem do dono…. Nem foi capaz de lhe perguntar pela cena ocurrido com os colegas de profissão, muito menos pelas comissões do filho e ouviu impávidos às especulações e alucinações de que teriam sido jornalistas ou adeptos de outro clube a meter os cartazes na rua.
Esta queda vai ser muito dolorosa …. e eu não vou perder um único episódio.
Foram 30 anos a gozar com a nossa cara.
Agora quero ver em modo medieval à queima da bruxas!
🙂
8 Abril, 2016 at 11:33
Amanhã lá estaremos…e com o Estádio praticamente cheio que é assim que deve estar sempre!
Para melhorar só queria um relvado novo…
8 Abril, 2016 at 11:39
Das coisas que mais vezes me passam pela cabeça quando vejo hoje em dia as centrais aos saltos, de cachecol ao vento, alegria estampada nos rostos e crença e orgulho na alma…é o que passámos há tão pouco tempo e como essas mesmas centrais eram amorfas, conformadas e desiludidas. A Curva Sul (e a Norte durante anos) é e sempre foi o pulmão de Alvalade, mas as centrais sempre foram o espelho da sua alma. Acredito que tenham mudado algumas das pessoas que as frequentam actualmente (muitos croquettes saltaram fora após a entrada de BdC), mas a grande maioria mantém-se, eu próprio tenho amigos de toda a vida que continuam a ver os jogos no seu lugar de sempre…o que mudou foi o que sentem quando o Sporting joga!
Hoje vibra-se, hoje canta-se, hoje salta-se, hoje acredita-se…algo impossível de acontecer há pouco tempo atrás. Eu sei do que falo porque vi lá alguns jogos. Era deprimente. E fico-me por aqui.
E isto é uma das coisas mais importantes que esta Direcção e o nosso Presidente (re)conquistaram! O orgulho em ser do Sporting! A crença que sempre nos caracterizou durante anos de seca de títulos! A fé no nosso Sporting! A fidelidade a uma camisola listada de verde e branco, mesmo nos momentos menos bons! Isto não tem preço e vale mais que muitos títulos dos outros! Como diz (e bem) a hashtag: #elessabemlá! Nós…nós estamos sempre cá!
PS: Grandes pipis Maria Ribeiro!
SL
9 Abril, 2016 at 8:07
Que belo texto!
Lá estaremos logo à noite!