Os clubes são pessoas. O Sporting são pessoas. Os seus dirigentes, os seus atletas e os seus adeptos são pessoas. As pessoas são o seu maior trunfo e simultaneamente o seu calcanhar de aquiles. A forma de tornar o clube cada vez mais eficiente e bem sucedido é fazer com que todas as pessoas que constroem o clube tenham a oportunidade de dar contribuições cada vez melhores. Mas para que isso seja possível existe um ingrediente que torna tudo muito mais fácil: a união.

A união estabelece um compromisso, as bases para concordar num caminho, a força de todos se concentrarem nas mesmas estratégias. Ao contrário do que penso existir actualmente no Sporting, esse compromisso é feito através do pressuposto de que o caminho desenhado e os instrumentos escolhidos para o fazer são os mais correctos. Não há união, nem liderança sem a aceitação que as mesmas resultam das melhores escolhas, as melhores políticas, as melhores pessoas. BdC assenta muito da governabilidade do clube na sua própria capacidade de liderança. O carisma advém de resultados, não o contrário. O carisma não se funda numa pessoa, mas na sua capacidade para motivar outras, para fazer com que as outras sejam cada vez melhores e vejam a ser também elas…carismáticas.

Ao contrário de alguns, não vejo Bruno de Carvalho como um produto acabado. Para o bem ou para o mal, o nosso Presidente é uma pessoa. É ainda jovem, com muita margem de progressão, com tremendas capacidades de liderança e uma entrega total e incondicional, bastante necessária a este Sporting. O problema é que ninguém lhe perdoa alguns defeitos, que sim…afectam a sua capacidade de diálogo e em alguns casos gerando forças contraproducentes. Mas o que escapa a estas pessoas é a compreensão de que toda a liderança acarreta erros e defeitos…e o diálogo é apenas uma das competências no meio de muitas outras.

Ao longo deste ano tem sido muitos os sinais de choque e trauma interno gerado pela intransigência do Presidente em aceitar visões do clube diferente da sua. O ego de Bruno de Carvalho começa a ser apontado como o travão maior à definição de um Sporting diferente…sendo que a diferença oscila de…pessoa para pessoa. De facto, acredito que este Presidente tenha uma incapacidade crónica em relacionar-se com pessoas que colocam os seus interesses (ou visões) acima da sua visão do que é o “interesse ou vantagem do clube”. Sendo que é o próprio BdC a definir para si próprio o que é o “interesse do Sporting” torna-se por vezes inevitável que a médio ou longo prazo, estas visões venham a colidir. É nesta matéria que peço (se por mero acaso venham a ler estas palavras) que compreendam todos (presidente, atletas, dirigentes e adeptos) que tanto é ineficaz a pressão presidencial para impor métodos e ideias, como a resistência dos restantes em aceitá-la como necessária. É nesta matéria que imagino o Sporting com mais caminho a percorrer – a união.

Não valorizo facebook´s pessoais, blogs e “círculos de amigos” ao ponto de imaginar que existe uma real oposição a esta Direcção. Não penso que ninguém que pense e se dedique ao clube queira neste momento “derrubar” as ideias fundamentais desta presidência. Mas tenho como certa a dificuldade de muita da inteligência sem “posição” dentro do clube…em aceitar a estratégia de agressividade e combate “até ao último pintelho”. Este ponto fracturante só é possível, como já escrevi antes, graças à ausência de diálogo das partes sobre esta questão. É como se as visões estratégicas de como deve estar, ser, comunicar e projectar o Sporting estivessem lentamente a divergir e não a convergir. Quer BdC queira ou não, este facto esvaziará de autoridade (que tanto valoriza…e bem) o seu espaço de acção e muito mais importante que isso…criará vazios de opinião nos adeptos que outras “forças” com pouca expressão podem vir a querer ocupar.

Ao contrário de muitas pessoas com quem já conversei sobre estes assuntos, não sou da opinião que “há temas que não podem ser debatidos”. Sejam mais melindrosos ou não (financiamento por terceiros, pactos com empresários, alianças pontuais e comerciais com alguns clubes, conquista de poder de influência na FPF, Liga e Arbitragem, concertação de opinião nas redes sociais e imprensa) todos os pontos em que assenta o futuro do clube pode e deve ser debatido, não há que ter medo das opiniões dos Sportinguistas, não que “fugir” do puritanismo utópico de uns, nem do fascismo “real politik” de outros. Ambas fazem parte do Sporting…e se “ele” é nosso…nada como debatê-lo. Não é debater a liderança nem a autoridade para tomar as decisões, não se trata de manietar ou desautorizar o espaço de BdC e restante direcção, mas sim de enriquecê-la e dar-lhe muito mais substância. Muitos dos mais recentes “opositores” pontuais da presidência não desejam poder nem cargos no Sporting, mas sim que o mesmo “escute” outras opiniões, dando abertura para que sejam avaliadas. Isto não tem de acontecer na tv, na rádio, num fórum ou em qualquer espaço formal. Todo este diálogo pode acontecer à mesa de um restaurante, num sofá de uma sala, num corredor do clube, a forma é muito mais importante que o formato.

O que não pode continuar a suceder é a repetição do eterno flagelo do Sporting: a “partidirização” do que é o “superior interesse do clube”. Este autêntico vírus congénito que acaba invariavelmente a criar “medições de Sportinguismo”, medições de capacidade e…autoridade. E sim, a ausência de títulos estimula o alastramento desta virose. Mas não devia. A cura é o debate, o escutar melhor para decidir melhor, o criticar no espaço e momento ideais, o entender que o egos são o que mais mina o sucesso das organizações…e que devemos sempre ter bem presente que o Sporting são as pessoas. Sem “nós”, nem “eles”. Somos todos pessoas. Se tivermos alguma inteligência, sentamo-nos à mesa…ou no chão e resolvemos as diferenças como boas e não como combustível para incendiar o lado “mau” do clube.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca