Tenho cá para mim, e não deverei ser o único, que os aniversários são boas ocasiões para fazer balanços. E, futebolísticamente falando, se esse aniversário coincidir com o arranque de uma nova época, melhor a ocasião para parar e pensar um pouco.

Ora, no rescaldo de uma época empolgante, mesmo que com um final frustrante, partimos para um defeso que tinha tudo para ser tranquilo. A base da equipa montada, a maioria das contratações já feita, as atenções viradas para a chegada de reforços à modalidades e o Euro a permitir “matar a fome de bola”. Mas a verdade é que , entre adeptos, a calmaria do defeso parece ter tido um efeito contrário. Ou, se preferirem, parece ter servido para aumentar a intolerância face a quem ousa discordar de algo que se passe no universo leonino.

Ao observar atentamente o que se vai passando, dou comigo a questionar se isto será uma espécie de resultado do que vivemos num passado recente. Aquele bater no fundo e as consequentes eleições que levaram ao fim do mandato de Godinho Lopes, parece estar demasiado vivo na mente de vários adeptos. Tão vivo que, hoje, muitos do que lutaram e ajudaram a colocar um ponto final na situação, vêem o seu Sportinguismo colocado em causa de cada vez que questionam alguma medida tomada (ainda não se encontrou uma palavra que substitua “croquete”, mas creio que não demorará muito).

Se questionas a forma como foi gerida a pasta do hóquei em patins, és mau Sportinguista. Se questionas a forma como se colocou um ponto final na equipa de basquetebol feminino, és mau Sportinguista. Se dizes discordar da forma como o presidente comunica no facebook, és mau Sportinguista. Se gostavas que o processo de profissionalização do rugby fosse gerido de outra forma, és mau Sportinguista. Se achas que devia existir uma gamebox sem jogos Champions, és mau Sportinguista. Se te faz confusão a forma como se anuncia e se processa a saída de João Benedito do clube, és mau Sportinguista. E, com tudo isto, a mensagem que se passa é “questionar para quê? Quem lá está sabe bem o que faz e só tens que apoiar!”.

Ora, caso ainda não tenham reparado, foi esse deixa andar que nos conduziu ao tal passado recente, quase traumático. Foi essa ausência de massa crítica que nos adormeceu e nos mergulhou no fundo do poço. E é por isso que vos digo que nada será pior do que uma estratégia de abafar opiniões diferentes, muito menos colocando essas opiniões diferentes numa prateleira de mau Sportinguismo ou de pessoas que estão contra a actual direcção. É um erro, um erro enorme.

Por isso, na semana em que as coisas começam realmente a sério para a época 16-17, aproveitem para esse “parar e pensar um pouco”.  Aproveitem para erradicar fantasmas, aproveitem para tentar perceber um pouco melhor aquela frase que parece estar tão na moda quando se aponta o dedo a quem questiona: “ninguém está acima do Sporting”. Sim, esta frase é correcta e deve nortear-nos sempre, ao invés de ser utilizada como arma de arremesso quando nos convém. Até porque, quando chegar a altura de apoiar, não poderão existir prateleiras de bons e de maus Sportinguistas. Terão que existir Sportinguistas. Longe, perto, no estádio, nos pavilhões ou no pedaço de mundo onde a vida os colocou. Será esse rugido conjunto que fará a diferença. Será esse abraço nos festejos que mostrará o quão idiota é esta promoção de clivagem. Será o arrepio que sentes quando escutas “o mundo sabe que”, que te fará ter vontade de correr rumo a nossa casa e te mostrará que, essa sim, é a altura de pensarmos todos da mesma forma.