Não interessa qual o momento de forma das duas equipas, não interessa quem marca mais golos e quem tem o melhor treinador. Na paixão que move o Clássico, dentro de campo e nas bancadas, o vencedor é geralmente quem quer mais, quem não desiste e quem compreende que estão em causa muito mais do que 3 pontos.

A capacidade motivacional, para jogos como o de Sábado, é tão importante como a preparação das bolas paradas, das transições defesa- ataque ou que os posicionamentos.

Longe vai o Porto de Lopetegui, que chegou a Alvalade com um futebol assente na posse e em rasgos individuais dos artistas da frente, com os laterais subidos e os defesas centrais quase sempre mal colocados.

O Porto de hoje, de Peseiro, prescinde mais da bola mas ataca mais rápido, explora as costas da defesa, faz muito menos passes. Resultado? Marca mais golos, sofre muito mais.

Lopetegui estava a escorregar na luta pelo título quando foi despedido, é um facto, mas com ele à frente do Porto jamais o Arouca e o Tondela tinham ganho no Dragão. Da mesma forma que jamais o Porto teria ganho em pleno Estádio da Luz. Tudo o que é excelente em Peseiro, os golos, os contra-ataques, as jogadas ao primeiro toque, ainda não está plenamente incutido neste novo Porto, mas os princípios estão lá e muitos de nós recordamo-nos dos mesmos.

Os fruteiros jogam com o orgulho ferido, porque as expectativas criadas em todos aqueles jogadores cairam com estrondo à medida que as jornadas foram passando. Sabem que a luta pelo título só de deu realmente até Dezembro e a derrota em Alvalade ditou definitivamente o atraso que jamais viriam a recuperar.

Os fruteiros odeiam o Bruno de Carvalho e o Jesus, para além de não suportarem o estado em que se encontra a Torre do Dragão, que perdeu protagonismo nestes últimos três anos para ver o Sporting levantar mais títulos que eles. Os fruteiros pediam um Sporting forte, porque fazia falta à competitvidade do campeonato, mas começam a odiar o facto dessa competitividade não implicar que eles ganhem todos os anos, com qualquer treinador e qualquer plantel.

Os portistas sabem ganhar, e assumo sem qualquer problema que daria tudo para ver o Sporting levantar tantos troféus europeus e tantos campeonatos quanto eles, mas esqueceram-se que o futebol também é perder. E quando nos esquecemos que às vezes também perdemos, o vazio de títulos desorienta, as soluções são muitas vezes impulsivas e a fórmula repetida vezes sem conta até falhar de uma vez.

O investimento brutal dos últimos dois anos, principalmente, a escolha de jogadores do já conhecido catálogo Doyen, o aumento da folha salarial, as escolhas financeiras em prol das desportivas e a falta de verdadeiras referências no clube, formaram um cocktail não de sucesso mas sim de certezas bacocas: se ganhávamos a investir menos, a investir isto tudo só podemos ganhar. Mas para isso tem de ser um treinador, administradores sérios e jogadores que possam capitanear uma equipa.

Ao contrário de muitos, não desejo que nem Porto nem Benfica acabem. Eles dão toda a piada a este campeonato sujo. Ganhar-lhes é a alegria de um ano, ganhar duas vezes a de uma década. Saber que lhes podemos vencer títulos, que estamos à frente, que somos os bons e eles os maus, tudo isso alimenta a verdadeira essência do futebol e das rivalidades que elevam a grandiosidade de cada campenato.

Dá-me apenas gozo ver o estado de desorientação de um clube que corrompeu, enganou, aldrabou resultados e nos prejudicou vezes e vezes sem conta nas suas jogadas de bastidores.

Ver um portista falar da Doyen ou do caso dos fundos é para mim um dos melhores sketches de comédia a que posso ter acesso. Eles são os mesmos que fazem 100 milhões em vendas mas o dinheiro continua a desaparecer e os resultados a piorar, sem saber bem como. Eles são os mesmos que estão presos a agentes, comissões, catálogos e valores completamente surreais. Eles são os que justificam a presença dos fundos no clube de forma a tornar o clube mais competitivo, esquecendo-se que desde a mais agressiva presença da Doyen no Dragão, esses títulos desapareceram.

No Sábado só existe uma fórmula: ganhar. Porque somos melhores, porque somos diferentes, porque apoiamos a nossa equipa sempre e porque, ao contrário da frutaria, o título ainda está ao nosso alcance.

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa