Não sou, nem nunca serei, uma adepta de futebol que diz não ligar à selecção nacional. Chamem-me romântica ingénua, mas vibro com os jogos do meu país, esqueço conflitos, agentes ou federação. Esqueço clubes e jogadores que sempre odiei e passo duas horas colada em frente à televisão, entre cervejas e caracóis, amigos e família, entre tripeiros e lampiões e posso, por uma única vez num ano, abraçar o meu namorado enquanto comemoro um golo. É a nossa bandeira, o nosso país e as nossas cores que estão em jogo. É o cantar o hino é o saltar em cada golo de um mata-mata, sofrer de olhos fechados nos penalties e sofrer um AVC a cada defesa.

Ontem era uma portuguesa orgulhosa. Não que o futebol seja atrativo, não que o sorteio tenha sido complicado, mas porque mesmo tendo em conta tudo isto cumprimos a nossa obrigação e estaremos na final de Paris. Desta vez foi mesmo contra tudo e contra todos (3 penalties não assinalados nos últimos três jogos, imprensa internacional muito crítica, ex jogadores e treinadores com declarações nojentas). E ver jogadores tão comprometidos e solidários uns com os outros, que estão claramente com o seu treinador, e que se apoiam loucamente na sua força emocional deve deixar todos os portugueses completamente eufóricos com a possibilidade de ver Cristiano Ronaldo levantar o caneco.

Mas, mesmo tendo em conta tudo isto, hoje é o dia que terei de individualizar um pouco, pelas provas de superação que recebemos jogo após jogo. Os nossos quatro rapazes têm sido incríveis. João Mário, coitado, faz o que é suposto no meio daquela táctica com a classe do costume, William e Adrien trouxeram a intensidade e segurança ao meio campo, e o que dizer de Rui Patrício, senhores, que qualidade na nossa baliza, cada vez melhor e mais maduro.

Só que hoje falarei de outros dois incríveis atletas, que dignificaram a nossa camisola há não mais que um ano, que têm calado críticas, longe dos holofotes, e que oferecem à equipa nacional muito mais do que aqueles que tantas vezes são apontados aos seus lugares.

Luís Carlos, Nani para todos nós, é sempre, ou quase sempre, o patinho feio dispensável quando começa a fase final de uma grande competição. Compreensível? Nem por isso. Foi um dos melhores no Euro 2012, o único a quem podemos apontar prestações positivas no Mundial 2014 e, claro, uma das figuras deste Euro 2016, com 3 golos marcados e duas assistências. Nani tem-se sacrificado imenso em todos os jogos, oferece várias soluções de passe e, pasmem-se, cumpre melhor que ninguém a posição de ponta-de-lança, onde aparece muitas vezes como último homem. Nada contra Quaresma, nada contra Rafa, mas se existe alguém que muda um jogo, que o compreende, que oferece e marca, esse jogador é Nani. Tem emprestado a Portugal uma enorme regularidade, mas por algum motivo é sempre posto em causa. Foi importante em todos os jogos e só lhe posso desejar a sorte que merece ao serviço do Valência.

Cédric Soares, o melhor lateral direito português da actualidade, era até há um ano um jogador banal. Daqueles que não fazia capas, que era invenção dos lagartos, que dava mais casas que o Eliseu. Bastou um aninho na Premier League, onde foi dos mais bem cotados, para voltar como um qualquer D. Sebastião da zona defensiva. Mas para o seleccionador isso não chegava. Era preciso colocar um lateral adaptado, e mal adaptado, a ser desastroso para que o mundo todo compreende-se a necessidade de chamar Cédric. Cumpriu, tem crescido a cada jogo, tem sido o bom e confiável Cédric que todos os sportinguistas já conheciam. Velocidade, inteligência e uma intensidade incríveis, para além de um sentido de compromisso invejável.
Aos dois, o meu obrigada, e a certeza de que muitos leões estão a torcer pelo vosso sucesso, seja ele onde for.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa