A exposição mediática (e voluntária diga-se) da figura do nosso presidente é algo que venho a discutir já há bastante tempo. Já o expressei no passado, e continuarei a fazê-lo, tem as suas virtudes e os seus defeitos. Desde logo parece genuína e fruto da própria personalidade, o que me parece muito relevante em qualquer análise, quer no início, quer no fim da reflexão. Não se tem “o” presidente que se quer, tem-se o presidente que é eleito e Bruno de Carvalho, antes de tudo mais é uma pessoa que transportará tudo o que é como ser humano para o cargo que ocupa. Se lhe gabamos a temeridade na luta, teremos de saber enquadrar quando uma escaramuça não é proveitosa ou oportuna. Mesmo o leão quando caça, nem sempre almoça.

Os tempos mais recentes exibem um Sporting cada vez mais perto do sucesso máximo – o título de campeão de futebol. Mas a cada passo, o clube e a liderança de BdC aproximam-se de um estilo também ele cada vez mais agressivo e polémico. Numa estratégia perfeitamente orientada, o Sporting está a tentar encontrar o seu espaço de afirmação à custa de uma guerra sem quartel com a máquina de comunicação do Benfica. Porquê? Não conseguiremos crescer olhando apenas para dentro de “casa”? Não conseguiremos melhorar, centrando o foco nas nossas qualidades? Não seremos capazes de enriquecer (em todos os sentidos do verbo) apenas à custa da valorização do que somos? O orgulho leva-nos a responder afirmativamente, mas a dura realidade do nosso futebol, país e cultura pode merecer uma resposta mais ponderada e bastante mais divergente do que gostaríamos de idealizar.

O Benfica é cada vez mais um “eucalipto” desportivo em Portugal. Seca contratos, mediatização, adeptos, justiça e equilíbrio no futebol português. A força de ter mais adeptos e principalmente de ter adeptos superiormente bem colocados, nos pontos mais nevrálgicos das decisões (diretas e indiretas) no futebol, faz com que se torne árdua a tarefa de outros emblemas em superiorizarem-se. O instinto de proteção de um espaço de ação natural já por si levará sempre a alguma resistência, mas Vieira e pares entenderam que por vias das dúvidas havia que assegurar que, neste caso, a nova direção do Sporting não evoluiria em terreno livre, mas sim sobre caminhos completamente minados. Quem se recordar do 1º ano de mandato de BdC lembrar-se-á dos elogios a que a equipa e presidência recolheu na opinião especializada. Enquanto a missão era “salvar o clube” as palmadinhas nas costas eram constantes e de todos os quadrantes. Assim que foi afirmada a vontade de querer mais do que o que já se tinha…os elogios passaram a críticas e os “admiradores” passaram a inimigos. É nesta altura porventura que a Direção do clube entende que para emergir superior aos rivais, um confronto seria inadiável.

Não estou seguro que a minha leitura seja unânime, tal como não sei sequer se quem a executa a entende como facto. Mas daqui do meu canto parece cada vez mais óbvia a “corrida às armas” no universo Sporting. Nem todos serão alistáveis, nem todos entenderão que a máquina vermelha seja possível de derrotar com recurso às mesmas armas, mas sei que todos querem fazer crescer o clube. A discussão centra-se cada vez mais no que o clube se pode transformar aos comandos de BdC e se isso é o melhor para o seu futuro. Ou seja, falando claro, queremos ir mesmo para a guerra…custe o que custar? É nestas hesitações, avanços e recuos que se encontra o final do mandato desta presidência. Bruno de Carvalho sabe que não pode ser um general sem tropas e nos próximos tempos irá testar muitos “operacionais” na lealdade à sua liderança. Uns passarão, outros falharão. Dependendo da visão que cada um tem do melhor para o clube e do que está disposto a contribuir, far-se-á uma seleção natural. A minha dúvida prende-se apenas com a objetividade no terreno de batalha. É que o nosso rival parece saber exatamente como anular a nossa estratégia (e tem-no feito). Sabemos nós, hoje, o que queremos e especialmente como queremos anular a deles? Sabemos nós, agora, qual o caminho a seguir para ajudar o clube a ser cada vez mais eficiente nas conquistas?

Todas estas perguntas podem ser respondidas, mas existe algo que parece uma questão inexistente, mas para mim é a primeira pergunta que deve ser feita e a primeira a saber responder. Queremos um clube “maior” ou um clube “melhor”? Espero que todos os que decidem os destinos do Sporting tenham isto na ponta da língua e não vale a pena dizer “ambas”. Muitas vezes são genuinamente soluções opostas. Muitos clubes mundiais tiveram de enfrentar este tipo de dilemas e as escolhas que fizeram levaram a vários resultados. Se o Sporting é nosso, também “nós” deveríamos responder a esta pergunta. Entre ganhar ocasionalmente e tentar a hegemonia, entre contornar o sistema ou combatê-lo, entre ignorar a podridão ou denunciá-la. Entre a escolha existe um espaço de hesitação e não compromisso. Qualquer opção acarretará consequências e este Sporting terá de dar lugar a outro, que pode ser mais ou menos fácil de apoiar, consoante a vontade de que seja factualmente diferente. Estaremos nós conscientes disso? Estaremos nós preparados para um novo Sporting powered by Bruno de Carvalho?

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca