O Barcelona tem, para mim, a melhor frente de ataque da história do futebol. Pode não ser a mais simpática, nem a mais humilde, nem mesmo a menos fiteira, mas é a melhor. São golos, atrás de golos, atrás golos. Suarez, Neymar e Messi juntam o talento individual a um entendimento quase perfeito, permitindo que entre os três somem mais golos e assistências que grande maioria das equipas da Primeira Liga. E, durante largos meses, estes três passearam por qualquer campo, espalharam magia e trouxeram quase sempre os três pontos. Cresceu o sentimento de que a equipa não era destrutível, que tudo o que tinham conquistado se iria repetir vezes e vezes sem conta, bastando para isso aparecer. Os três monstros ofensivos eram secundados por um meio-campo de luxo e por uma defesa poucas vezes testadas, para além de dois guarda-redes de grande nível.

Mas subitamente tudo isso muda, porque o futebol é um desporto onde o excesso de confiança anula qualquer táctica e onde o querer e a raça fazem milagres muitas vezes inexplicáveis. Nos últimos jogos da Liga o Barcelona emaptou com a Vilarreal, perdeu com o Real e com a Real Sociedad. O título, que parecia mais que entregue, está agora a ser disputado até à última, sendo que os gigantes catalães ainda vão receber o Valencia e deslocar-se até Sevilha.

O Sporting também sofreu com esse excesso de confiança. O Benfica estava a 9 pontos e parecia atirado para fora das contas. A Liga seria disputada com o Porto, que tinha um treinador evidentemente incompetente e uma tendência para falhar nos momentos importantes. A confiança instalou-se. O Slimani estava de pé quente, o Bryan e o João Mário deslumbravam, o Jefferson somava assistências e a defesa era a melhor em prova. Mas o Porto caiu mesmo, e o Benfica foi vencendo os seus jogos (alguns deles sabemos como), o Sporting oscilava entre várias vitórias consecutivas e empates parvos. Os rivais eternos foram-se aproximando, até à maldita ultrapassagem. E agora os papéis invertem-se.

Os adeptos encarnados pedem o 35, o treinador diz que treina uma equipa avassaladora, as goleadas seguidas criaram no Benfica um sentimento de igual invencibilidade e para comprovar isto basta vermos a forma arrogante com que se apresentaram em Coimbra e no Bessa, como se o relógio jogasse a seu favor. A maior arma do Sporting, nesta altura, é esse sentimento de conquista que caminha pelas hostes encarnadas.
São os cachecóis que dizem tricampeão, são os reservados no Marquês, é o Presidente que agora se lembra de inchar em praça pública e até a forma forçada como se tenta levar esta eliminatória contra o Bayern como uma das maiores conquistas do futebol português.

Tudo isto, não se falando claro daquilo que me parece óbvio: o Benfica joga mal fora de casa, o Benfica sofre a bom sofrer quando Jonas não inventa os espaços, o Benfica colocou numa criança de 18 a responsabilidade de segurar um meio-campo que me parece anárquico. E com isto não tiro mérito ao que Rui Vitória conseguiu fazer, nem o facto de ter percebido uma fórmula vencedora. Apenas sinto que neles se instala o clássico “vai acabar por entrar”.

Mais do que a força que os nossos rapazes mostram desde a derrota no derby, vencendo todos os seus jogos com enorme qualidade, é a soberba lampiã que joga a nossa favor a cada minuto que passa e a cada capa de jornal. Sejamos unidos, humildes e ganhadores. Claro que tudo é possível.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa